Mercado

Eu vivo de café

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Emerson Nascimento escolheu o caminho do café há oito anos e, desde então, no Rio de Janeiro, realiza diversos projetos focados na bebida

Natural de Santa Luzia, na Paraíba, o barista Emerson Nascimento sempre gostou de café. Em 2008, ao participar de um projeto social no Senac para a formação de jovens carentes na profissão de bartender, conheceu o barista Emilio Rodrigues, professor do módulo de café. Emilio selecionou catorze alunos para um curso na sua escola, Casa do Barista. Emerson foi um dos escolhidos e, a partir disso, o café não saiu mais da sua vida. “Sou muito grato por tudo o que o Emilio me ensinou e por me dar a oportunidade de fazer parte da equipe Casa do Barista.” Atualmente, o barista trabalha na Curto Café (também é um dos sócios), além de ser sócio da Grã Barista e ministrar cursos na Casa do Barista.

Quando decidiu se tornar barista? Vi o café como uma forma de ganhar dinheiro, pois vinha de uma infância muito difícil. Trabalhava de manhã como barista e à noite como bartender. Fiquei empolgado e achei que poderia ficar rico. Depois de um ano nas duas jornadas, continuava na mesma condição financeira de quando comecei e o máximo que consegui foi ficar cansado. Vi que tinha que fazer uma escolha, pois não conseguia me dedicar nem a uma profissão nem a outra. Duas coisas pesaram para eu escolher o barismo: o meu amor pelo café e a falta de profissionais qualificados naquela época.

Qual foi o seu primeiro trabalho como barista? Quando estava no projeto social da Casa do Barista, um amigo viu um anúncio de emprego. Inicialmente, fiquei inseguro pois ainda não havia terminado o curso. Mas resolvi arriscar e consegui a vaga numa distribuidora de café, onde comecei como barista e, hoje, depois de oito anos, sou um dos sócios.

Você faz muitos latte arts. Como surgiu essa vontade? Quando comecei a trabalhar na distribuidora, tinha de visitar cafeterias para dar treinamento. Na grande maioria das vezes pegava equipes que já faziam café havia muito tempo. Eu iniciava explicando sobre a limpeza da máquina e a extração de espresso. Percebia que as pessoas não estavam nem aí para o que eu falava. Quando chegava ao cappuccino, assim que fazia o primeiro latte art, as pessoas piravam. Percebi que com o latte art teria a atenção dos funcionários e ficaria mais fácil falar e ensinar sobre café. Por isso eu me tornei viciado nessa técnica.

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Qual método você considera mais interessante para o preparo de café? Adoro espresso, mas prefiro os filtrados. Meu método favorito é o Kalita Wave. É impressionante como ele ressalta a doçura do café na extração.

Quais as qualidades que um barista deve ter? Hoje em dia costumo dizer que saio de casa para brincar de fazer café, pois sou muito feliz na minha profissão, amo trabalhar e beber café. Para ser barista, eu precisei ter força de vontade, ser estudioso, educado e gostar de café.

Como vê o mercado de baristas hoje? Desde quando comecei até hoje, vi que o mercado brasileiro teve uma boa evolução: há muito mais baristas atuando e conseguindo viver somente do café e capacitar-se com os cursos que são oferecidos no Brasil. Infelizmente, em relação a alguns países, ainda estamos bem atrasados. Vejo muito equipamento de ponta que nem sabemos se um dia chegará ao Brasil. Temos uma política de proteção do café brasileiro que, na minha opinião, é uma burrice, pois não permite a entrada dos cafés de outros países produtores e os baristas não têm acesso a novos sabores e aromas.

Qual profissional você admira no mundo do café? Há um barista em especial que admiro muito, pela dedicação, pelo conhecimento e por estar sempre se renovando: Léo Moço.

Qual seu próximo passo dentro da profissão? Venho sempre estudando e buscando informações sobre café; aos poucos venho me preparando para abrir outra cafeteria junto com minha esposa, que também é barista, e que há pouco tempo resolveu se especializar em chá. Pretendemos abrir uma casa de chá e café.

Qual seu maior sonho? Representar o Brasil no campeonato mundial e ser campeão. Hoje em dia vivo de café e é dele que tiro o sustento da minha família. Sou casado e temos um lindo filho, que também vive no mundo do café. Diariamente vivo essa experiência de fazer e explicar café. Sonho em poder continuar vivendo isso e poder realizar outros sonhos a partir desse trabalho.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui)

TEXTO Natália Camoleze • FOTO Dhani Borges

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