Café & Preparos

SIC 2025 discute inovação, sustentabilidade e oferta global de café

Evento que acontece de 5 a 7 de novembro em Belo Horizonte (MG) espera receber 25 mil visitantes e movimentar R$ 150 milhões em negócios

Em sua 13ª edição, a Semana Internacional do Café, maior encontro de café do Brasil, terá como tema “Café em transformação – inovação, sustentabilidade e oferta no mercado global”. A programação inclui painéis, palestras e workshops sobre COP30, ESG, inteligência artificial no agro, genética, bioeconomia, cafeicultura regenerativa e gestão hídrica, entre outros tópicos que vão do campo à xícara.

O evento, realizado no Expominas, em Belo Horizonte (MG)  entre 5 e 7 de novembro, contará com 190 estandes de maquinário, torrefações, métodos de preparo, acessórios e regiões produtoras. O novo espaço Festival Café da Semana reunirá marcas de café, cafeterias e a já conhecida Cafeteria Modelo. Este ano, o evento espera receber 25 mil visitantes de mais de 40 países e tem expectativa de movimentar R$ 150 milhões em negócios. 

Durante os três dias, haverá rodadas de cupping com cafés de origens como Matas de Minas, Mantiqueira de Minas, Região Vulcânica, Sudoeste de Minas, Campo das Vertentes e Chapada de Minas, entre outras. Os finalistas do Coffee of the Year também poderão ser provados pelo público.

Credenciamento

Os dias 5 e 6 são voltados a profissionais do setor. Neste ano, consumidores finais terão acesso apenas no último dia (7). O ingresso custa R$ 70. Já profissionais em formação e entusiastas podem pagar R$ 150 para os três dias. Produtores com CNPJ ou código rural têm entrada gratuita. O credenciamento, individual, pode ser feito pelo site ou no local. A credencial pode ser impressa antes do evento ou nos balcões de autoatendimento no evento.

Premiações Coffee of the Year e Espresso Design

A SIC é palco de diversas premiações, como o tradicional Coffee of the Year, que reune os melhores cafés do Brasil e reconhece os grandes destaques do ano. Produtores brasileiros podem inscrever seus cafés nas categorias arábica e canéfora, por R$ 190. Cada CPF deve fazer apenas uma inscrição. As amostras (3 kg) devem ser enviadas até 6/10 para o Centro de Excelência em Cafeicultura – Senar. Confira aqui o regulamento completo da edição e o link de inscrição. A premiação acontece no último dia de SIC, no Grande Auditório.

Outro destaque é o Espresso Design, que chega à 7ª edição. A competição tem o objetivo de fortalecer o setor e destacar a importância do design e da embalagem para a promoção de marcas e produtos. As inscrições são gratuitas: basta preencher o formulário de inscrição e mandar a embalagem para a comissão do concurso. As 20 embalagens escolhidas pela comissão ficam expostas nos dois primeiros dias de SIC, para votação do público. As três mais bem votadas são premiadas no último dia do evento, no Grande Auditório.

Semana Internacional do Café
Quando: 5 a 7 de novembro
Horário: das 10h às 19h
Onde: Expominas (avenida Amazonas, 6.200 – Gameleira – Belo Horizonte, MG)
Mais informações e credenciamento: www.semanainternacionaldocafe.com.br 

Mercado

Brasil tem queda de 17,5% nas exportações de agosto

O recuo, em comparação a 2024, reflete o impacto da menor oferta de grãos e do tarifaço dos EUA; Alemanha supera americanos como principal destino

 

O Brasil exportou 3,14 milhões de sacas de café em agosto – um recuo de 17,5% em relação ao mesmo mês de 2024, segundo relatório do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) emitido nesta terça (9). 

Apesar da retração no volume, a receita avançou 12,7%, para US$ 1,1 bilhão, impulsionada pela alta das cotações internacionais. A redução já era esperada, afirma o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, após o recorde do ano passado e diante de uma safra menor. O tarifaço de 50% imposto pelo governo Donald Trump sobre o café brasileiro ampliou a queda.

Com isso, os Estados Unidos deixam a liderança do ranking mensal de compradores. Foram 301 mil sacas — negócios fechados antes da taxação —, queda de 46% ante agosto de 2024 e de 26% frente a julho deste ano. A Alemanha assumiu a ponta, com 414 mil sacas.

