Café & Preparos

Native estreia no mercado de cafés especiais com a linha One

A Native, líder no setor de orgânicos, lançou em dezembro e apenas para vendas online a linha One, marcando sua entrada no mercado de cafés especiais (acima de 80 pontos, na escala até 100). 

A nova coleção traz cafés orgânicos de três regiões – Montanhas do Espírito Santo, Cerrado Mineiro e Alta Mogiana –, tanto em grãos quanto moído e para drip coffee. Os cafés têm rastreabilidade e cultivo sustentável. 

As regiões foram escolhidas por produzirem cafés de qualidade e serem conhecidas pelos consumidores. As variedades selecionadas incluem bourbon amarelo (das Montanhas), topázio (do Cerrado Mineiro) e, da Alta Mogiana,  arara (para café em grãos) e obatã (para drip coffee e torrado e moído). 

Os cafés, em embalagens de 250 g e 100 g (drip coffee) estão disponíveis na loja virtual da Native.

TEXTO Redação • FOTO divulgação

Mercado

Último dia de Semana Internacional do Café só teve campeões

Saiba mais sobre as seis competições que fecharam o maior evento de cafés do país 

Paulo Roberto Alves, do Sítio Campo Azul, no Caparaó (ES), levou o troféu COY de melhor café arábica

O Coffee of the Year, que está em sua 13ª edição, foi o grande destaque do dia e a premiação mais aguardada. Este ano deu novamente o estado capixaba no pódio do Grande Auditório, com as regiões Caparaó e Sul do Espírito Santo (clique aqui para ver os campeões). 

O concurso promove e valoriza os melhores cafés produzidos no país, e reconhece a excelência dos produtores nas categorias arábica e canéfora. Foram 570 inscrições de 13 estados, cujas amostras são submetidas à análise sensorial de Q-Graders e R-Graders licenciados pelo Coffee Quality Institute (CQI). Nessa fase, são selecionadas as 180 melhores amostras (150 de arábica e 30 de canéfora) que são oferecidas em rodadas de cupping para geração de negócios e degustação de visitantes. Além disso, os 10 melhores cafés arábica e os 5 melhores canéfora ficaram disponíveis para voto popular, em degustações às cegas, de onde saíram os dois campeões. 

Antônio Cezar Demartini Landi, do Sítio do Pedrão, de Jerônimo Monteiro (ES), vencedor da categoria canéfora do COY 2024

Campeonato Brasileiro de Barista

Logo após a premiação do COY, saíram os resultados do Campeonato Brasileiro de Barista 2024. Desta vez, o título foi para Emerson Nascimento, do Coffee Five, do Rio de Janeiro, que levou a melhor após disputar a final com os baristas Daniel Vaz (2º colocado), Hugo Silva (3º colocado), Juliana Morgado, Giovanna Tonelli e Renan Dantas.

Agora, Emerson Nascimento se prepara para representar o Brasil no World Barista Championship, que será realizado de 17 a 21 de outubro de 2025, em Milão, Itália, onde enfrentará os melhores baristas do mundo.

Pódio do Campeonato Brasileiro de Barista, com Hugo Silva em terceiro (à esq.), Emerson Nascimento em primeiro (centro) e Daniel Vaz em segundo (à dir.)

Espresso Design

A 6ª edição do concurso Espresso Design, que avaliou as melhores embalagens de café de 2024, abriu a tarde de premiações. Após dois dias de exposição das 20 embalagens finalistas na entrada da SIC, onde os visitantes puderam votar em sua favorita, o prêmio foi para o Café da Vaca, com a edição Serra da Canastra. O Café Bazilli, com o Dino Coffee, ficou em segundo lugar, e a Unique Cafés Especiais, com seu Reserva Especial Unique, em terceiro.

Com mais de 80 embalagens inscritas neste ano, o concurso avaliou, na sua primeira fase, aspectos como identidade visual, eficiência, conceito, originalidade e criatividade, análise esta feita pela equipe da Espresso e por especialistas convidados – nesta edição, Camila Arcanjo, consultora para qualidade e certificações da ABIC, e a designer Luiza Kessler. 

Café da Vaca, eleita a melhor embalagem no concurso Espresso Design

Torrefação do Ano Brasil 2024

Na premiação Torrefação do Ano Brasil 2024, da Atilla Torradores, a campeã foi a baiana Café Gourmet CGP, torrefação da Fazenda Divino Espírito Santo, de Piatã. O segundo lugar ficou para o Café Bazilli, de Caconde (SP), e o terceiro para a torrefação Cafetto Company, de São José dos Campos (SP). O concurso, que destaca o trabalho das torrefações de qualidade de todo o país, teve 95 torrefações inscritas, de 18 estados. 

Campeonato Brasileiro de Blends de Café

Novidade na SIC, a final do 2º Campeonato Brasileiro de Blends de Café, realizado pela ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), premiou Pedro Mestrinier, da cooperativa Coocacer, de  Araguari (MG), e concedeu a segunda e a terceira colocação a Michele Loreto, da Global Way Importex, de Curitiba (PR), e Jovelino Maier, da Café Número Um, em Vitória (ES), respectivamente.

O campeonato promove o conhecimento na criação de blends de café, jogando luz sobre o trabalho de classificadores, degustadores e mestres de torra. É composto por quatro etapas (as três delas, estaduais), e promoveu a final no último dia da SIC. Os blends foram avaliados por um júri técnico a partir do Protocolo Brasileiro de Avaliação Sensorial de Cafés Torrados, desenvolvido pela associação. 

Concurso Florada Premiada

O Concurso Florada Premiada 2024, promovido pelo Grupo 3corações em parceria com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), reconheceu as melhores produtoras de cafés especiais do Brasil. Na cerimônia de premiação, que aconteceu pela manhã da sexta (22), a Denominação de Origem Matas de Rondônia destacou-se ao ocupar todo o pódio da categoria canéfora.

O primeiro lugar foi para Sueli Berdes, da Chácara Santo Antônio, seguida por Josiele Werneck, do Sítio Bella Vista, e Angélica Alexandrino, do Sítio São Sebastião. O concurso, que está em sua 7ª edição, valoriza o trabalho das mulheres na cafeicultura, promovendo a qualidade e a sustentabilidade na produção de cafés especiais. 

Concurso Florada Premiada 2024, realizado pelo grupo 3corações

Concurso NossoCafé Yara

Além do Concurso Florada Premiada, a SIC também foi palco do 8º Concurso NossoCafé 2024, promovido pela Yara, que consagrou campeões, na quinta-feira (21), a empresa Bioma Café, de Campos Altos (MG), na categoria café natural, e o produtor João Newton Reis Teixeira, de Santo Antônio do Amparo (MG), na categoria cereja descascado. A premiação incentiva a produção nacional de cafés de qualidade cultivados a partir de práticas sustentáveis e nutrição equilibrada. A etapa semifinal, feita por regiões, havia selecionado oito candidatos.

