CafezalMercado

Parlamento Europeu adia em um ano aplicação da Lei Antidesmatamento

Emenda retira obrigatoriedade de due diligence para operadores que vendem o produto após a entrada no mercado europeu

O Parlamento Europeu aprovou nesta quarta (26) o adiamento da aplicação da lei antidesmatamento para 30 de dezembro de 2026. O adiamento é uma das diversas emendas que simplificam a EUDR. Para micro e pequenas empresas, a prorrogação segue até junho de 2027.

Segundo comunicado divulgado para a imprensa pelo Parlamento, o prazo adicional busca “garantir uma transição tranquila” e permitir a implementação de medidas para reforçar o sistema de TI (criado pela União Europeia para implementação da lei e utilizado por operadores, comerciantes e representantes para emissão das declarações eletrônicas de diligência).

Além do adiamento, uma das emendas votadas estabelece que a responsabilidade de apresentar a declaração de due diligence recai sobre empresas que colocam o produto no mercado europeu pela primeira vez, retirando essa obrigatoriedade dos operadores que comercializam os produtos posteriormente. Também alivia as exigências para micro e pequenos produtores, que passam a entregar apenas uma declaração simplificada.

O texto foi aprovado por 402 votos a favor, 250 votos contra e 8 abstenções. A negociação segue agora para os representantes dos Estados-Membros no Conselho Europeu, e a versão final deve ser aprovada pelo Parlamento e pelo Conselho e publicada antes do final deste ano para que entre em vigor.

TEXTO Redação

Café & Preparos

Tarifa sobre o café solúvel brasileiro continua em 50%

A manutenção da sobretaxa sobre o café solúvel — apesar da isenção para o café verde anunciada por Trump — acende alerta no setor

A decisão do governo Donald Trump de zerar, na quinta (20), as tarifas adicionais de 40% impostas ao café brasileiro (e outros produtos) não incluiu o café solúvel. Para o produto, segue em vigor a sobretaxa de 40% somada à tarifa-base de 10% — um custo total de 50% que, segundo o setor, ameaça a posição histórica do Brasil no mercado norte-americano.

Em comunicado divulgado nesta sexta (21), a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) afirmou que “o mercado dos EUA é de vital importância estratégica para o Brasil” e chamou a atenção para um ponto considerado crítico: “A Abics alerta para o risco iminente de que o café solúvel brasileiro seja permanentemente substituído por produtos de outros destinos nas prateleiras dos supermercados americanos”.

A entidade reforça que, se isso ocorrer, “a recuperação futura será uma missão extremamente difícil, com perdas duradouras para toda a cadeia produtiva nacional, desde os cafeicultores até as indústrias e seus trabalhadores.”

Pela primeira vez na série histórica, os EUA deixaram de ser o principal destino do café solúvel brasileiro em outubro, cedendo lugar à Rússia. Desde agosto, início da vigência da tarifa extra, os embarques para o mercado americano caíram mais de 52% em volume.

A dimensão do mercado explica a preocupação. Em 2024, o Brasil respondeu por 38% das importações totais de solúvel dos EUA, um domínio construído ao longo de décadas. O país também representa cerca de 20% do volume total das exportações brasileiras de solúvel, gerando aproximadamente US$ 200 milhões por ano em receitas.

Com o café verde liberado das sobretaxas, mas o solúvel mantido em patamar elevado, o setor agora pressiona Brasília e Washington para uma negociação específica que evite o que classifica como um dano estrutural: perder, em poucos meses, um mercado conquistado ao longo de gerações.

TEXTO Redação

Mercado

“Há uma decepção”, diz Cecafé após isenção parcial de tarifas sobre o café

Com a retirada apenas da tarifa de 10%, mas não dos 40% adicionais aplicados ao Brasil pelos EUA, entidades do setor afirmam que a decisão mantém desvantagens competitivas 

Por Cristiana Couto e Caio Alonso Fontes

“O setor esperava já virar essa página.” A avaliação é de Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, ao comentar hoje pela manhã à Espresso a decisão dos Estados Unidos de retirar as tarifas de importação sobre o café de todos os países. “Nossa situação é pior [do que a de outros países] porque todos os nossos concorrentes já têm acordos bilaterais firmados ou só tinham a tarifa de 10% e que, agora, ficam zerados. A gente está com 40%”, analisa Matos, referindo-se, respectivamente, aos acordos firmados com Vietnã e Indonésia –que já operavam com tarifas menores –, à isenção total das tarifas para Colômbia, Etiópia e Costa Rica, e à ordem executiva 14.323, referente ao Brasil e que impôs uma tarifa adicional de 40%, vigente desde agosto.

A Casa Branca anunciou ontem (14) a isenção das “tarifas recíprocas” impostas pela ordem executiva 14.257, que fixava uma alíquota básica de 10% sobre café e outros produtos desde 5 de abril, com taxas específicas por país vigentes a partir de 9 de abril. Para Matos, a decisão deixou “uma decepção” no setor. Ele informou ter conversado ontem por telefone com o vice-presidente Geraldo Alckmin e disse ver agora necessidade de “foco total para a negociação acelerar”. Segundo ele, se a estratégia de isentar todos os produtos por 90 dias não avançar “porque há produtos que têm resistência”, o caminho deve ser negociar caso a caso e buscar a liberação imediata do café.

Em comunicado, a BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais) lamentou que a nova ordenação não inclua a retirada total das tarifas de 50% aplicadas aos cafés do Brasil, “especialmente aos cafés especiais”. Para a entidade, a manutenção dos 40% “amplia distorções no comércio e tende a intensificar, no curto prazo, a queda nas exportações de cafés especiais aos Estados Unidos”

CafezalIGs

Café é presença ativa na COP30 com debates, degustações e tecnologia na AgriZone

André Corrêa do Lago, presidente da COP30, degusta robusta amazônico (crédito: Embrapa)

Colaborou Enrique Alves, de Belém (PA)

O café tem sido um dos “participantes” mais ativos da COP30, que reúne 194 países em Belém (PA) até o dia 21. Em meio às discussões sobre clima e floresta, a bebida ocupa espaço destacado na AgriZone — área temática instalada na Embrapa Amazônia Oriental, a 1,8 km dos pavilhões oficiais —, com painéis, palestras, demonstrações técnicas e degustações que reforçam o peso do setor na agenda de sustentabilidade.