Ferreira avalia que o tarifaço desorganizou o mercado, acentuando a volatilidade e abrindo espaço para especulação. Entre 7 e 31 de agosto, o arábica disparou 29,7% na Bolsa de Nova York, de US$ 2,978 para US$ 3,861 por libra-peso.

“Se a tarifa se mantiver, as exportações brasileiras aos EUA seguirão inviáveis. O consumidor americano também pagará mais caro, já que não há outros países capazes de suprir a ausência do Brasil”, diz Ferreira.

Acumulado do ano

De janeiro a agosto, o Brasil exportou 25,3 milhões de sacas – queda de 20,9% em relação ao mesmo período de 2024. A receita, no entanto, é recorde: US$ 9,7 bilhões.

Os EUA seguem como principais compradores no acumulado, com 4,03 milhões de sacas (15,9% do total), mesmo com recuo de 20,8% frente a 2024. Na sequência aparecem Alemanha (3,07 milhões, -32,9%), Itália (1,98 milhão, -23,6%), Japão (1,67 milhão, +15,6%) e Bélgica (1,52 milhão, -48,3%).

Tipos e cafés diferenciados

O arábica respondeu por 79,8% das exportações no período, com 20,2 milhões de sacas (-13%). O canéfora somou 2,57 milhões (10,1%), seguido pelo solúvel (2,51 milhões, 9,9%).

Os cafés diferenciados — com certificações ou qualidade superior — atingiram 5,1 milhões de sacas (20,1% do total), queda de 9,3% no volume, mas com receita de US$ 2,18 bilhões (+54,2%). O preço médio foi de US$ 427 por saca. Os EUA lideraram as compras, seguidos por Alemanha, Bélgica, Holanda e Itália.

Portos

O Porto de Santos concentrou 80,2% das exportações nos oito primeiros meses de 2025, com 20,3 milhões de sacas. O Rio de Janeiro respondeu por 15,8% e Paranaguá, por 1%.

TEXTO Redação

Cafezal

Rainforest Alliance lança certificação de agricultura regenerativa para o café

Novo selo de agricultura regenerativa, que começará a aparecer em 2026, mede impacto sobre solo, biodiversidade e renda de cafeicultores no Brasil e em três outros países

A Rainforest Alliance anunciou nesta segunda-feira (9) o lançamento de sua nova certificação de agricultura regenerativa (AR), voltada inicialmente para a cafeicultura. O selo começará a aparecer nos produtos a partir de 2026 e já está sendo implementado em fazendas no Brasil, Costa Rica, México e Nicarágua. A organização prevê ainda expandir a certificação, no mesmo ano, para cacau, frutas cítricas e chá.

O objetivo é estimular produtores e empresas a restaurar ecossistemas em paisagens tropicais, em um momento crítico de mudanças climáticas e pressões socioeconômicas que afetam sobretudo pequenos agricultores — responsáveis por 70% do café produzido no mundo.

“É hora de fazermos a transição para um novo modelo de agricultura – em que cada xícara de café devolva mais do que retira da terra e das pessoas que se importam com ela”, afirmou o CEO da Rainforest Alliance, Santiago Gowland, em comunicado à imprensa.

A certificação foi desenvolvida ao longo de anos de pesquisas em conjunto com produtores e empresas. Estudos recentes mostram que práticas regenerativas podem elevar a renda dos agricultores em até 30%. O modelo mede progresso e resultados em cinco áreas: saúde e fertilidade do solo, resiliência climática, biodiversidade, gestão da água e meios de vida. A verificação será feita por auditoria periódica e independente.

Segundo a Rainforest Alliance, o Brasil é estratégico para o avanço da agricultura regenerativa, especialmente no setor cafeeiro. Em entrevista à Espresso, Yuri Feres, diretor da organização no Brasil, afirmou que a nova certificação fortalece a resiliência dos produtores frente às mudanças climáticas, amplia o acesso a mercados internacionais exigentes e gera valor agregado por meio da restauração de ecossistemas e da inclusão de pequenos agricultores e comunidades locais. “Mais do que mitigar impactos, a nova norma busca promover a regeneração do solo, a proteção da biodiversidade e assegurar renda digna aos produtores, posicionando o café certificado como um produto que alia qualidade, sustentabilidade e impacto positivo para as pessoas e o meio ambiente”, disse.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação/Rainforest Alliance

Cafeteria & Afins

Cafeteria Longão une café e corrida na Vila Buarque (SP)

Por Gabriela Kaneto

Por mais de meio século, o número 278 da rua Dr. Cesário Mota Júnior, na Vila Buarque, abrigou a farmácia do seu João, figura conhecida no bairro. Após a morte do proprietário, o espaço de balcões antigos e atmosfera de máquina do tempo deu lugar a uma cafeteria moderna, símbolo da nova fase da região.