Finalistas do concurso NossoCafé 2024, da Yara, na SIC

A SIC é uma realização de Sistema Faemg, Espresso & Co., Sebrae e Governo de Minas Gerais. Tem o apoio institucional do Sistema OCEMG e patrocínio da CODEMG, 3corações, Nescafé, Nespresso, SICOOB, Yara, Melitta e Senar. O evento também conta com o apoio de ABIC, Abrasel, IWCA, Banco do Brasil, BSCA, Cecafé, Fecomercio, Fiemg, Ministério da Agricultura e Pecuária e Sindicafé-MG.

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Cafezal

Caparaó (ES) e Sul do ES vencem o Coffee of the Year 2024

Um dos momentos mais esperados da Semana Internacional do Café, o Prêmio Coffee of the Year celebrou a sua 13ª edição, com 570 inscrições vindas de 13 regiões diferentes. Em mais um ano, o estado do Espírito Santo levou a melhor, alcançando a primeira posição nas categorias arábica e canéfora.

No arábica, o grande campeão da vez foi o produtor Paulo Roberto Alves, do Sítio Campo Azul, de Divino de São Lourenço (ES), Caparaó, com um café que pontuou, na primeira fase do concurso, 90.25 pontos. Na sequência ficou Gabriel Lamounier Vieira, da Fazenda Guariroba II, de Santo Antônio do Amparo (MG), Campo das Vertentes, em segundo lugar, e Douglas Dutra Vieira, do Sítio Cordilheiras, de Iúna (ES), Caparaó, em terceiro.

Paulo Roberto Alves, do Sítio Campo Azul, de Divino de São Lourenço (ES), Caparaó, vencedor da categoria arábica

Na categoria canéfora, o vencedor foi Antônio Cezar Demartini Landi, do Sítio do Pedrão, de Jerônimo Monteiro (ES), Sul do Espírito Santo, com um café que registrou 86,42 pontos na primeira fase de provas. O Sítio Grãos de Ouro, de Muqui (ES), Sul do Espírito Santo, levou o segundo e o terceiro lugares, com Neusa Maria da Silva de Souza e Talles da Silva de Souza, respectivamente.

Antônio Cezar Demartini Landi, do Sítio do Pedrão, de Jerônimo Monteiro (ES), Sul do Espírito Santo, vencedor da categoria canéfora

Confira o pódio completo das duas categorias:

Arábica

1 lugar Paulo Roberto Alves – Sítio Campo Azul – Divino de São Lourenço (ES) – Caparaó
2º lugar Gabriel Lamounier Vieira – Fazenda Guariroba II – Santo Antônio do Amparo (MG) – Campo das Vertentes
3º lugar Douglas Dutra Vieira – Sítio Cordilheiras – Iúna (ES) – Caparaó
4º lugar Afonso Lacerda – Sítio Forquilha do Rio – Dores do Rio Preto (ES) – Caparaó
5º lugar Sergio Meirelles Filho – Fazenda Alvorada – Aricanduva (MG) – Chapada de Minas
6º lugar Gisa Portilho – Sítio dos Portilhos – Luisburgo (MG) – Matas de Minas
7º lugar Deneval Miranda Vieira – Sítio Cordilheiras – Iúna (ES) – Caparaó
8º lugar Angelica de Fátima da Costa – Sítio Pedro Varinha – Manhuaçu (MG) – Matas de Minas
9º lugar João Vithor Medeiros Lacerda – Sítio Forquilha do Rio – Espera Feliz (MG) – Caparaó
10º lugar Carlos Alberto Monteiro – Fazenda Harmonia – Alto Jequitibá (MG) – Caparaó

Canéfora

1º lugar Antônio Cezar Demartini Landi – Sítio do Pedrão – Jeronimo Monteiro (ES) – Sul do Espírito Santo
2º lugar Neusa Maria da Silva de Souza – Sítio Grãos de Ouro – Muqui (ES) – Sul do Espírito Santo
3º lugar Talles da Silva de Souza – Sítio Grãos de Ouro – Muqui (ES) – Sul do Espírito Santo
4º lugar Nicole Nedel Duarte – Chácara Deodápolis – Nova Brasilândia do Oeste (RO) – Matas de Rondônia
5º lugar Luiz Claudio de Souza – Sítio Grãos de Ouro – Muqui (ES) – Sul do Espírito Santo

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Mercado

A ciência na cafeicultura marca o segundo dia de SIC

A ciência, grande aliada da sustentabilidade, é tema de palestras e debates no evento

A ciência e seus aportes à cafeicultura deram o tom do segundo dia de palestras e painéis da 12ª Semana Internacional do Café, que termina nesta sexta (22), no Expominas, em Belo Horizonte. Não sem colocar em relevância a necessidade do trabalho conjunto dos agentes da cadeia e da multidisciplinaridade do conhecimento, ambos aspectos fundamentais para vencer os desafios das mudanças climáticas. 

“A ciência tem um poder de transformação gigantesco”, provoca Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia e pioneiro nas pesquisas em de qualidade dos cafés Robusta Amazônicos, em depoimento à Espresso depois de mediar o painel “A força da ciência nas questões de clima, solo, variedades e consumo”. “Ela envolve tudo que é importante para a produção de cafés, desde commodities até especiais. Envolve questões de solo, de ambiente e de genética, e o domínio desses conhecimentos é importante para extrair o máximo para ter produtividade, qualidade e segurança alimentar”, explica ele,.

A potencialidade da cafeicultura brasileira em termos de tecnologia e ciência para o campo foram debatidos, de fato, ao longo do dia. O painel “Revolução verde: exemplos da nova economia sustentável”, destacou o sucesso na redução da pegada de carbono na cafeicultura em duas situações: em um estudo da potencialidade das práticas regenerativas (em comparação com a agricultura tradicional) em relação ao sequestro de carbono em conilons do Espírito Santo, e no desenvolvimento de um fertilizante verde pela empresa Yara, em parceria com a cooperativa Cooxupé (em Guaxupé, Sul de Minas), que reduziu em até 90% a pegada de carbono na cafeicultura – parceria, aliás, firmada na SIC, em 2022. “A SIC é como um hub, um laboratório de novos negócios, parcerias, inovação e sustentabilidade”, diz Natália Amoedo, fundadora da Pitah e mediadora do painel.  

Painel “Revolução verde: exemplos da nova economia sustentável”

Sustentabilidade essa cujos preceitos são rastreáveis no tempo, conforme mostra Eduardo Sampaio, consultor sênior da Plataforma Global do Café, que recorre à história da agricultura para abrir sua mediação na palestra “ABC do Regenerativo: fundamentos e retornos econômicos para o produtor”, e cuja conexão com a ciência é intrínseca. “Regenerar significa reconstruir”, ensina ele, que nos lembra que é preciso ter um pensamento “sistêmico” e multidisciplinar para encarar os desafios atuais na cafeicultura. “Não há como mudar as mudanças, mas há como minimizar seus impactos através da agricultura regenerativa, acoplada à ciência”, completa Alessandro Hervaz, vice-presidente da cooperativa mineira Coopervass, que há um ano criou o projeto Greencoffee, de práticas de cultivo responsável e que envolve 32 produtores de café. 