A AgriZone, com cerca de 3 mil hectares, concentra debates sobre segurança alimentar, bioeconomia, carbono e adaptação climática. Funciona como vitrine do agronegócio de baixo carbono e ponto de referência para quem busca entender o papel da agricultura nas negociações ambientais.

Cafés na “CUP30”
No dia 9, véspera da abertura oficial da COP30, a caravana dos robustas amazônicos já estava instalada no espaço. Segundo o pesquisador Enrique Alves, da Embrapa Rondônia, houve degustações de 30 cafés especiais — arábicas, conilons e robustas — de diferentes regiões, promovidas na Loja Bem Cafeinado, em uma ação batizada de CUP30.

Robustas amazônicos degustados antes da abertura oficial da COP30 (crédito: Embrapa)

No dia 10, a equipe de Rondônia levou à AgriZone uma “vitrine viva” com 50 clones de robustas amazônicos cultivados a pleno sol e em sistema agroflorestal com cacau, banana e açaí. Os materiais fazem parte do Projeto de Melhoramento Participativo da Embrapa, que envolve produtores no desenvolvimento de novas cultivares. “Este pode ser um grande legado agronômico na COP30”, acredita Alves. A programação conduzida pela instituição inclui debates, degustações assistidas e a apresentação de tecnologias sustentáveis.

Ainda no dia 10, na GreenZone (espaço oficial da COP30), o estande do Sebrae ofereceu aos visitantes cafés com Indicação Geográfica para degustação.

Arábicas e canéforas de diversas IGs são servidos no estande do Sebrae (crédito: Enrique Alves)

Nesta sexta (14), à tarde, entidades e lideranças da cafeicultura se reúnem no estande do Sistema CNA/Senar, também na AgriZone, para discutir temas prioritários. Representantes da BSCA, CNC, Cecafé, ABIC, Abics e CNA abrem a programação com breves exposições, seguidos por um painel que reúne produtores de arábicas e canéforas para discutir tecnologia, inovação, qualidade e práticas regenerativas.

Outro painel, formado por instituições parceiras, está previsto para tratar de dados e programas relacionados a clima, carbono, boas práticas, recuperação de nascentes, certificação e comunicação ao consumidor. Para o diretor-executivo da ABIC, Celírio Inácio, a presença do setor na COP30 “reforça que valorizar o produtor é, também, entregar um café que vá além das normas de qualidade”. Segundo ele, a evolução da indústria criou um ciclo virtuoso que elevou a exigência por melhores cafés e ampliou o consumo interno, consolidando o país como maior consumidor do que produz.

50 clones de robustas amazônicos na “vitrine viva” da AgriZone (crédito: Enrique Alves)

A agenda prossegue na sexta (15), quando a Coocacer Araguari apresenta, às 15h, o Programa Café Sustentável no espaço da Embrapa. A iniciativa, feita em parceria com a Serasa Experian, será detalhada a representantes de governos, instituições e empresas internacionais, com foco em conformidade socioambiental, inovação e monitoramento climático no cooperativismo cafeeiro.

Indígena prova café especial durante palestra na COP30 (crédito: Embrapa)

O que também já foi
Segundo a programação divulgada no site Luma, no primeiro dia da COP30 a AquaPraça — pavilhão italiano flutuante — sediaria o evento Soluções de Café Regenerativas, dedicado a debates sobre agricultura de baixo carbono e inovação climática. Entre os participantes previstos estavam a diretora-executiva da OIC, Vanúsia Nogueira, o diretor-geral de Cooperação para o Desenvolvimento da Itália, Stefano Gatti, e Andrea Illy, presidente da illycaffè.

TEXTO Redação

BaristaCafezalMercado

Premiações encerram a SIC 2025

Além do COY, outras premiações na sexta (7) celebraram o talento, a inovação e a diversidade do café brasileiro

O encerramento da Semana Internacional do Café 2025, nesta sexta (7), consagrou os melhores do ano no setor cafeeiro. No Grande Auditório do Expominas, em Belo Horizonte, foram revelados os vencedores das principais premiações que reconhecem a excelência, a criatividade e o impacto da cadeia do café no Brasil.

Coffee of the Year 2025

Um dos momentos mais aguardados da programação, a 14ª edição do Coffee of the Year (COY) coroou os melhores cafés do Brasil em 2025, consolidando o concurso como a principal vitrine da diversidade e da excelência da produção nacional. Na categoria arábica, o vencedor foi Guilherme Abreu Vieira, do Sítio Família Protazio, no Caparaó (MG), e na categoria canéfora, o primeiro lugar ficou para Carolinna Bridi Gomes, da Fazenda São Bento, nas Montanhas do Espírito Santo.

O concurso promove e valoriza os melhores cafés arábicas e canéforas do país. Foram 601 amostras de diferentes regiões do país – um recorde – analisadas por Q-Graders e R-Graders licenciados pelo Coffee Quality Institute (CQI). As 180 melhores amostras (150 de arábica e 30 de canéfora) foram oferecidas em rodadas de cupping para geração de negócios e degustação de visitantes da SIC. Os 10 melhores arábicas e os 5 melhores canéforas receberam o voto popular em degustações às cegas, que decidiram os dois campeões. Depois das premiações, aconteceu o Cupping dos Campeões nas salas de Cupping.

Carolinna Bridi e Guilherme Abreu Vieira, campeões do Coffee of the Year 2025

Espresso Design 2025

Em sua 7ª edição, o concurso promovido pela revista Espresso e que destaca as embalagens mais inspiradoras do ano abriu a tarde de premiações consagrando o Café Menina, com a coleção Por do Sol Sítio Menina. A campeã foi escolhida entre vinte embalagens finalistas, expostas nos dois primeiros dias da SIC para votação dos visitantes. O segundo lugar ficou com Soul Cafés, com a coleção Soul e Café, e o terceiro com Oli Cafés.

Com mais de 80 embalagens inscritas, o concurso avalia identidade visual, eficiência, conceito, originalidade e criatividade. Estes critérios foram avaliados pela equipe da Espresso e pela especialista convidada Andrea Menocci, consultora com mais de dez anos de experiência no mercado de cafés, com foco na adequação e desenvolvimento de rótulos.

