Barista

Nossa homenagem para Erna Knutsen, criadora do termo Cafés Especiais

A norueguesa Erna Knutsen, criadora do termo Cafés Especiais, faleceu aos 97 anos no mês de junho. Em nossa homenagem para Erna, separamos um pouco da sua história, contada por Mariana Proença, na Coluna Barística.

Nascida na cidade de Bø, região no condado de Nordland, se mudou para Nova York (EUA) aos cinco anos com sua família. Erna seguiu boa parte da vida sem nem pensar em trabalhar com café. Somente por volta dos 40 anos assumiu o cargo de secretária de Bert Fullmer, na B. C. Ireland, uma empresa de importação de café em São Francisco.

Na década de 1970, Erna, já muito interessada no setor, recebeu do chefe a missão de cuidar de um pequeno nicho da empresa, pequenos lotes que não enchiam um contêiner e chegavam a no máximo 250 sacas. Apesar de serem quebras de outras importações, esses grãos de “sobra” eram de altíssima qualidade. Por causa disso, Erna passou a comercializá-los em microtorrefações da Costa da Califórnia que começavam a pipocar na região. A ideia deu muito certo.

O passo seguinte foi aprender a provar café. Uma função ainda muito masculina à época. Nas mesas de classificação, depois de muito treino, ela passou a chamar a atenção de torrefadores e compradores americanos. Sua reputação, construída com bastante persistência, atravessou continentes. Em 1974, em entrevista para o tradicional Tea & Coffee Trade Journal, Erna usou o termo “specialty coffee” para definir os cafés que trabalhava, para ela “diamantes”.

A definição batizou um movimento, que já começava nos Estados Unidos e na Europa, de cafés de qualidade, lotes menores com origem definida e que, depois de quase uma década, ganhou força e levou à criação da Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA), em 1982. Ela, participante de todo esse movimento, fundou em 1985 a própria empresa, a Knutsen Coffees.

Na última edição da Revista Espresso a barista e proprietária da cafeteria e torrefação Coffee Lab, Isabela Raposeiras, relembra um momento com Erna que destacamos aqui:

“Oslo, 2002. Uma senhora se aproxima e pede um cappuccino. Com a típica e tola pompa dos jovens que tentam esconder (de todos e de si mesmos) sua inexperiência, preparei a bebida e a levei a ela. Estávamos no estande da BSCA — sigla em inglês para Associação de Cafés Especiais do Brasil —, que já patrocinava o Campeonato Mundial de Barista havia dois anos e tinha organizado o Primeiro Campeonato Brasileiro de Barista a fim de ter um representante na terceira edição do evento internacional. A senhora se aproximou de mim, disse que havia tomado o melhor cappuccino de sua vida e saiu do estande. Alguém sussurrou no meu ouvido que se tratava de Erna Knutsen. Eu trabalhava com cafés fazia pouco mais de um ano e fui elogiada por aquela que em 1974 cunhara a expressão café especial para definir os grãos de melhor qualidade e com procedência conhecida. Mais importante ainda, naquele estande, numa feira internacional, eu testemunhava o encontro da história do café especial no mundo e no Brasil”.

TEXTO Redação • FOTO Roast Magazine

Deixe seu comentário