As práticas regenerativas são um caminho sem volta, como bem pontuou Adriano Ribeiro, coordenador de sustentabilidade da NKG Stockler, no mesmo painel. E “sua reconexão com a academia é um alicerce maior para as mudanças em vigor”, acredita. 

A agricultura regenerativa não é uma moda passageira. Ela está alicerçada na ciência, que produz dados robustos a seu favor – como os que embasam as falas dos palestrantes de que os que a praticam sofrem menos os desafios climáticos do que aqueles que seguem a agricultura convencional –, e suas práticas, separadamente ou em conjunto,  foram, por exemplo, adotadas rapidamente no Cerrado.

Apesar disso, ainda sofrem barreiras que precisam ser quebradas, e um dos caminhos é a informação correta, segundo Sampaio.  Além disso, a AR ainda não tem uma valoração específica, uma demanda dos produtores que a praticam há quase vinte anos. Isso será compensado em 2025, quando a Rainforest Alliance pretende lançar uma certificação para ela. “Teremos um módulo específico para AR”, promete Yuri Feres, diretor da Rainforest Alliance Brasil.  “Não há dúvidas científicas da resiliência dos cafés que têm práticas regenerativas”, reforça Ribeiro.  

Genética

Outra ferramenta fundamental para enfrentar os desafios climáticos é a genética. Embora com pouco apoio público financeiro – uma das grandes dificuldades das pesquisas nacionais em geral –, a ciência brasileira na área de cafés consegue avançar. É o que apresentaram os pesquisadores Alan Andrade e Luiz Filipe Pereira, da Embrapa Café, e Douglas Domingues, da Esalq, na palestra “Tecnologias genômicas e a transformação da produção de café”. Desde 2002, explicam os pesquisadores, projetos vêm estudando o genoma das duas espécies de café de valor econômico.

Painel “Tecnologias genômicas e a transformação da produção de café”, com os pesquisadores Douglas Domingues, Luiz Filipe Pereira e Alan Andrade

Em 2014, com colaboração internacional, foi desvendado o genoma completo do canéfora. Em 2024, o genoma da espécie arábica foi concluído. A importância disso? Acelerar o trabalho dos melhoristas do café, ajudando a desenvolver novas variedades tolerantes à seca, às doenças e que tenham qualidade sensorial acoplada a partir do uso de marcadores que auxiliam na “construção” de novas variedades. 

“A pesquisa científica está sempre antenada, e com muita antecedência”, lembra Pereira. “Temos referências em outros universos, como o do vinho, facilmente implementáveis no café, agora que temos genomas de referência”, completa Domingues. 

“Qualquer variedade pode entregar bebidas acima de 90 pontos”, garante o pesquisador de cafés especiais do IAC Gerson Giomo, às qualidades intrínsecas dos cafés. “Elas só precisam estar em ambientes favoráveis para expressarem seu potencial genético”, ensina Giomo, que pesquisa o assunto há anos. 

A ciência do solo também está na ordem do dia. Estudos recentes mostram que ele tem características “invisíveis” (referindo-se aos minerais que compõem a argila do solo), identificadas a partir de procedimentos magnéticos e que “impactam na capacidade das plantas em produzir cafés de qualidade”, diz o especialista em solos Diego Siqueira, CEO da Quanticum.

O segundo dia do evento, ainda, trouxe discussões sobre os recentes desdobramentos da EUDR no painel “Brasil e as novas regulamentações da UE: ameaça ou oportunidade?”, o lançamento da plataforma de rastreabilidade das IGs de café pelo Sebrae Nacional e do livro A revolução do café brasileiro – regiões com Indicação Geográfica, patrocinado pelo Sicoob.

Painel “Brasil e as novas regulamentações da UE: ameaça ou oportunidade?”

Se a plataforma – uma ferramenta de rastreabilidade das fazendas de café com IG a partir de tecnologias como blockchain e geolocalização – é, também, uma ferramenta de gestão, o livro explora, por meio de fotografias e textos em português e inglês, a cultura e o valor das 14 indicações geográficas brasileiras (não houve tempo de incluir a recente IP Chapada Diamantina) ao longo de mais de 250 páginas. 

“A obra traz uma abordagem do protagonismo do produtor e das regiões cafeicultoras com IG”, diz o editor Juliano Tarabal, superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, referindo-se aos textos que contam a história das regiões e de produtores e detalham as características de terroir e o perfil sensorial dos cafés. “Nossa expectativa é que esse livro seja uma ferramenta de promoção do café braileiro nas regiões com indicação geográfica”, diz ele. “É impossível vender o Brasil como um país único, sem apresentar essa diversidade de cafés”, acredita. 

Juliano Tarabal, superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado

A SIC é uma realização de Sistema Faemg, Espresso & Co., Sebrae e Governo de Minas Gerais. Tem o apoio institucional do Sistema OCEMG e patrocínio da CODEMGE, 3corações, Nescafé, Nespresso, SICOOB, Yara, Melitta e Senar. O evento também conta com o apoio de ABIC, Abrasel, IWCA, Banco do Brasil, BSCA, Cecafé, Fecomercio, Fiemg, Ministério da Agricultura e Pecuária e Sindicafé-MG.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Cafezal

Coffee of the Year divulga lista dos 65 finalistas de 2024

Após um segundo dia intenso de muito conhecimento e conexão na Semana Internacional do Café, foram divulgadas as 65 amostras finalistas do Coffee of the Year 2024. Clique aqui e confira os produtores classificados e suas regiões.

O concurso deste ano recebeu 570 amostras, vindas de diferentes regiões do Brasil. Na primeira fase, esses cafés passaram por avaliação de Q-Graders e R-Graders. Já na segunda, os dez primeiros arábica e os cinco primeiros canéfora ficaram disponíveis em garrafas térmicas codificadas para que os visitantes da SIC pudessem provar e votar em sua favorita de cada categoria, nesses dois primeiros dias de evento.

O anúncio dos nomes e da ordem final de classificação, além da premiação dos melhores cafés arábica e canéfora, acontece amanhã (22), último dia de Semana Internacional do Café, às 15h, no Grande Auditório.

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Mercado

Primeiro dia de SIC debate clima e novos consumidores

O evento, que vai até sexta (22), destacou, também, a necessidade da união de toda a cadeia

Trabalho conjunto. Seja ele feito a partir da união de toda a cadeia, seja integrando olhares voltados à sustentabilidade, qualidade e valor, a expressão, quase um conceito na cafeicultura atual, permeou as palestras do primeiro dia da 12ª edição da Semana Internacional do Café. 

