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De volta à terra: como marcas de café apostam em cápsulas compostáveis
Por Gabriela Kaneto
O consumo de café em cápsulas ganhou espaço na rotina moderna pela praticidade, mas também gerou um alerta ambiental devido ao acúmulo de resíduos plásticos e metálicos. De olho no tema, empresas do setor investem em tecnologias para gerar menos lixo e em campanhas que favoreçam o descarte correto do produto.
Sobre o assunto, um dos mais recentes lançamentos é o da italiana Lavazza. Chamado Tablì, o sistema, apresentado durante a Semana de Design de Milão 2025, utiliza uma cápsula feita 100% de café moído compactado, ou seja, sem nenhum tipo de invólucro. Com a liberação da água quente, o café prensado é dissolvido e resulta em um espresso sem resíduos de plástico ou alumínio.
De acordo com a marca, a novidade estará disponível na Itália a partir de setembro deste ano, exclusivamente no site. Sobre o lançamento em outros países, ainda não foram divulgadas informações.
Apesar de inovadora, a ideia de cápsulas feitas à base de outros materiais sustentáveis já está sendo aplicada há algum tempo. Em 2022, por exemplo, o grupo suíço Migros lançou a CoffeeB, cápsula esférica biodegradável produzida a partir de café comprimido e recoberta por uma fina película à base de algas. Os grãos utilizados são de diferentes tipos, inclusive em parceria com a italiana illycaffè. Comercializada em países como Suíça e França, a máquina do sistema também é produzida, em parte, com materiais recicláveis.
Também em 2022, a Nescafé Dolce Gusto, da Nestlé, lançou no mercado brasileiro a sua linha Neo, um sistema que utiliza cápsulas compostáveis feitas à base de papel com uma fina membrana interna de celulose. Com uma tecnologia de leitura automática do código impresso no selo de vedação de cada cápsula (feito de polímero biodegradável), a Neo extrai cafés do tipo espresso, americano e uma opção mais diluída batizada de caseiro.
Compostagem de cápsulas biodegradáveis
Na natureza, este modelo de cápsula da Neo leva de seis meses a um ano para se decompor. Mas, se compostada de forma correta, some em apenas 45 dias. Para conhecer melhor o processo de compostagem, a Nestlé levou a equipe da Espresso para Parelheiros, extremo sul de São Paulo, onde acontece o projeto Planta Feliz, parceiro da marca.
Liderada pelo casal Marina Camargo e Adriano Sgarbi, a iniciativa acontece desde 2019 e hoje atende toda a capital paulista, recolhendo, por mês, cerca de 20 toneladas de resíduos de origem animal e vegetal de casas, colégios, empresas farmacêuticas e instituições, como o SESC Interlagos.
A compostagem é um processo natural de decomposição de matéria orgânica. O processo acontece através de uma mistura de compostos úmidos e secos, que geram transformações biológicas e químicas promovidas por microrganismos. O resultado final é um biofertilizante que pode ser aplicado no solo para melhorar suas características, sem trazer riscos ao meio ambiente.
Para isso, o Planta Feliz conta com quatro “leiras” (espaço onde ocorre o processo) com capacidade para 25 toneladas cada. Todas elas são analisadas por profissionais da Unicamp, que emitem laudos com informações de quais nutrientes são encontrados ali, como o nitrogênio, por exemplo. “De 80 a 90% dos resíduos são água. Parte vira adubo líquido e parte é liberada através do próprio processo gasoso”, explica Sgarbi.
A partir do laudo, é possível dar um destino mais assertivo ao adubo proveniente de cada leira, que pode ser categorizado como composto orgânico, húmus de minhoca ou terra vegetal preparada, e vendido pelo Planta Feliz em feiras locais e na plataforma do Mercado Livre para todo o Brasil.
De acordo com o projeto, 55% dos resíduos domésticos poderiam ser mandados para a compostagem – mas, infelizmente, o destino é outro: os aterros sanitários. Depois que o aterro fecha, são mais 35 anos para que o gás de tudo que foi descartado no local seja eliminado. “Se toda empresa tivesse a preocupação de transformar os produtos em compostáveis, teríamos um mundo melhor”, comenta Marina.
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