Pódio do concurso Espresso Design, realizado pela Espresso

Torrefação do Ano Brasil 2025

Na 2ª edição da premiação Torrefação do Ano Brasil 2025, organizado pela Atilla Torradores, a torrefação campeã foi Do Coado ao Espresso, em Lauro de Freitas (BA). O segundo lugar ficou para Nélly Cafés Especiais, de Presidente Olegário (MG), e o terceiro para a torrefação William & Sons Coffee, de Porto Alegre (RS). O concurso, que valoriza o trabalho das torrefações de qualidade de todo o país, teve este ano 131 torrefações inscritas, de 18 estados. A final, que aconteceu durante a SIC, selecionou a melhor entre vinte finalistas.

Pódio do prêmio Torrefação do Ano, organizado pela Atilla Torradores

Campeonato Brasileiro Blends de Café ABIC

Minas Gerais foi consagrada no 3o Campeonato Brasileiro Blends de Café ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café). O concurso premiou Larissa Rinco, da Horlando Agro Coffee, em Albertina, como a grande Masterblender Brasil 2025. O segundo lugar ficou com Matheus Vazi, da Liv Logística Armazéns Gerais, de Varginha (MG), e o terceiro, Elder Caetano, da Nuance Cafés Especiais, de Araguari (MG).

O campeonato promove o conhecimento na criação de blends de café, destacando o trabalho de classificadores, degustadores e mestres de torra. Foram três etapas seletivas estaduais, com a final acontecendo no último dia da SIC. Os blends foram avaliados por um júri técnico a partir do Protocolo Brasileiro de Avaliação Sensorial de Cafés Torrados, desenvolvido pela associação.

Florada Premiada

O Concurso Florada Premiada 2025, promovido pelo Grupo 3corações em parceria com a BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais), reconhece as melhores produtoras de cafés especiais do Brasil. Na cerimônia de premiação que aconteceu pela manhã, o 1º lugar da categoria arábica (via úmida) ficou com Ângela Maria da Costa Oliveira, do Sítio Pedro Varinhas, em Manhuaçu (MG), e o 1º lugar da categoria arábica (via seca) com Amanda Evaristo Lacerda, da Forquilha do Rio, em Espera Feliz (MG). Na categoria canéfora, arrebanhou o prêmio Angela Maria Pessoa, do Café Sauá (Seringueiras, Rondônia). O concurso, que está em sua 8ª edição, valoriza o trabalho das mulheres na cafeicultura, promovendo a qualidade e a sustentabilidade na produção de cafés especiais.

Amanda Lacerda, do Sítio Forquilha do Rio, vencedora da categoria arábica (via seca)

Campeonatos Brasileiros de Barismo

A SIC também foi palco de três modalidades dos Campeonatos Brasileiros de Barismo: Barista, Latte Art e Coffee in Good Spirits. As apresentações aconteceram nos três dias de evento e, ao final do último, foram anunciados os campeões que representarão o Brasil nos Mundiais em 2026.

Na Brasileiro de Barista, o vencedor foi Daniel Vaz, da Five Roasters, do Rio de Janeiro (RJ). Ele, que levou o primeiro lugar em 2023 e o segundo em 2024, dividiu o pódio este ano com Gabriel Neiva, que ficou na segunda colocação, e Israela Gonçalves, que terminou em terceiro.

Pódio do Campeonato Brasileiro de Barista 2025

Na categoria Latte Art, o campeão também foi um nome conhecido: Eduardo Olímpio, da Naveia, de Curitiba (PR), que venceu a competição pela primeira vez em 2023. O segundo lugar foi para Tiago Rocha, da Naveia, de Curitiba (PR), e o terceiro para Gabriel Zanotelli, da Baden Torrefação, de Porto Alegre (RS).

No Coffee in Good Spirits, que avalia os melhores drinques alcoólicos com café, o bartender e barista Leo Oliva, de Curitiba (PR), sagrou-se bicampeão. Na sequência vieram Gustavo Leal, na segunda posição, e Gabriel Guimarães, da Unique Cafés, de São Lourenço (MG), em terceiro.

A Semana Internacional do Café (SIC) é uma realização Espresso&CO, Sistema Faemg Senar, Sebrae e Codemge, com apoio institucional do Sistema Ocemg. Conta com patrocínio diamante de 3corações Rituais, patrocínio ouro Anysort, Sicoob e Senac em Minas e patrocínio bronze de Nescafé, União e Yara. Apoio de ABIC, Abrasel, IWCA Brasil, BSCA, Cafés do Brasil, Cecafé, Ministério da Agricultura e Pecuária do Governo Federal, Sindicafé-MG. A Revista Espresso e o CaféPoint são as mídias oficiais.

FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Mercado

SIC 2025 reforça café sustentável como vetor de transformação

 No segundo dia da 13ª edição da Semana Internacional do Café, o conceito ESG ganha protagonismo em painéis dedicados à transição verde da cadeia cafeeira brasileira

O segundo dia da Semana Internacional do Café 2025 reafirmou não só a importância da implementação de uma cafeicultura sustentável como a ampliação da sua adoção. No Fórum de Cafeicultura Sustentável, espaço que desde 2014 se dedica a discutir práticas, desafios e inovações em torno da sustentabilidade, especialistas, produtores e executivos dialogaram sobre como o setor pode responder às exigências climáticas, sociais e de governança, ao mesmo tempo em que mantém produtividade e qualidade.

A incorporação dos princípios ESG vem se consolidando como um diferencial importante para as cooperativas de café no Brasil. Mais do que uma tendência, trata-se de uma transformação estrutural. “ESG é um comportamento, e não um setor da cooperativa”, declarou Simão Pedro de Lima, diretor-presidente da Expocacer, em sua participação no painel “Da terra à transformação: o valor da ESG das cooperativas de café”. A Expocacer investe em ações sustentáveis há duas décadas e hoje é a primeira cooperativa de café do mundo a conquistar o selo Regenagri, certificação internacional voltada à agricultura regenerativa. Com 750 cooperados e 100% de rastreabilidade em seus cafés, a cooperativa traduz a agenda ESG como uma filosofia de vida: “Café regenerativo não é modismo, é realidade e, por isso, precisa de escala”, resume Lima.