O evento, que acontece até sexta (22) no Expominas, em Belo Horizonte (MG), teve como tema central “Como o clima, a ciência e os novos consumidores estão moldando o futuro do café”. As questões sobre o clima alertaram para os desafios enfrentados pela cadeia cafeeira, mas, também, para possíveis soluções. “O Brasil não está conseguindo produzir café suficiente para atender a demanda, mesmo batendo recordes”, alerta o especialista Haroldo Bonfá, da Pharos Consultoria e há 40 anos no ramo do café, na palestra de abertura “Cenários e perspectivas do cenário de cafés”. 

Haroldo Bonfá na palestra de abertura “Cenários e perspectivas do cenário de cafés”

A questão diz respeito à conjunção desordenada de seca, geada e chuva tardias, tanto no Brasil como no âmbito global. “Acidentes climáticos vão continuar”, frisa Márcio Ferreira, CEO da Tristão. “E medidas isoladas não são a solução”, emenda Marco Valerio Brito, da Cocamig, no painel “Visão global: executivos discutem os atuais desafios e oportunidades do setor”. 

Segundo os palestrantes, porém, nunca o setor esteve tão unido. Um exemplo disso é o compartilhamento de sementes de uma nova variedade de arábica –, a star4 (com período menor de crescimento e alta tolerância à ferrugem) desenvolvida pela Nestlé depois de mais de dez anos de pesquisas –, com a cadeia produtiva. “Se antes praticávamos uma agricultura sustentável, hoje incentivamos uma agricultura regenerativa”, diz Valéria Pardal, CEO de cafés da Nestlé Brasil, que participou do mesmo painel, referindo-se aos cuidados com o solo, com a água e à preservação da biodiversidade. 

Painel “Visão global: executivos discutem os atuais desafios e oportunidades do setor”, com Marco Valério, Valéria Pardal, Marcio Ferreira e Adriana Mejía

Ao lado dos impactos fortíssimos do clima, que têm se refletido no mercado a “geografia de consumo” também vai mudar. “Rápida e drasticamente”, sentencia Ferreira. “E essa geografia vai demandar mais e mais produção, precisão de tecnologia, ciência e bom preço”, conclui.

Ferreira refere-se aos mercados emergentes. “Temos um potencial tremendo, pois somos competitivos em preço e em qualidade, e temos que valorizar isso nos mercados lá fora”, esclarece Bonfá, referindo-se não só aos mercados emergentes, como China e Índia, como uma oportunidade – são países populosos e que ainda bebem pouco café (a China, por exemplo, bebe 300 g de café per capita ao ano) – mas, também, à manutenção dos países já conquistados. Mas o trabalho, frisou ele, é longo. “Temos todo o espectro de café necessário”, reforça o especialista. 

Trabalho conjunto. Um dos resultados, sem o qual todo ele seria em vão, é o convencimento não só desses novos mercados, mas, também, das novas gerações, quanto ao valor de uma xícara de café brasileiro de qualidade. “A visão do futuro do café é gelada”, aposta Valéria, com relação às bebidas cold brew, segmento que alcançou um crescimento de 40% no último ano. 

É preciso, portanto, entender o consumidor, que tem sede de conhecimento, quer novas experiências mas, também, um café ESG. Rastreabilidade e corresponsabilidade são, assim, conceitos que estão na ordem do dia. 

“Não existe revolução verde no vermelho”, lembra Felipe Salomão. A mitigação da emergência climática e a manutenção e crescimento do mercado não funcionam de maneira isolada. “A agricultura regenerativa é sistêmica”, continua Salomão, gerente-sênior de assuntos públicos da Nestlé Brasil no painel “COP 30: e eu com isso?”. “É preciso gestão, de caixa, de sucessão, de financiamento”, continua. “A cafeicultura sustentável é de um difícil equilíbrio entre produção e sustentabilidade”, ecoa José Donizeti Alves, professor titular da UFLA, ao discorrer sobre o impacto do clima no café sob ambos os aspectos no painel “Desafio climático: seus impactos e soluções verdes para uma nova era sustentável”.

Trabalho integrado. Como converter, por exemplo, economia verde em valor? Este foi o tom de Daniel Vargas, professor da FGV RJ, durante o mesmo painel. São necessários movimentos globais, como as negociações da COP, em nível nacional, como os debates sobre o mercado de carbono, e os movimentos locais, nas trocas voluntárias de carbono. Uma verdadeira aula, difícil de reproduzir nesta síntese. Mas cuja reflexão é necessária e urgente. 

“O futuro é a integração entre saúde e bem estar, sustentabilidade e sabor”, reflete Stefan Dierks, diretor de estratégia de sustentabilidade do grupo Melitta da Alemanha, que abriu o painel “O impacto das megatendências no consumo de café. “E a única forma de alcançarmos isso é trabalhando juntos”.

A SIC é uma realização de Sistema Faemg, Espresso & Co., Sebrae e Governo de Minas Gerais. Tem o apoio institucional do Sistema OCEMGE e patrocínio da CODEMG, 3corações, Nescafé, Nespresso, SICOOB, Yara, Melitta e Senar. O evento também conta com o apoio de ABIC, Abrasel, IWCA, Banco do Brasil, BSCA, Cecafé, Fecomercio, Fiemg, Ministério da Agricultura e Pecuária e Sindicafé-MG.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Mercado

SIC é palco de premiações e empreendedorismo

A Semana Internacional do Café, que começa nesta quarta (22), prevê gerar R$ 60 milhões em negócios

A Semana Internacional do Café (SIC), que começa nesta quarta-feira (20) em Belo Horizonte e é, tradicionalmente, um ponto de encontro para profissionais e empresas do setor cafeeiro no Brasil e na América Latina, também tem se consolidado como um polo estratégico para a geração de negócios, networking e desenvolvimento do mercado. 

O evento, que vai até sexta (22) traz uma agenda repleta de rodadas de negócios, palestras, feiras e concursos, numa plataforma única para conectar empreendedores e executivos a tendências e tecnologias emergentes, impulsionando a competitividade e a sustentabilidade do setor. É um evento essencial para quem busca não apenas expandir suas operações, mas também fortalecer suas redes e explorar oportunidades no mercado cafeeiro nacional e internacional.

Um dos melhores exemplos dessas oportunidades é a 13ª Coffee of the Year 2024, uma celebração que exalta a excelência e a diversidade dos cafés brasileiros, e gera impacto direto no mercado. A seleção dos 10 melhores produtores de arábica e dos cinco melhores de canéfora, feita pelo voto dos visitantes, impulsiona o trabalho dos finalistas, facilitando o acesso a novos mercados e consolidando a presença dos cafés brasileiros em mercados já existentes. 

Esse reconhecimento agrega valor aos cafés não só dos produtores premiados, mas de toda a região, e abre caminho para parcerias e negociações que fortalecem todo o ecossistema. 

