Barista

“A gente vai pra cima”

Da periferia de São Paulo, os irmãos Eraldo e Alex empreenderam na área do café, e hoje, há treze anos no mercado, têm suas cafeterias, coffee trucks e ainda auxiliam outros empresários do setor

“Somos sete irmãos em casa e, ao contrário de muitos, não nascemos embaixo de um pé de café.” Assim começa descontraída a nossa conversa com Eraldo e Alex Pereira Santos. A família, grande e vinda da cidade de Tremedal, no Sul da Bahia, encontrou no bairro de Grajaú, na periferia da cidade de São Paulo, o seu lugar para viver. O pai, mestre de obras, mudou-se para a capital paulista em busca de oportunidades. Aos poucos a mãe e os filhos também construíram sua vida no bairro, onde muitos estão até hoje. Eraldo é baiano, Alex, paulistano. “Dos irmãos, eu e Eraldo sempre andamos muito juntos“, conta Alex. “Jogávamos futebol, dançávamos break nos anos 90. Eu o levava pros lugares. E no café foi igual. Comecei a trabalhar no Santo Grão como caixa, em 2004, mas tinha que fazer o curso de barista. Fiz o básico e aí me apaixonei. Conheci o Santo Grão através do meu outro irmão, que é pedreiro e mexe com hidráulica. Ele que fez a hidráulica dessa cafeteria. Eu tinha 20 anos. Vira e mexe eu estava na máquina fuçando, porque queria aprender”, relembra.

Com esse aprendizado, Alex incentivou o irmão a seguir o mesmo caminho, e Eraldo conta: “Eu trabalhei como manipulador de medicamentos por oito anos. Estava cansado desse trabalho, era muito desgastante, fazia mal pra mim porque mexia com muita química. Minha entrada no mundo do café foi através da Copa Barista, quando fui assistir o Alex, em 2009. Foi lá que conheci o universo do café. Ver todo aquele mercado, no maior evento de café, me chamou atenção. Assistindo à competição, vi que cada barista tinha seu jeito, seu toque. Isso me fez lembrar nosso passado na dança. Tem o lance de ser uma competição, como era na dança, e onde cada um dá a sua identidade na apresentação. Decidi arriscar e mudar de área. Falei com o Alex e ele me indicou uma cafeteria na Augusta, que ele estava auxiliando. Comecei a trabalhar lá e depois fui pra cafeteria Cafezim”, relembra.

Em 2013, Alex teve a ideia de montar um coffee truck: “Tinha muita pressa porque queria ser o primeiro com esse serviço, mas não sabia que, ao mesmo tempo, também tinha outros caras se mexendo pra lançar food trucks”. Na época, em São Paulo, houve um grande “boom” de comida de rua, depois da aprovação da lei municipal. “Procurávamos Kombis na internet. Um dia, andando na rua, vi uma Kombi de produtos de limpeza com uma placa de venda. Ela era do jeito que eu queria. Comprei. Deu muito trabalho. Fui um dos primeiros de São Paulo nesse negócio, em 2014, e logo comecei a receber pedidos. Tínhamos uma grana guardada e investimos nisso, compramos outra Kombi pela internet, em 2016, e reformamos. Foi indo assim”, explica Alex.

Depois de alguns anos trabalhando nesse setor e abrindo muitas portas, os irmãos estacionaram temporariamente as Kombis para projetos pessoais “fixos”. Eraldo abriu, no ano passado, a cafeteria Espresso Arte, dentro do Vila Butantan, área em São Paulo que reúne dezenas de contêineres com lojas de diversos segmentos, principalmente, gastronômico. “Tenho a empresa desde 2012 para consultoria. A Espresso Arte é uma aposta de realização profissional como barista. É ter meu próprio cantinho para poder também ministrar meus cursos. É um lugar em que tenho liberdade pra trabalhar”, destaca Eraldo.

Alex também resolveu fazer seu investimento em um espaço próprio. Depois de alguns anos com a Kombi no prédio do jornal Folha de S.Paulo, o barista criou uma clientela fiel e aposta em uma cafeteria próxima ao local para manter os apaixonados por café. “Fui buscando lugares, estudando a região e decidi abrir meu ponto na esquina da Rua Barão de Limeira com a Rua Helvetia. Vai ser uma cafeteria estendida pra happy hour, algo também noturno porque tem público. Vou servir café de manhã e, à noite, teremos cervejas artesanais e drinques. Eu e minha esposa, que é gerente de cafeteria, ficaremos no período da manhã, e meu cunhado, que é bartender, junto com a equipe dele, assumirá na parte da noite.” A cafeteria Bio Barista abrirá ainda em março, sem deixar de ter como referência, é claro, a ilustração da Kombi na parede, que tanto sucesso faz pelas ruas de São Paulo.

Durante a conversa, os irmãos contaram diversas lembranças das batalhas que tiveram que travar em diferentes situações para se destacar no mercado. Hoje, Alex e Eraldo, além das consultorias, desenvolvem outras atividades, como a prestação de serviço de manutenção de máquinas para a italiana La Marzocco, no caso de Alex, e os cursos ministrados pelo Brasil, como os de latte art e barista de Eraldo.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Mariana Proença • FOTO Lucas Albin/Agência Ophelia

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