Por trás do novo empreendimento está o fotógrafo e filmmaker André Dip. Maratonista e apreciador de cafés especiais, ele decidiu transformar as duas paixões em negócio e, há um mês, abriu a Longão. “Nossa ideia é que as pessoas saiam um pouco do centro de São Paulo, deem uma relaxada, venham com calma”, explicou Dip à Espresso

Balcão de preparo da Longão e André Dip (à direita)

O balcão e as prateleiras de cimento destacam as banquetas coloridas e a parede tomada por vinis ao lado da vitrola que embala o ambiente. No fundo, um jardim de inverno suaviza a estética brutalista. Há ainda uma arara com roupas esportivas e a balança original da antiga farmácia, lembrança da história do espaço. Quase escondida, uma sauna atende esportistas que querem desacelerar. 

A cafeteria usa grãos próprios, cultivados em diferentes regiões do país e torrados pela CA.OS Café, do interior paulista. O cardápio traz ainda opções internacionais rotativas — no dia da visita, México e Costa Rica, torrados pela brasileira Square Deal e pela dinamarquesa La Cabra. No espresso, a casa aposta em um blend de catuaí amarelo lavado do Sul de Minas com robusta amazônico natural do Acre.

“Temos uma pegada meio de laboratório”, conta Dip, referindo-se aos métodos de preparo, que variam entre v60, hario suiren, origami, clever, melitta, o dripper flatbed da Loveramics e o espresso, que pode ser extraído de uma Rocket ou manualmente na Bruta. Matcha, matcha latte, chá mate com limão e chá de hibisco, maracujá e gengibre enriquecem o cardápio.

Cafés do México e da Costa Rica filtrados na hario suiren (à esquerda) e pão de queijo, roll de queijo e cheesecake de chocolate (à direita)

O menu de comidas, enxuto, varia conforme o dia. Em nossa visita, havia pão de queijo, roll de queijo, sanduíche, cinnamon, cookie e cheesecake de chocolate e de frutas vermelhas. Os quitutes são produzidos, de preferência, por parceiros do bairro, como a padaria artesanal Seu Filão e a Kosmos Bakeshop. Aos finais de semana entram novas opções. 

Além do serviço de cafeteria, a Longão aposta em eventos e parcerias. Já promoveu aulas de ioga para corredores, um almoço com o restaurante Niko Niko e o lançamento de peças da marca Dies Mercuri.

Informações sobre a Cafeteria

Endereço Rua Dr. Cesário Mota Júnior, 278
Bairro Vila Buarque
Cidade São Paulo
Estado São Paulo
Website http://www.instagram.com/_longao
Horário de Atendimento de quarta a domingo, das 9h às 18h
TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO Gabriela Kaneto e Letícia Souza

Mercado

Nestlé vai investir R$ 1 bilhão em fábrica de cafés solúveis em Araras (SP)

A modernização inclui uma nova linha de extração de café equipada com tecnologias de inteligência artificial para monitorar etapas como torra 

A Nestlé comunicou oficialmente que vai investir cerca de R$ 1 bilhão até 2028 na modernização e ampliação de sua fábrica de cafés solúveis em Araras, no interior paulista. O aporte faz parte do plano de R$ 7 bilhões anunciado neste ano para o Brasil e prevê aumento de 10% na capacidade de produção da unidade, que exporta para 65 países.

Segundo a companhia, a modernização inclui uma nova linha de extração de café equipada com tecnologias de inteligência artificial para monitorar etapas como torra, além de recursos da chamada Indústria 4.0. Segundo a empresa, já houve redução de 30% em paradas não planejadas e aumento de 16% na produtividade desde a adoção desses sistemas.