Os cafés foram avaliados inicialmente por profissionais Q-Graders e R-Graders, que selecionaram as 180 melhores amostras para serem apresentadas ao público da Semana Internacional do Café. Esses cafés estarão disponíveis em duas salas de cupping, onde compradores e visitantes poderão provar e negociar diretamente com os produtores, criando um ambiente propício para novos negócios.

Novos negócios também acontecem entre os mais de 170 expositores distribuídos por todo o pavilhão da Expominas, que vão mostrar seus produtos, lançar novidades e apontar tendências. A estimativa para esta edição é movimentar cerca de R$ 60 milhões. 

Conectar-se com compradores é, também, um dos principais objetivos das regiões produtoras, que se organizam em estandes para oferecer degustações e informações sobre seus melhores produtos. A SIC, portanto, funciona como uma vitrine estratégica, capaz de abrir portas para novos mercados e oportunidades de negócios, além de impulsionar o desenvolvimento econômico e sustentável de cada território representado.

“A SIC é um importante evento para aproximar os produtores rurais, grandes responsáveis por essa liderança, e os demais elos do setor. Essa conexão viabiliza um terreno propício para parcerias e bons negócios e mostra ao consumidor final a qualidade e a importância dos nossos cafés”, destaca Antônio de Salvo, presidente do Sistema Faemg Senar, uma das entidades realizadoras. 

Oportunidades de negócios serão tratadas, também, em palestras durante a SIC. Uma das mais aguardadas será ministrada pelo especialista Haroldo Bonfá, diretor e consultor da Pharo Consultoria, que vai discorrer sobre o tema “Cenários e perspectivas do mercado de café”. Entre os assuntos abordados na palestra estão a abertura de novos mercados, dados sobre exportação para outros países, denominações de origem e novos consumidores. 

“Os números recordes nas exportações e a abertura de grandes mercados, como a China, são prova de que investir em tecnologia, inovações, assistência técnica e equilíbrio com o meio ambiente dá resultados. E a SIC é uma vitrine de tudo isso”, afirma o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Governo de Minas Gerais, Thales Fernandes.

Premiações

Além do COY, outras premiações acontecem no evento e são, sempre, uma celebração do trabalho de todos os elos da cadeia. Em sua 6a edição, o concurso Espresso Design tem o objetivo de avaliar e premiar as melhores embalagens de café de 2024, reconhecendo o compromisso das marcas de café que investem em comunicação e que impactam, diretamente, a maneira como o café de qualidade chega ao consumidor. 

Foram mais de 80 embalagens, avaliadas pela Equipe da Espresso e por especialistas convidados nos quesitos identidade visual, eficiência, conceito, originalidade e criatividade. Destas, surgiram as 20 embalagens finalistas, que nos dois primeiros dias de SIC, ficarão expostas e receberão os votos dos nossos visitantes. 

A grande final da competição Torrefação do Ano Brasil 2024, organizada pela Atilla Torradores e com o apoio da SIC, vai acontecer, pela segunda vez, no último dia do evento. Dentre as 20 torrefações finalistas, de mais de 18 estados inscritos, só uma leva o troféu.  

A SIC também é palco do Campeonato Brasileiro Blends de Café, uma realização da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). 

O campeonato, que está em sua segunda edição, promove e fomenta o conhecimento em torno da criação de blends de café, um saber fundamental para o trabalho das torrefações brasileiras. O resultado será conhecido, também, na sexta (22).

Por fim, a agitação do último dia ainda conta com a revelação do vencedor do Campeonato Brasileiro de Barismo, promovido pela BSCA e que acontece nos três dias de SIC. O campeão brasileiro irá representar o Brasil no campaonato mundial da categoria, que acontece em 2025 na Itália. 

Um tributo às regiões brasileiras

Uma obra completa sobre as indicações geográficas (IGs) terá seu lançamento na SIC. A Revolução do Café Brasileiro: Regiões com Indicação Geográfica reúne 14 regiões produtoras de café do Brasil. A obra explora as características de cada uma das áreas, com suas particularidades, métodos de cultivo e processamento dos cafés, além de incluir perfis sensoriais dos grãos. 

O livro surgiu da necessidade de oferecer uma visão abrangente da cadeia produtiva brasileira, desde a plantação até seu consumo. O Sicoob, instituição financeira cooperativa, é patrocinador da obra, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.  

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Cafezal

Por que o Brasil é a vanguarda da cafeicultura sustentável mundial

Cadeia organizada e proximidade entre seus agentes ajudam a promover boas práticas agrícolas e maior remuneração ao produtor

Atualizada em 18/11/2024, às 14h54

A sustentabilidade na cafeicultura brasileira não é um quadro monocromático. Produtores nacionais estão desenhando o caminho das boas práticas socioambientais, num mosaico de ações de âmbito local e internacional e que sublinham desde iniciativas pessoais até programas públicos, pincelados por projetos que envolvem cooperativas e associações. Há, porém, traços que borram essa tela: não há mensuração precisa de cafés provenientes dessas práticas. As certificadoras não abrem o número exato de cafezais certificados e a rastreabilidade tornou-se um desafio.

Mesmo assim, o Brasil é hoje referência mundial da cafeicultura sustentável. Tal posicionamento é reforçado em termos de escala. “A Costa Rica tem um trabalho interessante, mas numa proporção muito menor, pois exporta menos de 1 milhão de sacas”, diz a brasileira Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC). De fato, os números da cafeicultura nacional são superlativos. Maior produtor do mundo, no ano passado o país colheu 55 milhões de sacas, exportou 39,2 milhões delas e consumiu 21,7 milhões. “Muito da produção nacional fica no país. Não é brincadeira não, o que o Brasil destina ao mercado doméstico já é quase o que produz o Vietnã”, explica Vanusia, referindo-se ao país que é o segundo maior produtor do mundo. 

A sustentabilidade econômica que esses números geram tem pinceladas de todos os lados. Nos cenários estadual e federal, as iniciativas voltadas à sustentabilidade são múltiplas (veja em “para saber mais”, ao final da reportagem), como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que dá auxílio financeiro e suporte técnico aos cafeicultores. 

Com uma cadeia muito bem estruturada, o setor cafeeiro tem representações em todos os elos e bom entrosamento entre as esferas pública, privada e terceiro setor. “A gente tem uma política relevante, um centro de pesquisa extremamente importante e temos conseguido aumentar o volume de recursos para a pesquisa no Brasil”, analisa Vanusia, que destaca as ações do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira), que destinou R$ 400 milhões para estudos na última década (dados do Conselho Nacional do Café – CNC). “Ainda é pouco, mas temos alcançado resultados muito interessantes”, acrescenta.