Mas como escalar a transição para uma agricultura sustentável? Esse foi também o questionamento de Luc Villain, da Ecoffee, um dos palestrantes do painel “Café e bioeconomia: novos caminhos para gerar valor com sustentabilidade”. Para o diretor científico da Ecoffee – consórcio de pesquisa pré-competitivo que conecta parceiros da ciência, da indústria e do campo para reduzir o uso de pesticidas sintéticos no café –, é preciso dar uma nova dimensão ao solo. “É preciso compreender o solo como um ecossistema”, ensina. Outro desafio para escalar o uso de bioinsumos passa pelo treinamento de técnicos que auxiliam os cafeicultores. 

Mas inspirar outros produtores também pode ser uma ferramenta poderosa. É o que fez o cafeicultor Jorge da Silva Souza, da Fazenda Raízes da Floresta, no Acre. “Ser sustentável não é tarefa fácil, ainda mais quando se está em uma área de preservação ambiental”, diz ele. Usar a casca de café como adubo na sua propriedade, por exemplo, inspirou seis famílias próximas à sua fazenda a adotarem a mesma prática. “Um bom exemplo arrasta pessoas”, ensina.

A cafeicultura brasileira também está avançando na adoção de gestão hídrica e uso de energias renováveis para garantir a resiliência da produção de café diante das mudanças climáticas. É o que revelou o painel “Gestão hídrica e energias renováveis na fazenda”, que ofereceu diferentes abordagens – do trabalho colaborativo em consórcios ao investimento individual – em busca de um futuro mais resiliente e produtivo. “O setor do café não vende apenas um produto, mas uma história, e a necessidade de boas práticas para contar essas histórias”, disse a cafeicultora paulista Daniella Pelosini, cafeicultora de Pardinho (SP) que mediou o painel. As práticas adotadas para o uso inteligente da água são variadas: Daniella investe, por exemplo, em descascadores de café que utilizam “zero água”.
Isaac Venturim, da Fazenda Venturim, no Espírito Santo, reutiliza a água do processo de despolpamento, faz irrigação por gotejamento e investiu no reflorestamento de sete nascentes e na construção de reservatórios, o que resultou em uma significativa reserva de água. “O objetivo futuro é usar a energia fotovoltaica para a secagem do café”, conta Venturim. Gianno Brito, produtor de café da Fazenda Vidigal, na Bahia, e consultor, também adota irrigação localizada (gotejamento) para otimizar o uso da água e destaca a importância do sombreamento das lavouras, que resulta na diminuição do consumo de água.

Dedicado a construir “paisagens produtivas e sustentáveis” no Cerrado Mineiro para garantir água para a produção de café e para as comunidades locais, o Consórcio Cerrado das Águas aposta, por exemplo, na restauração de áreas, implementando estratégias de solo nas lavouras para melhorá-lo. Um dos programas da plataforma colaborativa oferece aos produtores de uma determinada bacia hidrográfica serviços para o desenvolvimento ambiental das suas propriedades com foco em restauração, práticas agrícolas climaticamente inteligentes e gestão eficiente de recursos hídricos.

Uma celebração à sustentabilidade
O segundo dia da SIC 2025 terminou com uma celebração da sustentabilidade no evento COP na SIC, dedicado aos cafés robustas amazônicos, com degustação, coquetel com produtos da Amazônia e uma série de novidades. “É um momento de confraternização dedicado à construção de uma cafeicultura sustentável, saborosa, resiliente e amazônica”, disse o engenheiro agrônomo Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia e um dos organizadores da ação, que também marcou os dez anos da presença dos cafés de Rondônia na feira. Entre as novidades, estiveram o lançamento do livro Café Canéfora: Ciência, Sabor e Identidade e do minidocumentário Robusta Amazônico: Café, Orgulho, Identidade. A 3corações aproveitou a ocasião para lançar a primeira cápsula de robustas amazônicos, com grãos do cafeicultor Juan Travain, da Fazenda Selva Café, nas Matas de Rondônia. Durante o encontro, também, foi comunicado o primeiro concurso internacional The Best of Canephora, iniciativa que reforça o protagonismo dos robustas amazônicos no cenário global dos cafés especiais.

A Semana Internacional do Café (SIC) é uma realização Espresso&CO, Sistema Faemg Senar, Sebrae e Codemge, com apoio institucional do Sistema Ocemg. Conta com patrocínio diamante de 3corações Rituais, patrocínio ouro Anysort, Sicoob e Senac em Minas e patrocínio bronze de Nescafé, União e Yara. Apoio de ABIC, Abrasel, IWCA Brasil, BSCA, Cafés do Brasil, Cecafé, Ministério da Agricultura e Pecuária do Governo Federal, Sindicafé-MG. A Revista Espresso e o CaféPoint são as mídias oficiais.

Mercado

Transformação marca 1º dia de palestras da Semana Internacional do Café 2025

Painéis sobre clima, capital verde e melhoramento do café mostram que a transformação da cafeicultura brasileira passa por inovação, dados e sustentabilidade

Arena SIC, no centro da área de expositores, recebe paineis do Simpósio DNA Café e Fórum da Cafeicultura Sustentável

 “É tradição do café brasileiro fazer transformação com tecnologia”. A frase, poderosa e capaz de sintetizar a história moderna da cafeicultura brasileira, acaba de ser materializada no rebranding da marca Cafés do Brasil, cujo lançamento aconteceu na abertura da Semana Internacional do Café nesta quarta (5), no Expominas, em Belo Horizonte, com o tema “Café em Transformação–Inovação, Sustentabilidade e Oferta no Mercado Global”.

Representada pela letra T, adicionada à sigla ESG, o novo slogan ESGT  reposiciona a marca coletiva para reforçar globalmente a imagem do país como produtor sustentável e inovador, e que incorpora a tecnologia como motor da cafeicultura. “Precisamos saber contar nossas histórias, e de maneira competente”, resume Aguinaldo Lima, diretor da Abics (Associação Brasileira da Indústria de Café). Lima foi um dos palestrantes do painel Apresentação da marca Cafés do Brasil”. O objetivo do reposicionamento  da marca – que levou 11 meses para ser construída pelas principais entidades do setor de forma harmônica, ou seja, com a participação de toda a cadeia – foi atualizar a identidade da marca e consolidar  o café brasileiro como referência global em sustentabilidade, qualidade e inovação. Pois, no Brasil, a sustentabilidade é feita com tecnologia, a força motriz da cafeicultura nacional.