O investimento se soma aos R$ 500 milhões anunciados no primeiro semestre para ampliar o portfólio e a produção de cafés no país.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Washington reedita Acordo de Taubaté

Por Celso Vegro

Em 1905, o então quinto presidente da República Federativa do Brasil, advogado e juiz de direito Francisco de Paula Rodrigues Alves (que já havia sido governador da Província de São Paulo), assinou uma emenda à lei do orçamento federal autorizando o ente federativo a entrar em acordo com os estados em que a produção cafeeira era a principal atividade econômica para regular o mercado de café (aval federal aos empréstimos concedidos aos estados) e promover o aumento do consumo da bebida.

A contrapartida dos estados consistia em oferecer depósitos em ouro suficientes para garantir o montante principal acrescido de juros incidentes aos empréstimos concedidos. Naquela altura, o Brasil exportava 16 milhões de sacas, possuindo quase o dobro em estoques. O cenário era de forte baixa nas cotações, com cafeicultores à beira da ruína financeira devido ao endividamento com as casas de corretagem.

Em fevereiro de 1906, reuniram-se em Taubaté os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro para referendar o Convênio de Taubaté: valorizar o produto por meio da administração de seu comércio. Recorrendo a empréstimos internacionais, seriam adquiridos os excedentes para restringir a oferta (£15 milhões) de café, pressionando as cotações do produto. Concomitantemente, houve a imputação de impostos mais altos aos que fossem implantar novas lavouras e, ainda, a regulação da paridade cambial, que permitisse uma conversão (desvalorização) abaixo da vigente no mercado livre e a cobrança de imposto de exportação.

Por meio dessa arquitetura politicamente costurada entre as diferentes autoridades e banqueiros, promoveu-se o primeiro esforço de valorização do café no Brasil. Inicialmente, apenas São Paulo se empenhou no esforço de valorização do café. Minas Gerais, Rio de Janeiro e o governo federal somente se associaram ao programa dois anos mais tarde, devido às incertezas sobre as reais possibilidades de sucesso do programa. Aqui evidencia-se a sinalização do que viria a ser o futuro do processo de desenvolvimento econômico brasileiro, em que o interesse privado, na defesa de suas vantagens individuais, se sobrepõe à preocupação republicana.

O esquema começou a funcionar em 1909, com real avanço dos preços para o café, que perduraram por três safras. Em 1913, o endividamento foi quitado, encerrando-se o programa de valorização. Avaliou-se que, durante sua vigência, houve um surto de crescimento econômico no país (construção de ferrovias, infraestrutura nas cidades e industrialização paulista) – portanto, a pujança econômica foi, em alguma medida, decorrente daquele convênio de 1906.

Encerrada essa longa digressão histórica, saltemos 119 anos para o momento atual. O tarifaço de agosto de 2025, incidente sobre as exportações de café para o mercado estadunidense, se traduz como um completo embargo aos embarques brasileiros destinados àquele mercado. Ao mesmo tempo em que é completamente sem sentido econômico, já que os EUA produzem apenas 1% de todo o café de que necessitam para o suprimento de seu mercado consumidor. Considerando a típica inelasticidade da demanda pelo produto, os apreciadores da bebida serão aqueles que arcarão com os custos dessa política.

Assim como no passado, o convênio na origem foi o determinante na valorização das cotações do café. Atualmente, o fechamento, embora parcial (já que o suprimento poderá advir de outras origens), do maior mercado mundial para a bebida, tende a pressionar os preços, pois consiste em outra intervenção que desestabiliza a lei da oferta e da procura no momento em que os estoques se encontram apertados, o consumo mundial cresce ao menos 2% ao ano e as safras andam de lado – inclusive a de arábica brasileira.

Evidentemente que os mercados são muito mais interconectados que no passado e, além disso, há ao menos uma dezena de outros países significativos na produção cafeeira destinada ao suprimento global. Assim, possivelmente, o ciclo de preços altos, sob vigência do despautério estadunidense, deverá ser menos prolongado, ainda que amparado por um dólar mais fraco. Todavia, sob a vigência das mudanças climáticas, esperar que a oferta de países concorrentes do Brasil se expanda consiste em uma aposta, além de improvável, demasiadamente arriscada.