Um deles é o aumento da produtividade no café, que, dos anos 1990 para cá, avançou 400% enquanto a área de plantio reduziu 55%, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). O trabalho de várias instituições científicas, como Embrapa e IAC (Instituto Agronômico de Campinas) – que pesquisaram variedades mais produtivas, por exemplo – além do de associações, cooperativas e acesso ao crédito fizeram com que o Brasil saltasse de uma produtividade média de oito sacas por hectare para 30 sacas nos últimos anos.

Segundo o IBGE, há 265 mil estabelecimentos rurais com café em território nacional – 70% deles com área abaixo de 20 hectares e 78% de agricultura familiar. Por isso, ter programas para disseminar sustentabilidade e contar com a proximidade de agentes da cadeia (cooperativas, torrefadoras, tradings e órgãos estaduais de assistência técnica) faz toda a diferença para os pequenos cafeicultores e reflete no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Em Minas, municípios com mais de 20 mil hectares de café têm IDH de 0,730, maior que a média de todos os municípios do estado (de 0,682).

Cafezal da Sancoffee, vencedora do 2024 Sustainability Award, da SCA

Sustentabilidade premiada

O cooperativismo faz diferença na difusão do conhecimento. “A profissionalização das cooperativas faz o Brasil estar no universo do ESG num nível de governança diferenciado, que não vemos em outros países”, explica a diretora da OIC. De fato, das 1.185 cooperativas do agro no país, 110 atuam no café (os dados são do Anuário do Cooperativismo do Sistema da Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB). 

Um bom exemplo é a Sancoffee, cooperativa de Campo das Vertentes (MG), que congrega 17 municípios. Fundada em 2000 por vinte produtores para agregar valor ao café e exportá-lo diretamente, viu-se num dilema em 2013, com demanda maior do que sua capacidade. Abrir capital ou aumentar o número de cooperados não era uma opção. A solução veio do próprio potencial da região. “Fizemos parcerias para criar governança para centenas de pequenos produtores, fomentar o associativismo e gerar treinamentos”, diz Fabrício Andrade, CEO da cooperativa. Assim nasceu o projeto Além das Fronteiras, cujo impacto aumenta ano após ano. Os 57 produtores iniciais e a exportação de 200 sacas transformaram-se, em 2023, em nove associações, 350 cafeicultores e mais de 11 mil sacas – o equivalente a quase 20% dos cafés exportados pela Sancoffee. Em termos de agregação de valor, isso equivale a um ágio (valor líquido) próximo de 28% quando comparado ao commodity. 

Menina dos olhos da Sancoffee, o Além das Fronteiras traz a essência do que é preciso para construir sustentabilidade. “Temos que atrair pessoas para trabalhar e enxergar o café como ferramenta de prosperidade da região”, acredita Andrade. No ano passado, a cooperativa faturou R$ 170 milhões. “Temos um arcabouço estrutural no nosso modelo de negócio que acredita ser possível fazer a diferença por meio do café, ter uma vida bacana e atrair novas gerações, tanto de produtores quanto de trabalhadores”, resume. 

A cooperativa já colhe frutos. “Por causa do uso de tecnologias e acesso ao mercado, temos visto jovens, filhos de pequenos produtores, que tinham feito faculdade e estavam trabalhando em outros lugares, retornar ao campo para ajudar os pais”, diz. Não por acaso, a Sancoffee venceu o 2024 Sustainability Award (categoria For-Profit), um dos principais prêmios de sustentabilidade do mundo, concedido pela Specialty Coffee Association (SCA). 

Entrelinhas 

Outro destaque na premiação foi a Fazenda Três Meninas, em Monte Carmelo (MG), que ficou entre os seis finalistas na mesma categoria. Referência em cafeicultura regenerativa, a propriedade de Paula Curiacos e Marcelo Urtado tem parcerias com universidades e atrai visitantes do mundo inteiro. O interesse é conhecer as práticas de agricultura climaticamente inteligente da fazenda, que resultaram num balanço negativo de carbono (- 5,16 toneladas por hectare/ano) e nas certificações do Imaflora (Preferred By Nature, Carbon on Track), da Rainforest Alliance e da Regenagri.

Pequena para os padrões do Cerrado Mineiro, a Fazenda Três Meninas tem 40 hectares de cafezais e é a prova de que a sustentabilidade não se restringe aos grandes produtores. Desde que compraram a propriedade em 2016, o casal começou um trabalho minucioso (confira os detalhes no box 2) para reconfigurar a maneira de produzir o grão. 

As entrelinhas do cafezal ganharam o plantio de forrageiras, que mantêm o solo sempre coberto. Quando roçadas, estas plantas transformam-se em adubo verde, que diminui a demanda de fertilizantes nitrogenados, os grandes vilões das emissões dos Gases do Efeito Estufa (GEE). Esse manejo também eliminou o uso de defensivos químicos e resultou na certificação SAT, de produção sem agrotóxicos, emitida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) por meio do Certifica Minas.

Recentemente, sob a orientação da academia, a Três Meninas implantou as “linhas de biodiversidade”. Elas nada mais são que florestas lineares – ruas de árvores e arbustos a cada 40 metros ou 11 ruas de café, que possibilitam a mecanização. “A biodiversidade é a base de uma agricultura equilibrada, porque nela é difícil uma praga se destacar”, ensina Urtado, que é engenheiro agrônomo, citando um dos benefícios dessa prática. O ideal é manter 30% de sombreamento. “Mas plantamos uma quantidade maior”, diz ele, que suprimiu 9% do cafezal para implantar as linhas. Nelas, ele também instalou um meliponário de abelhas nativas, já que a presença destes insetos pode aumentar a produtividade de 20% a 30%.

Linhas de biodiversidade nos cafezais da Fazenda Três Meninas

Quando as árvores estiverem adultas – e, se necessário –, algumas podem ser retiradas. Urtado não se preocupa com a perda. “Prefiro pensar que estamos garantindo a produção de 91% [dos pés de café]”. Segundo ele, estudos apontam que, com uma arborização adequada, mais do que manter, é possível aumentar a produtividade. Na Três Meninas, ela é de 54 sacas por hectare em média.

Na dianteira

Sim, a Fazenda Três Meninas faz muito além do habitual, mas, quando se trata dos aspectos socioambientais, o Brasil está numa posição de vanguarda. Todas as propriedades cafeeiras precisam seguir a Constituição Federal, que tem regras claras definidas pelo Código Florestal e pela Consolidação das Leis Trabalhistas. Este aparato legal é mandatório e tem um nível de exigência superior a vários países produtores.

Além disso, o setor cafeeiro tem se unido em ações pré-competitivas – aquelas em que empresas concorrentes trabalham juntas em pontos que preocupam a todos. Atendendo a demandas da cadeia cafeeira, a Plataforma Global do Café (GCP, na sigla em inglês) coordena duas delas (e que são prioritárias), como o “uso responsável de agroquímicos” e “trabalho e bem-estar na cafeicultura”. No primeiro caso, um dos vários ensinamentos oferecidos aos produtores pela Plataforma – associação internacional com mais de 40 membros no Brasil – é identificar e monitorar pragas e doenças para a tomada de decisão. “Se o ataque de broca for inferior a 5%, não causa prejuízo e não é preciso pulverizar”, detalha Eduardo Matavelli, consultor técnico da GCP. Quanto à iniciativa social, a plataforma esclarece sobre questões trabalhistas, saúde, segurança, remuneração e frentes de trabalho no campo.