O trabalho também resultou em um novo logotipo – conduzido pela agência Design Bridge and Partners, que fez todo o rebranding – que, de acordo com Renoir Sell, diretor de estratégia da agência no Brasil, oferece uma identidade visual “contemporânea e competitiva”, que transmite a “percepção de movimento mas com elementos de reconhecimento”. 

A transformação também é uma das responsabilidades dos líderes. Três deles participaram do painel “Brasil e COP30: mudanças climáticas, sustentabilidade e protagonismo global”, que abriu as conferências do tradicional Simpósio DNA Café, que reúne especialistas para debater tendências de consumo, tecnologia, negócios e o futuro do setor cafeeiro. Apresentados pelo mediador Pedro Ronca, diretor da Plataforma Global do Café no Brasil, Marcos Matos, CEO do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café no Brasil), Fabricio Andrade, presidente da Comissão Nacional do Café da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e Natália Carr, gerente de ESG da Cooxupé, reforçaram a necessidade de o Brasil comunicar melhor suas conquistas ambientais e sociais, consolidando a imagem do café como parte da solução climática. “Ser líder é também ser alvo, e como líderes, não podemos descansar, temos uma agenda ambiental forte para apresentar”, resumiu Ronca, lembrando a proximidade da COP30 e o avanço da cafeicultura do Brasil em relação aos outros países produtores. “A produção, a qualidade e a sustentabilidade do café brasileiro tem evoluído muito rápido diante dos outros países”, concordou Fabricio Andrade. Para ele, embora nossa cadeia seja eficiente – cerca de 85% do FOB Santos vai para o cafeicultor –, é preciso vencer desafios, como implementar práticas de cultivo mais resilientes, gerar atrativos para manter jovens no campo e resolver problemas de logística e armazenamento do café. 

Na avaliação de Marcos Matos, a COP30 no Brasil coloca o café em uma “vitrine estratégica” e obriga o país a comunicar sua liderança em sustentabilidade com dados e “voz unificada”. “É preciso provar com métricas do ambiente tropical que a cafeicultura faz parte da solução climática, e não do problema: Temos uma agricultura de baixo carbono, com balanço de carbono negativo na lavoura”, observa. “Temos que fazer valer nossas informações e nossas regras; o agro brasileiro se organizou, exige respeito”, completa, referindo-se ao Fórum Brasileiro da Agricultura Tropical, iniciativa lançada em 2025 para posicionar a agricultura tropical brasileira como parte central das soluções globais para clima, segurança alimentar e energia.

Já Natália Carr reforçou que cooperativismo também faz parte da solução. “É uma forma de união, de distribuição de valores e, principalmente, de escala”, disse.

Inovações para enfrentar os atuais desafios foi a marca do painel “Mercado global em transformação: dinâmicas e caminhos”, que reuniu Marcos Matos (Cecafé), Aguinaldo Lima (Abics) e Pavel Cardoso (Abic) e abordou os efeitos do cenário geopolítico global sobre as exportações e a indústria de café. Para Matos, o momento geopolítico complexo faz com que seja preciso que o Brasil “trabalhe em conjunto, de forma organizada” para enfrentar legislações como o tarifaço dos EUA e as novas regras ambientais europeias. Segundo ele, o diferencial competitivo do café brasileiro é ter “origem confiável”.

Aguinaldo Lima ressaltou a necessidade do setor de café solúvel – cujo consumo global é de 28% – de se posicionar de forma mais estratégica. “Temos que ser mais agressivos em acordos comerciais”, ressaltou. Ao mesmo tempo, LIma relembrou o avanço na qualidade dos blends – com a emergência dos canéforas de qualidade – e destacou a inovação do setor com o desenvolvimento do protocolo de análise sensorial de café solúvel pela Abics, que auxilia a exportação, o consumo e o  posicionamento de mercado dos solúveis, além de ter potencial para ser mundialmente reconhecido.

Pavel Cardoso apontou a dificuldade da indústria de café em equilibrar a volatilidade dos preços sem transferi-la ao consumidor. Embora acredite que o momento difícil tenha sido “extremamente rico” para o amadurecimento da indústria de café, que conseguiu manter qualidade, Cardoso alertou para o crescimento da exportação de cafés robusta pelo Vietnã e destacou a necessidade da busca de mercados alternativos para o café brasileiro. “Corremos o risco de perder nossa posição para o Vietnã”.

Seguindo a lógica da capacidade de transformação da cafeicultura brasileira, o painel “Capital verde & ESG: uma oportunidade para o mercado de café” discutiu como mobilizar e democratizar o “capital verde” para financiar a transição regenerativa na cafeicultura, com foco em crédito, risco e acesso. Os palestrantes Felipe Vignoli, da Impacta  Finanças Sustentáveis, e Luisa Lembi, do BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais) apresentaram à audiência – a Arena SIC, onde aconteceram os paineis, permaneceu lotada ao longo do dia – como funciona esse tipo de financiamento, ainda uma novidade no Brasil. “Para poder mudar as coisas, é preciso capacitação técnica”, ensinou Luisa, sobre um dos eixos (a capacitação técnica gratuita) que norteia o programa AgroMinas, do BMDG, que promove a agricultura regenerativa na cafeicultura – o outro são as duas linhas de crédito que financiam práticas regenerativas via cooperativas de crédito. 

Vignoli, que fundou a Impacta com o objetivo de facilitar o fluxo de capital para empresas comprometidas com o desenvolvimento sustentável, aposta no blended finance (junção de diferentes tipos de financiadores): “Produzir um café em floresta, por exemplo, é diferente e, por isso, precisa de um mecanismo diferente”. Segundo ele, captar recursos para inovações como esta é “um caminho tortuoso”, mas que encontra vários atores disponíveis para isso. Porém, conectar as duas pontas (financiadores e produtores), em escala, é o grande desafio, embora não falte volume de dinheiro, mas acesso. Para os palestrantes, o futuro do crédito verde envolve, portanto, aproximação de diferentes atores, capacitação e suporte técnico, combinação de recursos e aumento de fontes de capital. “Quero, no futuro, ver que esse tipo de financiamento é algo comum”, almeja Vignoli. 