A reconfiguração do comércio internacional está em curso – uma verdadeira dança das cadeiras. Canadá, México e Uruguai possivelmente ampliarão suas aquisições de café brasileiro, que terão por destino final o mercado estadunidense (a chamada triangulação). O movimento de sacoleiros nas fronteiras dos EUA repetirá o que acontece na fronteira do Brasil com o Paraguai, tendo o café como principal item das compras para consumo próprio e revenda.  A economia subterrânea típica das repúblicas das bananas irá a todo vapor, pois o lucro está garantido.

Nenhum dos objetivos programáticos pretendidos pela autoridade estadunidense serão obtidos por meio da guerra tarifária desencadeada. O déficit comercial não será mitigado (muitos componentes de mercadorias destinadas à exportação são importados – drawback); a reindustrialização do país, na melhor das hipóteses, produzirá ineficiências maiores que as potenciais vantagens em tarifar itens importados, e diminuir o déficit fiscal até pode ocorrer no curto prazo, mas a elevação dos preços e, em consequência, o recrudescimento da inflação, pressionará a demanda e a arrecadação tributária associada à desvalorização do dólar frente às demais moedas. Conceitualmente, se trata da temida estagflação.

As perdas para a economia estadunidense, decorrentes da dificuldade em substituir o café brasileiro, irão se fazer sentir. Os importadores, industriais da torrefação e solubilização, os varejistas e os negócios que têm por base a venda da bebida (cafeterias, bares e lanchonetes, hotéis, restaurantes) já ameaçam com demissões e encerramento de atividades. Esses são os atores econômicos aliados do agronegócio dos Cafés do Brasil capazes de reverter a sinuca em que o destrambelhado governo os colocou. Por enquanto, é necessário aguardar e aproveitar a maré de bons preços que o mercado poderá oferecer.

TEXTO Celso Luis Rodrigues Vegro é engenheiro agrônomo, mestre e pesquisador científico do IEA (Instituto de Economia Agrícola), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Mercado

Principal fator para a tarifa de 50% é a presença da China na América do Sul, afirma Marcos Jank

Por Gabriela Kaneto

A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro representou um duro golpe para o setor, reduzindo a competitividade do produto nacional em seu principal mercado consumidor. Nos primeiros sete meses de 2025, o país foi o principal destino dos grãos brasileiros, com a importação de 3,713 milhões de sacas. Mas, desde 6 de agosto, data em que a medida entrou em vigor, produtores brasileiros e importadores estadunidenses têm sentido seus impactos.

“Ficou um clima bem desconfortável entre a nossa exportadora e o comprador. Tivemos que remarcar três vezes o booking”, relata Daniele Alkmin, da Agrorigem – The Coffee Id, na Mantiqueira de Minas. Em entrevista à Espresso, a produtora conta que, depois de tentar remarcar três vezes o envio, achou melhor cancelar o pedido. “Ele [o importador] tentou renegociar comigo para eu pagar 25% da tarifa, só que é completamente inviável para nós absorvermos isso. E ele também não conseguiu repassar para os seus clientes”. 

Na ponta final, os Estados Unidos também sentem os impactos da taxação. O café brasileiro representa cerca de 30% do consumo no país e sua ausência pode gerar instabilidade e aumento de preços nas gôndolas. “76% da população americana toma café. A participação nos lares é superior a qualquer outro tipo de bebida, como água engarrafada, sucos, refrigerantes. O café reina com uma liderança absoluta na população norte-americana”, explica Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). 

“Essa tarifa de 50% é, sem dúvida, uma tarifa política. Político-ideológica, até podemos dizer”, opina Marcos Jank, coordenador do Centro Insper Agro Global. Para ele, pelo lado comercial, não há razões para a implementação da medida, uma vez que os Estados Unidos têm um superávit com o Brasil. Além disso, segundo ele, sempre houve uma boa relação comercial entre os dois países, com a presença de empresas e investimentos cruzados.

Jank acredita que o principal fator para a implementação da tarifa é a presença da China na América do Sul. “Essa presença ficou muito clara depois da reunião do BRICS, onde se falou sobre desdolarização, moeda única, cooperação técnica, aquisição de equipamentos. Essas coisas acabaram levando a colocação do Brasil na lista, com 50%”, justifica o especialista, que lembra que, além do Brasil, outro país atingido pelas tarifas, por razões semelhantes, é a Índia.