Mas, afinal, por que o café do Brasil se destaca pela sustentabilidade? Um dos motivos é o ambiente institucional organizado, que permite ao produtor receber quase a totalidade do preço FOB do café exportado. “Os índices são 84,5% no arábica e 93% no conilon”, contabiliza Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

O único país produtor com um índice similar é o Vietnã, com uma transferência de 90%. “Nos outros países, a porcentagem varia entre 40% e 50%”, detalha Matos. A Etiópia, por exemplo, é conhecida por ter muitos atravessadores. Segundo Vanusia, as autoridades etíopes estão tentando mudar a sistemática para um modelo de compra mais direta. “Aquelas [cooperativas] que estão aplicando o novo modelo dizem que estão transferindo para os produtores os mesmos níveis de Brasil e Vietnã”, diz a diretora da OIC.

Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café

Números incertos

A quantidade de cafés sustentáveis produzida em território nacional, porém, ainda é incerta. Segundo o Cecafé, 18,6% dos grãos exportados no ano safra 23/24 enquadram-se no segmento de cafés diferenciados, que agregam valor por qualidade e/ou sustentabilidade (certificações).  “Mas este número não necessariamente representa a realidade, porque este campo de preenchimento na certificação de origem da OIC é voluntário”, comenta Matos. E, embora as fazendas de café brasileiras adotem várias certificações (Rainforest, FairTrade, IBD, 4C), falta transparência por parte das certificadoras quanto ao número de propriedades e área de cafezais auditados no país. 

Uma tendência é a criação de programas próprios de sustentabilidade pelas cooperativas e exportadores, como o Guaxupé Planet e o GMT Green. Elaborados, respectivamente, pela Exportadora de Café Guaxupé e pelo Grupo Montesanto Tavares, ambos seguem o processo denominado “mecanismo de equivalência” da GCP. Esse processo avalia se o programa está de acordo com um Código de Sustentabilidade, linguagem global de alinhamento da sustentabilidade no café desenvolvido pela plataforma. Nele, há pontos críticos que devem ser seguidos pelos cafeicultores. “Um deles é ter um programa de melhoria contínua, uma análise de riscos das propriedades e as ações para remediar riscos identificados, gerando melhores condições de vida ao produtor e beneficiando toda a cadeia”, explica Matavelli.

Na ponta final dela, não há dúvidas de que o consumidor olha cada dia mais para aspectos socioambientais ao decidir o que comprar. Prova disso é o relatório de Compras de Cafés Sustentáveis, recém-divulgado pela GCP. No ano passado, nove grandes torrefadoras e varejistas (JDE Peet’s, Julius Meinl, Melitta, Keurig Dr Pepper, Nestlé, Supracafé, Taylors, Tesco e Westrock) adquiriram 31,4 milhões de sacas de café de 39 países, sendo mais de 23 milhões delas, de grãos sustentáveis. O volume de cafés sustentáveis que representava 35% em 2019 passou para 74% em 2023.

À frente desse mosaico de sustentabilidade que é a cafeicultura brasileira está o desafio de se adequar ao EUDR (confira box 3), o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento, e de continuar o enfrentamento das mudanças climáticas. A cada seis safras, aponta o Cecafé, o Brasil perde uma por questões climáticas. Isso exige, cada vez mais, esforços conjuntos da cadeia para aprimorar as práticas de agricultura regenerativa e desenvolver novas cultivares resistentes ao estresse hídrico, para minimizar o impacto do aumento da temperatura global na produção cafeeira.

Rastreabilidade que desafia

No final de abril, em Bruxelas, o Brasil apresentou a autoridades do bloco europeu a Plataforma de Monitoramento Socioambiental Cafés do Brasil, desenvolvida pela Serasa Experian em parceria com o Cecafé. A ferramenta de rastreabilidade utiliza mais de 200 bancos de dados disponíveis para fazer o monitoramento socioambiental dos cafeicultores – incluindo a geolocalização de propriedades cafeeiras do Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro público obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de compor um banco de dados de informações ambientais de propriedades para controle, monitoramento e combate ao desmatamento.

Todas as legislações do Brasil, programas do governo de sustentabilidade na agricultura e ações e programas de sustentabilidade dos membros do Cecafé e de cooperativas e empresas nacionais e globais são reunidas numa pirâmide, cuja checagem por 24 horas é feita pela plataforma. “Costumo dizer que 40 milhões de cafés que a gente exporta são sustentáveis”, acredita Matos. 

Mas, então, qual é o receio do Brasil? A União Europeia exige rastreabilidade – a geolocalização dos produtos importados –, o que demanda uma força-tarefa nacional para fazer dois mapas desse tipo do parque cafeeiro: o de 31 de dezembro de 2020, data de corte do EUDR, e o atual. Sem isso, o Brasil terá que usar o que a Europa fornece, o mapa JRC (Joint Research Center), que avalia a cobertura florestal no mundo todo. “Por ser global, essa escala fica prejudicada e o mapa indica desmatamento em áreas de café consolidadas há mais de duas décadas”, problematiza Matos. É por isso que o Brasil e outros países produtores solicitaram às autoridades europeias a flexibilização da EUDR.

Para saber mais:

Agenda ESG 

No contexto federal, há várias ações na Agenda ESG (sigla em inglês para melhores práticas ambientais, sociais e de governança). Além do Pronaf, outra iniciativa que merece destaque é a do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que, só em 2023, capacitou 12,942 mil pessoas em 1,187 mil cursos presenciais sobre cafeicultura. A entidade também conta com um curso de ensino à distância (EAD) de sustentabilidade na produção cafeeira. São 5.421 matriculados desde o lançamento da plataforma Senar Play, em 2021.

E não para por aí. Há o programa Certifica Minas Café (MG), por exemplo, que orienta, em nível estadual, os cafeicultores sobre as boas práticas agrícolas reconhecidas internacionalmente e que já auditou e concedeu o selo para mil propriedades. Outro exemplo é a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), cujo foco em gestão e boas práticas agronômicas atende, em média, 40 mil cafeicultores mineiros por ano. Já o governo do Espírito Santo lançou, no ano passado, o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura Capixaba, que vai aportar R$ 5,45 milhões em ações de extensão rural para alcançar 8 mil produtores até 2026.

Biodiversidade na Três Meninas (MG)

O pontapé inicial rumo à sustentabilidade foi o plantio das forrageiras, cuja escolha depende da estação do ano e da finalidade desejada. O trigo mourisco, por exemplo, atrai os inimigos naturais de pragas do cafezal, como bicho-mineiro e broca-do-café. Quanto ao milheto, ele reduz os nematóides (vermes do solo que derrubam a produtividade), enquanto o nabo forrageiro descompacta o solo com suas raízes grossas, ajudando a infiltração da água. 