Inovador também é o tema do painel “Agricultura 5.0: integração inteligente de tecnologias, dados e sustentabilidade”. A começar pelo conceito “5.0”, uma evolução da agricultura 4.0 – uso de drones e agricultura de precisão, por exemplo – ao integrar ferramentas de inteligência artificial, robótica (automação de sistemas), biologia sintética (como plantas transgênicas, por exemplo) e impressão 3D e 4D no processo de desenvolvimento da tecnologia. 

A introdução ao conceito, sua aplicação na cafeicultura brasileira e exemplos de seu uso na Europa permearam o painel, comandado pelo pesquisador da Embrapa Maurílio de Oliveira e pelo CEO da Scicrop José Damico. “Um robô, com um processo de automação diferenciado e tecnologias embutidas, é capaz de tomar decisões em tempo real”, exemplifica Oliveira. 

Num cenário futuro, mas quase presente, o diferencial será o banco de dados de cada produtor. “O conjunto dos meus dados e desta tecnologia, que estará disponível para todos, pode trazer benefícios diferentes”, resume Damico. Segundo Oliveira, esse novo pacote – conhecido como “digitalização do agro” – embutido na agricultura 5.0 está sendo comparado à revolução trazida pela mecanização agrícola. Com uma conectividade  5G, fundamental para o processo, a agricultura 5.0 ganha independência. “Esse é o grande diferencial, pois não há mais segmentação do trabalho envolvendo o homem. Tudo é automatizado e acontece em tempo real, e isso já é uma realidade”, conta Oliveira. 

Drones que decidem onde aplicar nutrientes e robôs que colhem com precisão apenas frutos maduros são exemplos do que está chegando. Segundo os painelistas, a agricultura 5.0, ao facilitar a organização da produção de café e seu rastreamento, vai ajudar na tomada de decisões tanto em termos de propriedade como de região.

Na última apresentação do dia, “O DNA do café do futuro: como a genética molda a cafeicultura”, mais inovações, atreladas às mudanças climáticas, foram apresentadas pelos cientistas convidados para compor a apresentação. Um dos grandes destaques do painel foi o estudo da aplicação de edição gênica ao café. De acordo com Eveline Caixeta, pesquisadora da Embrapa Café, o “silenciamento” de genes indesejáveis é a próxima fronteira a ser vencida no café. Enquanto isso, avanços no melhoramento tanto de cafés arábica quanto de canéforas estão a todo vapor. Fabiano Tristão, coordenador de cafeicultura do Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural), depois de apresentar os avanços, nas últimas três décadas, no melhoramento dos conilons no Espírito Santo, vê o futuro da variedade a partir, por exemplo da seleção de clones com maior tolerância à doenças como a ferrugem, maior valor nutracêutico ou mais adaptados à mecanização. Daqui há 3 anos, o Incaper vai lançar, ainda, uma cultivar de altitude.

Já Gladyston Carvalho, pesquisador da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), apresentou a tecnologia presente nas novas cultivares de arábica – que resultaram, por exemplo, na inversão da cafeicultura no Cerrado, onde antes predominava a produtiva cultivar catuaí, desenvolvida nos anos 1970 pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas). “Os cafés brasileiros têm várias tecnologias simultâneas embarcadas”, frisa Carvalho. Sua aposta para o futuro dos arábicas é no desenvolvimento de clones de arábica que tenham produtividade maior e que levem menos tempo para originar novas cultivares.  

Provocados pelo mediador Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia quanto à variedade que irá se tornar o futuro da cafeicultura, os pesquisadores concordaram: o futuro é do café híbrido (conilon e robusta).

A Semana Internacional do Café (SIC) é uma realização Espresso&CO, Sistema Faemg Senar, Sebrae e Codemge, com apoio institucional do Sistema Ocemg. Conta com patrocínio diamante de 3corações Rituais, patrocínio ouro Anysort, Sicoob e Senac em Minas e patrocínio bronze de Nescafé, União e Yara. Apoio de ABIC, Abrasel, IWCA Brasil, BSCA, Cafés do Brasil, Cecafé, Ministério da Agricultura e Pecuária do Governo Federal, Sindicafé-MG. A Revista Espresso e o CaféPoint são as mídias oficiais.

Cafezal

Regiões produtoras ampliam presença e diversidade na 13ª Semana Internacional do Café

De Rondônia ao Caparaó Mineiro, as regiões produtoras ampliam sua presença na SIC 2025, reforçando a diversidade e a força territorial do café brasileiro

Pico da Bandeira, atração que integra as Rotas Turísticas do Caparaó Mineiro, estande que une café e turismo do Caparaó

Por Cristiana Couto

A 13ª edição da Semana Internacional do Café (SIC), que começa nesta quarta (5) em Belo Horizonte (MG), tem recebido cada vez mais diversidade de origens, sejam elas representadas por cooperativas, prefeituras ou com estandes próprios. 

Sob o tema “Café em transformação – inovação, sustentabilidade e oferta no mercado global”, a feira reflete a expansão e a consolidação da identidade territorial do café brasileiro, com novidades como o Paraná e o município mineiro de Conselheiro Pena, que estreiam este ano entre os expositores. “Na SIC, as origens do café ganham voz e protagonismo. São elas que revelam o sabor, a cultura e as pessoas por trás de cada xícara”, destaca Caio Alonso Fontes, da organização da SIC. 

Em um evento que deve reunir mais de 25 mil visitantes, mais de 200 expositores e movimentar cerca de R$ 150 milhões em negócios, a presença das regiões produtoras vem se firmando como um dos pilares da feira, seja ela emergente, consolidada ou em busca de reconhecimento. Estarão lá municípios e cafeicultores mineiros (Cerrado Mineiro, Mantiqueira de Minas, Sul de Minas), além de representantes do Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia e Acre.

Entre as novidades desta edição está Conselheiro Pena, localizada no Vale do Rio Doce (MG), que se apresenta pela primeira vez como região produtora de cafés especiais. “Recentemente, descobrimos que o nosso município possui um terroir muito específico, resultado da combinação entre clima, solo, topografia e biodiversidade local, fatores que influenciam diretamente a qualidade dos nossos cafés”, conta Eric Oliveira Dique, Secretário Municipal de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente.

O município, conhecido por sua biodiversidade e apelidado de “terra de gigantes” pelo tamanho generoso que as plantas nativas alcançam, aposta na cafeicultura familiar (são cerca de 400 cafeicultores) e em cafés de altitude (1.070 m) para construir sua reputação. “Toda essa riqueza natural se reflete no perfil sensorial dos nossos cafés, produzidos pelas mãos da agricultura familiar”, diz o secretário.

Cafeicultor de Conselheiro Pena (Minas Gerais), município que participa pela primeira vez da SIC

Seis representantes locais participam do evento, com o apoio da prefeitura, incluindo a tradicional indústria Frei Caneca, ao lado de cinco famílias que apresentam sua marca – todas elas inscreveram-se no Coffee of the Year este ano. Com 24m2, o estande traz arábicas locais para venda e degustação, grãos verdes e atrativos culturais que contam um pouco da história de Conselheiro Pena. “Participar da SIC, que é a vitrine do café na América Latina, representa o reconhecimento de um novo território produtor que começa a revelar seu potencial ao Brasil”, resume Dique, sobre o avanço da abertura de novas áreas dedicadas ao café no município. 

Outra novidade é o Paraná, que volta à feira em 2025 com estande próprio. No estande de 64 m2, o estado apresenta 24 expositores, entre produtores e associações de municípios como Apucarana, Jacarezinho, Santo Antônio da Platina, Maringá e Londrina, e cafeterias. Haverá degustação desses cafés em sistema de rodízio, além de seis cuppings temáticos, como o de cultivares desenvolvidas no estado, de grãos participantes do concurso de qualidade do Paraná e de amostras das IGs paranaenses já consagradas ou em processo de solicitação no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). “O café faz parte da história de sucesso do Paraná e hoje traz a qualidade de uma bebida, produzida com muito esmero para ser mostrada ao mundo na SIC”, comemora Lorian Voigt Gair, engenheira agrônoma da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná. 

O Acre também chega com uma das delegações mais diversas da feira, reunindo cerca de 30 produtores e incluindo, pela primeira vez, representantes indígenas. Os robustas amazônicos apresentados vêm de municípios como Mâncio Lima, Xapuri, Assis Brasil, Brasileia e Rio Branco — um recorte que vai do extremo oeste da Amazônia à tríplice fronteira com Peru e Bolívia. “A ideia é mostrar o avanço da cafeicultura acreana, que já movimenta praticamente todo o estado: dos 22 municípios, 19 produzem café, e cerca de 14 estão envolvidos na produção de cafés especiais”, comenta Michelma Lima, coordenadora do núcleo da cafeicultura da Secretaria de Estado da Agricultura do estado.

Produtora de robusta amazônico no Acre, estado que vem aumentando sua produção

A maior parte das amostras foi selecionada entre os 15 melhores do concurso QualiCafé, promovido pelo governo estadual. “Queremos mostrar que é possível produzir café de qualidade preservando a floresta”, destaca ela. “Participar da SIC, é uma forma de abrir portas para novos mercados, fortalecer parcerias e posicionar o Acre no mapa dos cafés especiais”, completa. 

Os robustas amazônicos de Rondônia, por sua vez, voltam a Belo Horizonte com força total, comemorando uma década de participação na SIC. Em um estande com 120 m2 que vai abrigar uma comitiva com mais de 100 pessoas, o público poderá provar mais de 140 quilos de grãos de robustas finos, com diferentes perfis sensoriais. Rondônia também vai promover o evento “COP na SIC” na quinta-feira (6), no Grande Auditório, com degustações técnicas, palestra e lançamento do livro Café Canéfora: Ciência, Sabor e Identidade e do minidocumentário Robusta Amazônico: Café, Orgulho, Identidade. “É um momento de imersão e confraternização dedicado à construção de uma cafeicultura sustentável, saborosa, resiliente e amazônica”, diz o engenheiro agrônomo Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia e um dos organizadores da ação. 

Parte do estande de Rondônia na SIC 2023; o estado comemora em 2025 a 10ª participação no evento

Este ano, o Caparaó participa da Semana Internacional do Café (SIC) 2025 com o estande Rotas Turísticas do Caparaó Mineiro. A rota integra turismo e cafeicultura, e reúne Alto Caparaó, Alto Jequitibá, Caparaó e Espera Feliz, que ficam no entorno do Parque Nacional do Caparaó e englobam 49 municípios. O público poderá conhecer cafés premiados e participar de três atrações com café, como o preparo na xícara. “A Rota do Caparaó não é apenas café: é experiência, turismo, cultura e memória afetiva”, diz Ramiro Aguiar, presidente da Agência de Desenvolvimento do Caparaó Mineiro. 

Pioneira em denominação de origem de café no país, o Cerrado Mineiro celebra duas décadas do registro de indicação geográfica com um estande de 240 m². Durante a feira, o público poderá acompanhar sessões diárias de cupping com cooperativas e conhecer os campeões do 13º Prêmio Região do Cerrado Mineiro, avaliado este ano pelo novo protocolo Coffee Value Assessment (CVA), desenvolvido pela SCA (Specialty Coffee Association) – a nova categoria Doce Cerrado Mineiro será apresentada pela primeira vez no estande. “Celebrar duas décadas da indicação geográfica na SIC é reafirmar nosso compromisso com a origem e com o valor agregado da cadeia produtiva”, destaca Juliano Tarabal, diretor-executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado.

De norte a sul, as regiões produtoras presentes na SIC comprovam que o futuro do café brasileiro passa pelo reconhecimento de origem – de muitas origens.

TEXTO Cristiana Couto

Mercado

Minas consagra os três campeões do Cup of Excellence 2025

A final da 26a edição do concurso, que aconteceu neste sábado (1o) em São Paulo, premiou Mantiqueira de Minas, Cerrado Mineiro e Sul de Minas

Por Cristiana Couto

Mantiqueira de Minas, Cerrado Mineiro e Sul de Minas foram as regiões vencedoras da 26a edição do Cup of Excellence, reveladas neste sábado (1o) no Diamond House, na capital paulista. A competição, que nasceu em 1999 no Brasil e hoje acontece em 11 países, premiou os melhores cafés de qualidade brasileiros da espécie arábica em três categorias: via seca, via úmida e experimental – as duas últimas, introduzidas em 2023.