“Nosso importador está passando aperto, porque os cafés das outras origens estão caríssimos e não está tendo o café do Brasil para continuar colocando dentro do padrão que ele costumava atender os clientes. Muito triste esse cenário”, lamenta Daniele. “Ainda estamos conseguindo lidar melhor porque a gente consegue reposicionar esse café. Agora para ele, como importador americano, está um desafio violento”, comenta.

Sobre este desafio, o diretor-geral do Cecafé comenta que o mercado estadunidense já está acostumado com as características de corpo, acidez e doçura do café brasileiro, além do alto volume entregue para a produção de blends de marcas tradicionais e de pequenas torrefações. “A penetração do café nos lares vem crescendo ano a ano, conforme detecta a National Coffee Association. Nós passamos de 66% dos lares, há cinco anos, para 76% atualmente. Então há um trabalho de prosperidade econômica”, destaca Matos.

Se o Brasil é insubstituível do ponto de vista de produção e exportação, os Estados Unidos são insubstituíveis do ponto de vista do consumo. “É o maior consumidor global, com 25.5 milhões de sacas”, alerta Matos, que também menciona que, há duas semanas, o café estava cotado entre 2,70 e 2,80 nas bolsas internacionais e agora já ultrapassa os 3,60. “Nós tivemos uma alta abrupta por várias razões: pelas dificuldades de produção, principalmente de arábica, por conta de questões climáticas, e pelo tarifaço dos Estados Unidos, que desequilibra todo esse mercado”.

Além dos problemas contratuais, as exportações brasileiras podem sofrer impactos a longo prazo devido à concorrência de outros países produtores, como o Vietnã. “Na Ásia, de uma maneira geral, praticamente todos os países que são produtores têm acordos comerciais com tarifa zero. Então, se você tem um acordo de negócio de tarifa zero com a China, com países consumidores como Filipinas, Malásia e Singapura, você tem uma capacidade de competição muito grande”, destaca Aguinaldo Lima, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics). 

Segundo maior produtor de café do mundo, o Vietnã já vem apresentando um papel significativo nas importações da União Europeia, com quem tem um acordo de tarifa zero há dois anos. “Não são nem brechas deixadas pelo Brasil, na verdade são espaços que o Brasil deixa de ocupar. E o Vietnã, numa política bastante agressiva de acordos comerciais, para não perder venda, compra cafés de outros países que são concorrentes, como o Brasil, para completar e ganhar espaço no mercado internacional”, comenta Lima.

Os dados econômicos de impacto ao consumidor norte-americano têm sido um dos principais argumentos do Cecafé nas tentativas de reverter a medida governamental. No Brasil, a entidade tem trabalhado com o governo brasileiro no comitê interministerial de negociação, liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. Nos Estados Unidos, tem atuado ao lado da National Coffee Association, de empresas torrefadoras e de redes de cafeterias locais na construção de narrativas e na circulação de dados corretos. “Estamos mostrando que o Brasil é fundamental para manter os preços sob controle, resultando em um maior consumo da bebida e mais empregos nos Estados Unidos”, afirma Matos.

Jank acredita que, através da pressão em conjunto com empresários norte-americanos, assim como fez o setor brasileiro da laranja – que conseguiu excluir o suco de laranja da lista no final de julho –,  é possível também retirar o café do tarifaço. “Essa chance existe no café porque ele não é produzido nos Estados Unidos”, explica. “Esse argumento de que o tarifaço serve para reindustrializar os Estados Unidos com setores que perderam espaço não vale para o café, porque eles nunca serão produtores e dependem de café importado, que precisa também vir do Brasil. Não dá para vir só da América Central, da Colômbia, da África ou de outros lugares”, argumenta.

Na tentativa de driblar a situação, Daniele está reposicionando suas vendas para outros mercados consumidores. “Como é café especial, de 85 pontos, eu estou direcionando principalmente para Dubai e Austrália, que são mercados abertos pra gente. A Noruega também tem potencial para dar certo”, aponta.

A situação, de acordo com o especialista do Insper, pode ser encarada como uma oportunidade para construção de relacionamento com empresários americanos que dependem do café, além da abertura de mercados em países que ainda são emergentes. “Países em geral que estão reduzindo o espaço do chá, por exemplo na Ásia, e estão entrando mais no café. Eu acho que essa é uma estratégia muito importante para o setor neste momento”. 