Já a arborização de um cafezal atenua os ventos, diminui a transmissão de doenças e cria um microclima propício para a produção cafeeira. Seguindo os ensinamentos da agricultura regenerativa, Urtado e Paula plantaram diversas espécies de árvores e arbustos. Ingá, erva baleeira, fedegosinho e fedegosão atraem inimigos naturais das pragas do café. A guapuruvu fixa nitrogênio e descontamina o solo, enquanto o jequitibá-rosa é uma espécie madeireira. 

A EUDR

O Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) – que proíbe a importação de produtos (entre eles, o café) provenientes de áreas desmatadas a partir de 31 de dezembro 2020 – está dependendo  da votação (que será em 17 de dezembro) dos órgãos regulatórios da União Europeia sobre um pacote de emendas, que irá definir se a lei entrará em vigor no final deste ano ou se será postergada. A União Europeia já publicou o guia de implementação (guidance), que orienta os países produtores sobre as medidas a serem adotadas. “Alguns pontos foram um pouco mais esclarecidos, outros seguem nebulosos, como a classificação de risco, que vai dizer qual país será de baixo, médio ou alto risco. A gente trabalha com a regionalização do risco, para que o problema da Amazônia não afete o nosso negócio”, diz Matos.

Números superlativos do café no Brasil 

  • 55 milhões de sacas colhidas (Conab)
  • 39,2 milhões de sacas exportadas (Cecafé)
  • 21,7 milhões de sacas consumidas no mercado interno (Abic)
  • R$ 400 milhões destinados à pesquisa cafeeira pelo Funcafé na última década

Representantes da cadeia cafeeira 

  • do setor produtivo: CNC (Conselho Nacional do Café) 
  • dos produtores: CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária)
  • dos exportadores: Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) 
  • das cooperativas: OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) 

TEXTO Lívia Andrade • FOTO Divulgação

Mercado

Lei Antidesmatamento é adiada por um ano no parlamento europeu

O Parlamento Europeu aprovou, nesta quinta (14), o adiamento de um ano para a entrada em vigor da lei antidesmatamento (EUDR, na sigla em inglês). Foram 371 votos a favor, 240 contra e 30 abstenções. Agora, só falta o texto ser endossado pelo Conselho e pelo Parlamento e publicado no Jornal Oficial da UE.  

A votação fez com que grandes e médias empresas entrem em conformidade com as regras da EUDR até 30 de dezembro de 2025, enquanto pequenas empresas têm até 30 de junho de 2026 para se adequar a elas. 

Além disso, o Parlamento Europeu criou uma nova categoria, denominada “sem risco”, para países considerados como de desenvolvimento de área florestal estável ou crescente, que, consequentemente, passarão a enfrentar requisitos menos rigorosos do que as categorias já existentes (risco “baixo”, “padrão” e “alto”).

Em outubro, a Comissão Europeia havia proposto o adiamento de 12 meses, após reclamações de um grupo de 20 países da UE, algumas empresas e países fora da UE, como Brasil, Indonésia e Estados Unidos.

Porém, não foram propostas alterações no conteúdo da lei, posição esta apoiada pelos governos da União Europeia. Segundo a agência de notícias Reuters, a votação apertada do parlamento para adicionar a nova categoria de países “sem risco” aumenta a incerteza sobre a regulamentação da  EUDR. 

A EUDR (European Union Deforestation Regulation) é uma regulamentação da União Europeia que visa combater o desmatamento global associado a sete produtos importados, como o café. Ela exige que empresas que importam para a UE comprovem que esses produtos não estão ligados ao desmatamento, nem ao uso de terras desmatadas após 31 de dezembro de 2020. 

TEXTO Redação • FOTO Simon Gibson

Mercado

Brasil vence o Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy

É a segunda vez consecutiva que o país é eleito na categoria Best the Best, desta vez, com a Fazenda Serra do Boné, nas Matas de Minas

O café despolpado da Fazenda Serra do Boné, de Matheus Lopes Sanglard, ganhou ontem, em Nova York, o prêmio Best of the Best, distinção concedida pela illycafè no âmbito do 9o Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy. O café campeão é um despolpado produzido em Araponga, nas Matas de Minas.

É a segunda vez consecutiva que o Brasil vence o prêmio da torrefadora italiana, que já existe há trinta anos e elege os melhores cafés sustentáveis entre seus fornecedores pelo mundo. A fazenda, que fornece grãos para a illy desde 2013, fica entre mil e 1,4 mil metros de altitude, em área montanhosa, o que exige colheita manual ou semimecanizada dos grãos. 

Os irmãos Sanglard, no recebimento do prêmio nesta quarta (12), em Nova York

O prêmio tem um painel independente de nove especialistas – este ano, contou com o estrelado chef italiano Massimo Bottura, da Osteria Francescana, em Módena –, que avaliaram os melhores lotes de café entre as nove origens únicas do blend da illycaffè. Além do Brasil foram avaliados cafés de Costa Rica, El Salvador, Etiópia, Guatemala, Honduras, Índia, Nicarágua e Ruanda. Participaram do júri, também, Felipe Rodrigues, chef do Complexo Rosewood, em São Paulo, e Vanúsia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC). 

 Outro prêmio, o Coffee Lovers’ Choice, ficou para o SMS Cluster ECOM, da Nicarágua. O Coffee Lovers’ Choice, como já sugere o nome, é resultado da votação dos consumidores pelo mundo que, semanas antes da premiação, provaram às cegas as mesmas amostras.

Práticas regenerativas 

“Nossas práticas agrícolas respeitam o meio ambiente”, afirmou Matheus Sanglard, em comunicado oficial da illy. Na Fazenda Serra do Boné, o uso de fertilizantes orgânicos, controle biológico e reutilização dos produtos de processamento (como a palha do café) preservam a saúde do solo, a biodiversidade e as fontes de água. Fazemos o plantio do café de forma a minimizar o impacto ambiental, utilizando roçadas ou capinas no lugar de herbicidas sempre que possível e realizando pulverizações contra doenças e pragas apenas quando necessário, de forma pontual”.

Para Andrea Illy, presidente da illycaffè, a empresa está “mais uma vez, notando sinais importantes que confirmam como a agricultura regenerativa é o caminho certo para uma produção mais resiliente, capaz de garantir produtividade e qualidade superior”.

No mesmo dia do evento, na sede das Nações Unidas, em Nova York, representantes de toda a cadeia de fornecimento do grão reuniram-se para a mesa redonda “Aliança Global do Café: Mobilizando um Fundo Público-Privado para Combater as Mudanças Climáticas”, que explorou iniciativas para promover a produção sustentável de café diante dos desafios climáticos.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação