Cafezal

Da lavoura à xícara: turismo rural conecta as pontas do setor e valoriza a produção do grão

Com a chegada de alimentos orgânicos, de produção familiar ou de pequenos negócios, muitos consumidores passaram a se interessar mais pela rastreabilidade daquilo que consomem. Desta forma, a origem se conecta à outra ponta da cadeia, e dá abertura para a realização de uma atividade bacana, que agrega conhecimento e que aproxima ainda mais as pessoas: o turismo rural.

No caso do café, essa é uma pauta que vem ganhando cada vez mais destaque. Para o apaixonado pela bebida, a atividade é positiva porque, apesar de morar no Brasil – o maior produtor mundial do grão –, muitas vezes os processos pelo qual o frutinho vermelho passa são desconhecidos. Já para o produtor, é uma forma de atrair visitantes, aumentar a valorização de todo o trabalho por trás da xícara e ainda divulgar sua marca/fazenda e a região.

Em Monte Alegre do Sul (SP), município que compõe o Circuito das Águas Paulista, a Cafezal em Flor começou seu projeto focado em turismo rural em 1998, como forma de ajudar a manter o funcionamento da fazenda. “Desde o início, com o plano de negócios, detectamos que produzir cafés especiais em pequena escala não seria viável. Precisávamos do turismo para agregar valor e equilibrar as contas”, explica Mateus Bichara, arquiteto e filho da proprietária, Marcia Bichara. “Aos poucos fomos equipando o sítio com benfeitorias e maquinários para processamento dos cafés. Hoje em dia temos toda cadeia verticalizada e a mostramos de cabo a rabo aos visitantes”.

Cafezal em Flor, localizada em Monte Alegre do Sul (SP), Circuito das Águas Paulista – Foto: Agência Ophelia

No roteiro, os turistas têm a oportunidade de conhecer os pés de café, as diferentes variedades produzidas na propriedade, os processos de pós-colheita, a torra e o preparo. “Costumamos explicar a respeito das ondas do café. Nossa proposta vem de encontro com a terceira onda, com o movimento slow food, onde o consumidor quer saber o quê exatamente está consumindo, quem fez seu alimento e como foi produzido”, conta Mateus, que destaca que um ponto importante hoje em dia é a divulgação. “Estamos caprichando o máximo na comunicação com as pessoas. Através das redes sociais, estamos conseguindo o engajamento do público certo, aqueles que amam café!”.

Aliado ao turismo rural, muitas regiões produtoras também podem aproveitar o turismo histórico, como é o caso da Fazenda Florença, localizada em Conservatória (RJ), distrito de Valença. A propriedade teve um importante papel na cafeicultura brasileira no século 19, quando a região era a responsável pelo cultivo de 75% do café consumido no mundo. “Muitos consumidores nunca viram um pé de café. Essa é uma oportunidade da pessoa passar a conhecer o produto que consome”, comenta o proprietário Paulo Roberto dos Santos.

Fazenda Florença, localizada em Conservatória (RJ), distrito de Valença – Foto: Divulgação

No local, além de conhecer a produção e a história regional, os visitantes também podem desfrutar de um café feito na cafeteria da fazenda, situada no meio do cafezal. “Os turistas conhecem a história de quando o café chegou ao Brasil, os processos nos séculos 18, 19 e agora no século 21. Encontra café, patrimônio e gastronomia”, afirma Paulo.

Essa conexão entre as pontas do setor faz com que a xícara de café especial seja muito mais valorizada, uma vez que quem está consumindo passa a conhecer todo o trabalho que o produtor (e o torrefador!) tem para que o grão chegue com qualidade até a prateleira.

Como ficará a atividade depois da pandemia de Covid-19?

Para Mateus, a busca por turismo rural irá crescer cada vez mais. “Estamos a apenas duas horas de São Paulo e já sentimos o que as previsões diziam, que as pessoas passariam a viajar para lugares próximos às suas casas, mas que elas ainda não conheciam. Nossos cafés tem como maior diferencial a possibilidade de o consumidor poder vir e ver com os próprios olhos a produção e até participar dela, colhendo o fruto do pé”, declara.

Já Paulo pontua que a atividade pode ser uma boa fonte de renda para os pequenos cafeicultores nos próximos anos: “esse segmento vai aumentar muito porque as pessoas vão viajar pouco para o exterior durante algum tempo, então vão viajar mais dentro do Brasil. Para o pequeno produtor, para a agricultura familiar, pode ajudar muito. Quem tiver qualidade vai poder aumentar sua renda com o turismo rural”.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Agência Ophelia

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