A redação da Espresso fica em São Paulo. Foi na segunda semana do mês de março que ouvimos pela primeira vez por aqui que teríamos que trabalhar de casa, por causa da pandemia Covid-19. A maioria acreditou que seria rápido, porém, março passou, chegou abril e seguimos na quarentena. E o mês de maio todo também. 

No meio de tantas mudanças, a nova publicação da revista e a dúvida sobre como produzi-la. Tivemos que aprender a trabalhar de outra maneira, com a equipe distante fisicamente e próxima virtualmente. Nossas reuniões passaram a ser diárias e ideias foram surgindo para a edição da Espresso, que, por sinal, completa 17 anos! 

Para esta seção, depois da pauta definida, normalmente o primeiro passo é escolher as pessoas que farão parte da degustação. Em seguida, encontrar um local em que o café pudesse ser preparado e as fotos, realizadas. Sem poder sair de casa, como produzir essa matéria? 

Em primeiro lugar, entramos em contato com a Café Store e escolhemos um café do Coffee Lab que foi torrado exclusivamente para o e-commerce, produzido por José Carlos Velten, do Sitio Nossa Senhora das Graças, localizado em Marechal Floriano, no Espírito Santo. Um arábica, catuaí vermelho e amarelo, processo honey. 

Segundo passo: como fazer com as fotos, sem fotógrafo e sem os convidados? Foi aí que tivemos a ideia de uma produção em casa e totalmente “instagramável”. 

A degustação 

Além da nossa equipe, contamos nesta degustação com a jornalista Clara Campoli, que está em Brasília, e escolheu o método aeropress; o tecnólogo e barista Otávio Augusto, em Patrocínio, Minas Gerais, que usou o koar; e a nutricionista e fundadora do Foodpass, Priscila Sabará, que, em São Paulo, preparou o café na moka italiana. Para esta produção caseira, criamos um roteirinho de como as fotos poderiam ser feitas. 

Alguns contaram com a ajuda de quem estava confinado na quarentena para a produção das fotos e a degustação do café. Outros fizeram tudo sozinhos. E chegamos a uma conclusão: como é difícil produzir uma foto em casa! Retirar a bagunça, atentar para os detalhes, achar um ângulo bom, uma luz, o momento certo do clique, tudo isso unido à hora de provar o café. Fica aqui nosso agradecimento e admiração a todos os fotógrafos que já passaram pela Espresso. Conseguimos um bom resultado. Ainda bem que nossos convidados foram ótimos como fotógrafos e produziram fotos lindas! 

Nós enviamos uma ficha de degustação, criada na ferramenta de formulários do Google, para que eles preenchessem assim que provassem o café. Separamos aqui as principais impressões. Avalie como o mesmo café pode se comportar de modo completamente diferente quando preparado em métodos diversos. 

Aeropress

Método escolhido por Clara Campoli, que preparou no período da tarde, moeu o grão na hora e utilizou 14 g de café para 200 ml de água, numa infusão de 1 minuto. 

Aroma: compota de frutas, geleia, doce caseiro
Sabor: geleia de laranja, caramelo, garapa
Acidez: média, equilibrada
Corpo: médio-baixo, licoroso
Finalização: prolongada, suave
Avaliação Final: o café vai bem com um pão de queijo quentinho. “Ao abrir a embalagem, parecia que eu tinha acabado de abrir um pote de doce de laranja, uma geleia de fruta tropical.” 

Clever 

A jornalista Gabriela Kaneto preparou o seu café na parte da manhã. Moído na hora, utilizou 15 g de pó para 210 ml de água, numa infusão de 3 minutos. 

Aroma: doce, mel
Sabor: ameixa, melaço
Acidez: média
Corpo: médio
Finalização: prolongada
Avaliação final: combina com pão de queijo. “Um café para qualquer hora do dia e que vai superbem com coisas salgadas!”

French Press

O diretor de arte Marcelo Furquim preparou o seu café na parte da tarde. Moeu na hora uma quantidade de 10 g de grão para 120 ml de água. Deixou por 2 minutos em infusão. 

Aroma: herbal, terra molhada
Sabor: fruta amarela, noz-moscada
Acidez: média
Corpo: médio
Finalização: prolongada, vai ficando mentolado na boca
Avaliação final: o café pode harmonizar com um bolo de limão. “Muito bom, fresco, de sabor intenso, mas muito equilibrado.” 

Hario v60

A designer Giulianna Iannaco optou por esse método e por preparar o café pela manhã. Moeu o grão na hora e utilizou 20 g de pó para 260 ml de água. 

Aroma: doce, nuts
Sabor: chocolate, licor
Acidez: média
Corpo: médio
Finalização: prolongada
Avaliação final: pode ser harmonizado com sobremesas de frutas. “Achei um café equilibrado e agradável. Ótimo para acompanhar os momentos de trabalho na quarentena.” 

Kalita

A diretora de conteúdo da Espresso, Mariana Proença, preparou o seu café na parte da tarde. Moeu 25 g de café e utilizou 350 ml de água. Deixou em uma pré-infusão de 30 segundos, e o tempo total do preparo foi de 3 minutos. 

Aroma: avelã, macadâmia, frutas secas
Sabor: doce, mel, frutas maduras e vermelhas
Acidez: alta, brilhante
Corpo: alto
Finalização: maravilhosa, fica um conforto na boca, superpresente e picante, e doce até o fim
Avaliação final: pode ser harmonizado com um queijo curado ou pão artesanal com manteiga. “Um café equilibrado, com notas delicadas e ao mesmo tempo complexas, com sabores que aparecem ao esfriar de frutas maduras, ameixa e frutas doces. Tomar de manha é uma ótima pedida.” 

Koar

O tecnólogo em cafeicultura e barista Otávio Augusto preparou o seu café na parte da tarde. Moeu na hora e utilizou 19 g de pó para 310 ml de água. 

Aroma: flor de laranjeira, jasmim
Sabor: jasmim, frutas roxas, chocolate ao leite
Acidez: alta e brilhante
Corpo: denso e sedoso
Finalização: agradável, prolongada e persistente. Retrogosto limpo e doce
Avaliação Final: combina com uma rosca mineira. “O café conta com uma explosão de aromas. O corpo sedoso e agradável traz um retrogosto equilibrado e limpo. A doçura deste café não tem igual, com um gostinho de quero sempre mais!” 

Melitta

A editora assistente da Espresso, Natália Camoleze, optou por preparar o seu café logo após o almoço. Moído na hora, ela utilizou 20 g de pó para 280 ml de água. 

Aroma: cítrico, laranja, nuts
Sabor: chocolate meio amargo, laranja
Acidez: alta
Corpo: denso
Finalização: prolongada
Avaliação final: pode ser harmonizado com um bolo simples, de milho ou fubá. “Um café complexo e delicioso. Rico em aromas e sabores e que vai superbem depois do almoço!” 

Moka ou Cafeteira Italiana

Priscila Sabará, nutricionista e fundadora do Foodpass, preparou o seu café, que já estava moído, na parte da manhã. Utilizou 6 colheres (chá) de pó para 350 ml de água, em 4 minutos. 

Aroma: chocolate, cítrico, nuts
Sabor: madeira, amêndoa e chocolate
Acidez: média
Corpo: encorpado
Finalização: prolongada, permaneceram os sabores de amêndoa e chocolate
Avaliação final: o café vai bem com um pão na chapa com manteiga e queijo curado, mil-folhas ou crumble de banana. “Muito aromático e potente. No próximo preparo, colocarei mais água para ampliação das notas sutis.” 

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso referente aos meses junho, julho e agosto de 2020 – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).