Na categoria via seca (cafés de processamento natural), o vencedor é a Fazenda Aracaçu, de Três Pontas, no Sul de Minas, com a variedade arara, que alcançou 90,79 pontos. Na categoria via úmida (cafés despolpados, descascados ou desmucilados), sagrou-se campeão, também, um arara, este da Fazenda Água Limpa, em Campos Altos (Cerrado Mineiro), que obteve 91,37 pontos. E na categoria experimental (que agrega cafés fermentados de várias maneiras), ganhou um arábica da variedade gesha da Fazenda Rio Verde, em Conceição do Rio Doce (Mantiqueira de Minas), com 91,68 pontos (veja a lista dos finalistas aqui).

A novidade em 2025 é a consagração de um produtor que apresenta consistência, ao longo dos anos, na alta qualidade dos lotes que envia ao concurso e que, também, deixa um legado para outros cafeicultores. O produtor Luiz Paulo Dias Pereira Filho, da Fazenda Santuário Sul, em Carmo de Minas, recebe o novo título “Lendas da Excelência” (“Legends of Excellence”, na versão original). Participante desde o início, ele já ficou 23 vezes entre os melhores da competição. A nova distinção será atribuída a mais cinco produtores no mundo. “Este prêmio não é meu, é do Brasil”, disse Pereira, ao receber o troféu.

Nos últimos anos, a principal tendência do concurso tem sido o aumento no número de regiões destacadas. “Isso fortalece a marca brasileira, que é de diversidade e capacidade de inovação”, diz Vinícius Estrela, diretor-executivo da BSCA, uma das organizadoras do CoE no Brasil. 

E eem 2025, o concurso foi marcado pela presença de muitas variedades brasileiras. “Isso mostra que os juízes internacionais estão conseguindo valorizar as variedades brasileiras da mesma forma que outras”, explica Estrela.

Os 30 melhores cafés (pontuados igual ou acima de 87), provados por júri nacional e internacional, seguem para o leilão Cup of Excellence (virtual e internacional). Este ano, foram 615 amostras enviadas, e o leilão dos cafés brasileiros acontece em 9 de dezembro. Além da BSCA, o concurso no Brasil é organizado pela Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e pela ACE (Alliance for Coffee Excellence).

A China como fiadora do mercado do café

Por Gustavo Paiva

Nas últimas semanas, vivenciamos a escalada das tensões tarifárias impostas pelo presidente Donald Trump a aliados e adversários dos Estados Unidos ao redor do mundo. Entre os quinze maiores produtores de café robusta e arábica, mais da metade sofreu algum tipo de aumento tarifário. Entre os quinze maiores consumidores, em sua maioria países europeus e aliados dos EUA, absolutamente todos sofreram aumento.

Em um momento de níveis historicamente baixos de estoque e de consumo relativamente resiliente ao aumento de preços, pode-se perguntar quem seriam os grandes vencedores e perdedores de tais tarifas. O produtor brasileiro, no momento, tem a preocupação legítima em relação ao final da sua própria safra, e como comercializar o produto que acabou de ser colhido.

Primeiro, os grandes perdedores deste novo sistema tarifário tendem a ser as empresas e consumidores de países não produtores de café. Importante lembrar que as empresas nestes países consumidores estão trabalhando com estoques baixos devido ao aumento na taxa de juros nos países importadores, e ao aumento do preço devido à baixa produção das últimas safras.

Este cenário implicou em um corte na margem de lucro ou no repasse do aumento do preço ao consumidor final. Sem muita margem de manobra, empresas terão de arcar com um novo corte de lucro ou, então, um novo repasse ao consumidor. Importante lembrar que uma parte relevante das exportações de café é feita entre as próprias multinacionais, em que a empresa exportadora faz parte do mesmo conglomerado que a empresa importadora.

Do lado ganhador, até o momento, encontra-se antes de mais ninguém a China. Devido a esta conjunção de fatores, o país tem uma chance histórica: a possibilidade de deixar de ser um promissor mercado emergente, para ser um ator central no presente e detentor de consideráveis níveis de estoques de cafés.

É válido ressaltar que, mesmo que não se consuma uma quantidade importante de café, qualquer país pode ser um agente relevante do mercado, comprando e vendendo contratos e pressionando o preço para cima ou para baixo conforme seus próprios interesses. 

Só neste ano, o governo de Pequim reservou pouco mais de US$ 24 bilhões apenas para estocar cereais, óleos alimentícios e outros itens. A ideia por trás desta medida é implementar uma reserva de produtos alimentares que não são produzidos na China e reduzir a dependência chinesa de outros países como Estados Unidos, Brasil e membros da União Europeia. Ainda não está claro se tal estratégia seria praticada no café, visto que o consumo per capita anda baixo.

Recentemente, a China habilitou diversos exportadores brasileiros a comercializarem com o país. Mesmo que a iniciativa não signifique a certeza de comércio, ela acaba facilitando o fluxo de transação do grão brasileiro e simplifica a burocracia para exportar. As importações de café pela China bateram recordes até 2023, recuando um pouco no ano seguinte.

Ainda no cenário do sudeste asiático, temos grandes países produtores com uma considerável população consumidora, que ainda consome um volume relativamente baixo por questões culturais e financeiras. Com a queda do preço no mercado interno, consumidores locais podem ter um incentivo à mudança cultural e substituir o café pelo chá. 

Ou, ainda, um incentivo ao comércio regional dentro dos países membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático, que conta com dois grandes produtores de café – Indonésia e Vietnã –, um grande consumidor – Filipinas –, e uma população total de 670 milhões de pessoas, três vezes maior do que a população brasileira.

Portanto, se a estratégia do governo de Donald Trump buscava distanciar o Brasil da China e causar prejuízos às empresas daqui, a medida pode estar chegando em um péssimo momento e acabar gerando um efeito reverso. Os estoques de café e outros produtos alimentares estão historicamente baixos nos Estados Unidos, o que pode implicar um aumento de preços e inflação no curto prazo. Além disso, pode acabar aumentando a importância da China em mercados onde os Estados Unidos possuíam hegemonia, fazendo, ainda, o país perder o poder de barganha e de acesso aos estoques de matérias-primas.