Já para Lima, o Brasil precisa ser mais agressivo nos acordos comerciais, investindo em tradeoff, onde as duas partes se completam. “O Brasil precisa ter uma postura diplomática muito mais agressiva. A gente tem fechado alguns acordos, mas nós poderíamos estar fechando muito mais”, afirma. “O Brasil, de uma maneira geral, e aí não é só o solúvel, só conseguirá conquistar mais mercados se realmente houver acordos internacionais de redução de tarifa. Porque o Brasil é um país que aplica muitas tarifas de importação, e isso tira a nossa competitividade”.

Na prática, a tarifa do governo de Donald Trump não penaliza apenas o exportador brasileiro, mas também encarece a xícara do consumidor norte-americano. Ao buscar alternativas em outros países, os importadores estadunidenses podem se deparar com limitações de oferta, o que evidencia o peso estratégico do Brasil no abastecimento global de café.

TEXTO Gabriela Kaneto

Mercado

Baratza apresenta novo modelo do moedor Encore

Referência mundial em moedores de café, a Baratza anunciou, durante a SCA Expo, em Houston (EUA), o Encore ESP Pro, evolução do clássico modelo de entrada da marca.

Compacto e com visual renovado em metal preto fosco, o equipamento traz lâminas cônicas em aço, ajuste contínuo de moagem com controle micrométrico, dois modos de operação (dose única e temporizado) e nova interface digital com display e botão giratório. Destaque para a tecnologia de geração de íons, que reduz a retenção de pó e a sujeira, e luzes LED para melhor visualização durante o uso.

O Encore ESP Pro está disponível no site da Baratza por US$ 299,95.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Dinamarca quer eliminar impostos sobre café e chocolate

Na tentativa de aliviar o aumento dos custos para o consumidor final, a Dinamarca anunciou, no último dia 22, que pretende eliminar o imposto sobre uma série de itens alimentícios e bebidas, incluindo o café.

A medida do governo da primeira-ministra Mette Frederiksen pretende fazer essa redução gradualmente – metade em 2026 e por completo em 2027. Além do café, a medida pretende eliminar também a taxa sobre o chocolate, que está em vigor há mais de cem anos.

O imposto sobre o café foi criado em 1930 como parte de uma taxa sobre bens de luxo. Hoje, acrescenta cerca de 25% ao custo do produto – cerca de US$ 1,21 por quilo de café torrado. 

O vice-primeiro-ministro, Troels Lund Poulsen, diz implementar a medida para “impactar de imediato a vida das pessoas”, informa a plataforma Global Coffee Report. Estima-se que os cortes custarão ao tesouro dinamarquês cerca de US$ 370 milhões.

TEXTO Redação / Fonte: Global Coffee Report

Mercado

Keurig Dr Pepper anuncia compra da empresa JDE Peet’s

Com valor de € 16 bi, acordo até 2026 resultará em duas empresas independentes — uma de café e outra de bebidas

A Keurig Dr Pepper, empresa estadunidense líder no setor de bebidas e dona de um portfólio de mais de 125 marcas, anunciou na segunda (25) que irá adquirir a JDE Peet’s, maior companhia global dedicada ao café, com sede em Amsterdã, na Holanda. 

As ações da JDE Peet’s – dona de marcas como L’OR, Pilão, Caboclo,  Café do Ponto e Café Pelé – subiram 18% nas primeiras negociações do dia. O acordo, fechado em € 16 bilhões (aproximadamente R$ 101 bilhões), ainda depende da aprovação de acionistas e reguladores, mas deve ser concluído no primeiro semestre de 2026. 

A Keurig Dr Pepper pagará aos acionistas da JDE Peet’s um valor de € 31,85 (R$ 201) por ação, avaliando o patrimônio líquido da empresa em € 15,7 bilhões (R$ 99 bilhões). De acordo com o comunicado divulgado pelas companhias, a transação deve gerar um aumento significativo no lucro por ação já no primeiro ano da aquisição. 

Após a compra, o grupo combinado deve ser dividido em duas empresas, a Beverage Co., com foco em bebidas, e a Global Coffee Co., dedicada ao café, que serão listadas nos Estados Unidos e lideradas, respectivamente, pelo CEO da Keurig, Tim Cofer, e pelo CFO, Sudhanshu Priyadarshi.

TEXTO Redação / Fontes: Comunicaffe International e Folha de S.Paulo • FOTO Divulgação