Coluna Café por Convidado Especial

Do campo à xícara, profissionais convidados refletem sobre o setor

Os cinco países mais promissores para o café

Muitas empresas acreditam erroneamente que mercados maduros não oferecem oportunidades para novas marcas. No entanto, o café pode apresentar muitos espaços para inovação em diferentes canais e formatos, mesmo em mercados maduros onde a concorrência é alta. O estudo “Cinco Mercados Mundiais mais Promissores em Café”, apresentado durante a Semana Internacional do Café 2018, analisa os maiores mercados de café do mundo – Brasil, Estados Unidos, Indonésia, Alemanha e Japão – e apresenta tendências de crescimento distintas em cada um deles.

As ondas do café
Ao contrário do que acontece com a maioria das categorias de alimentos e bebidas, o mercado de café, felizmente, tem passado por constantes ciclos de reinvenção. As chamadas “ondas do café” indicam diferentes momentos pelos quais o produto passou em cada mercado, pautadas pelo nível de desenvolvimento, entendimento das especificidades do produto pelos consumidores, profissionalização e inovação da categoria.

A primeira onda do café é marcada pela “descoberta” da bebida e dos seus benefícios funcionais. Já na segunda, as cafeterias ganham relevância e os consumidores passam a experimentar novos formatos, como cápsulas e solúveis. A terceira onda, por sua vez, é marcada pela necessidade de inovar para se manter no mercado, considerando a forte concorrência. A quarta onda, por fim, ainda não tem limites bem definidos: são muitas as possibilidades para o futuro do café, que está presente em quase todos os momentos da vida dos consumidores.

Brasil: Crescimento constante durante a crise econômica
Mesmo em mercados considerados mais maduros como o do Brasil – país que alcançou o primeiro lugar no ranking mundial de café em 2014, ultrapassando os Estados Unidos – as vendas continuam crescendo a uma taxa de 3%, acima da média mundial, apesar do cenário de crise interna. Ainda que o setor seja dominado pelo café torrado e moído, outros formatos passam a ganhar relevância, especialmente conforme o mercado encaminha-se para a terceira onda: marcada pela inovação e diferenciação das marcas como um atributo decisivo no momento da compra.

Estados Unidos: Consumo fora do lar impulsiona as vendas
Já no caso dos EUA, segundo maior mercado de café do mundo, que atualmente encontra-se na quarta onda, o crescimento concentra-se no canal de foodservice, representado principalmente por cafeterias e restaurantes. Apesar de ser um mercado mais maduro em volume de vendas e apresentar desaceleração no varejo, as principais oportunidades se apresentam para produtos com maior valor agregado e que universalizem as ocasiões de consumo de café, como as versões prontas para beber, que trazem atributos como premiunização e conveniência.

Indonésia: Busca por conveniência impulsiona versão solúvel
Para a Indonésia, que ocupa o terceiro lugar no ranking mundial, o produto ganha relevância à medida que os consumidores menos afluentes buscam reproduzir em casa a experiência que teriam na cafeteria, ainda restrita àqueles com renda mais alta. A tendência de urbanização e os novos estilos de vida levam os consumidores a buscar produtos convenientes e isso se traduz em um aumento na demanda pelo café solúvel. O país, que se encontra na primeira onda, ainda possui um caminho muito dinâmico a percorrer conforme os habitantes descobrem não só os benefícios funcionais do produto, mas o quão diferentes podem ser cada marca.

Alemanha: Inovação como fator-chave de sucesso
Um dos mercados mais equilibrados entre as vendas de todos os tipos de café é o da Alemanha, quarto maior país do mundo em vendas do produto. Independentemente do tipo de café, no entanto, sustentabilidade e rastreabilidade são atributos de peso na decisão de compra dos alemães, indicando um interesse crescente dos consumidores em entender os processos por trás de toda a cadeia de produção e distribuição, além de manter um consumo responsável. Como um traço forte da terceira onda do café, o mercado alemão é marcado também pela forte inovação como fator de diferenciação entre as marcas.

Japão: Espaço urbano limita vendas de cápsulas
Com características muito distintas dos mercados anteriormente mencionados, o Japão figura no quinto lugar no ranking mundial de café, cujo consumo deverá ser duas vezes maior que o de chá até 2022. O setor é dominado pelo formato em grãos, que detém mais de 30% do volume de vendas, com forte presença também dos solúveis, evidenciando a busca por conveniência e praticidade. As cápsulas, ao contrário dos demais países, mostram pouca relevância, especialmente devido aos espaços limitados dos lares japoneses em áreas urbanas, o que desestimula a aquisição de mais um eletrodoméstico.

É interessante notar que mesmo os maiores mercados do mundo em volume total de venda de cafés ainda apresentam oportunidades promissoras de crescimento para novos tipos e marcas. Para poder se destacar em novos mercados, no entanto, é imprescindível que se entenda a fundo o cenário interno de cada país e as particularidades de cada “onda”, ou seja, em que estágio de desenvolvimento ele se encontra.

Mais do que isso, com a crescente concorrência entre fabricantes e marcas de café, é preciso lembrar que a diferenciação também é um fator fundamental de sucesso: seja explorando novos canais de consumo, como o foodservice, criando uma experiência de consumo inovadora ou até mesmo usando a tecnologia para gerar mais eficiência e qualidade. Qualquer que seja a estratégia escolhida, o futuro guarda excelentes oportunidades aqueles que ousarem se reinventar assim como o café vem fazendo ao longo dos anos.

Faça o download do estudo “Five Most Promising Markets in Coffee”: http://bit.ly/world_coffee

*Angelica Salado, Analista sênior – Bebidas & Tabaco da Euromonitor

TEXTO Angelica Salado • FOTO Roberto Seba

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