Cafezal

“O café é um exemplo concreto de porque devemos preservar a biodiversidade”, diz botânico inglês

O botânico inglês, Aaron Davis

Por Cristiana Couto

Santo Graal ou El Dorado? Não importa a metáfora sugerida para uma descoberta científica importante. No mundo do café, ambos os termos parecem descrever bem o trabalho incansável do botânico Aaron Davis, chefe de pesquisa em café no Royal Botanic Gardens, em Kew, Londres, e uma das maiores autoridades no mundo em espécies de café.

Com mais de duas décadas de estudos na área, que incluem a identificação e a classificação de espécies de café, além de estudos moleculares e outros que envolvem conservação de espécies e seu desenvolvimento sustentável, Davis vem colocando a importância das espécies selvagens na ordem do dia.

Ele já descreveu vinte espécies do grão e revisitou a taxonomia do gênero Coffea. Em 2018, tal qual um caçador da arca perdida (outra metáfora), Davis liderou um estudo coletivo que reidentificou a rara espécie C. stenophilla crescendo em florestas (ameaçadas) de Serra Leoa, na África Ocidental, onde foi historicamente cultivada há um século. “É uma espécie que quebra as regras, pois produz, em baixas altitudes, um café semelhante ao arábica e suporta períodos de seca mais longos do que os canéforas”, explica o botânico à Espresso.

Certo de que a biodiversidade do café é o caminho para a sobrevivência e evolução da indústria cafeeira diante das mudanças climáticas, Davis avança para além de publicações científicas e de depoimentos em grandes veículos midiáticos que buscam respostas para os desafios atuais do setor. “Em um momento em que o foco está voltado para a segurança alimentar e a superação de déficits de renda para os agricultores, é preocupante que as matérias-primas [cafés] para possíveis soluções estejam altamente ameaçadas de extinção”, escreveu ele, em artigo na Nature, publicado em 2022.

Por isso, entre seus projetos recentes está o trabalho conjunto com comunidades agrícolas de Serra Leoa para desenvolver o cultivo de C. stenopyilla, na esperança de que uma indústria nacional beneficie os produtores locais. Davis acredita que, em breve, esta e outras espécies, como liberica e excelsa, estejam no mercado como um produto de valor. A seguir, a entrevista com o botânico, feita por email.

Espresso: Você é amplamente reconhecido como um dos principais especialistas em taxonomia, conservação e resiliência climática das espécies de café. O que despertou seu interesse pelo café e como sua trajetória profissional nos Royal Botanic Gardens se desenrolou?

Aaron Davis: Meu interesse por café começou em 1996, quando eu era um pesquisador de pós-doutorado e estava investigando as espécies de café selvagens de Madagascar. Fiz parceria com o eminente botânico de Madagascar, Franck Rakotonasolo, e, ao longo de dez anos, viajamos extensivamente pelo país estudando as espécies de café em seus habitats naturais.

Foi um período de grande entusiasmo, principalmente porque havia muitas novas espécies interessantes a serem descritas. Descrevemos mais de 20 novas espécies, só de Madagascar. A partir daí, passei a estudar as espécies selvagens da África e da Ásia, trabalho que faço até hoje. Em 2010, comecei a me interessar e a me preocupar com o café e as mudanças climáticas. Desde 2018, meu trabalho tem se concentrado em usar espécies de café selvagens e pouco exploradas para desenvolver opções de cultivo resistentes ao clima para os produtores de café.

Davis coleta amostras selvagens em Madagascar

Como as mudanças climáticas estão afetando, de maneira específica, as espécies de café?

As mudanças climáticas estão afetando negativamente as espécies de café selvagens devido à perda de adequação climática para seu crescimento e sua reprodução, embora a principal ameaça à sua existência seja o desmatamento e a perda de habitats naturais. O cultivo de café está sendo impactado de várias maneiras, principalmente pelo aumento das temperaturas, além da duração, severidade e imprevisibilidade dos episódios de seca. Chuvas intensas e intempestivas também têm sido um grande problema.

Que medidas estão sendo propostas para mitigar esses efeitos?

Em termos de adaptação, os produtores estão modificando suas fazendas, onde isso é possível e acessível. Por exemplo, eles estão irrigando ou adicionando sombra aos cultivos, e alguns estão plantando outras variedades ou diferentes espécies de café (se disponíveis) ou, até mesmo, migrando do café para outras culturas. O café também está se deslocando geograficamente, com novas áreas de cultivo estabelecidas em regiões mais frescas e úmidas, principalmente em altitudes mais elevadas.

Seu trabalho destaca a importância das espécies de café selvagens para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Quais espécies têm potencial para serem cultivadas em climas mais quentes e secos?

Muitas espécies podem ser cultivadas com sucesso em temperaturas mais altas em comparação com arábica e canéfora, mas a maioria tem baixa produtividade – ou seja, não são aceitáveis para a maioria dos produtores – e produzem cafés que não seriam aceitos pela maioria dos consumidores. Atualmente, estamos focando principalmente em três espécies: excelsa, liberica e stenophylla, mas também estamos pesquisando várias outras. Sabemos que excelsa e liberica podem performar bem ao longo da cadeia de valor, especialmente a excelsa.

Você frequentemente menciona que o mercado de cafés precisa se adaptar a novas espécies e práticas agrícolas. Quais são os maiores desafios que os produtores enfrentam ao adotar espécies menos conhecidas com potencial de cultivo?

Um dos principais desafios é o acesso ao material – sementes ou mudas – para o plantio. Há também o custo de aquisição do novo material e a necessidade de atender aos participantes da cadeia de valor já estabelecida. Além disso, enfrentamos o desafio de que algumas dessas espécies alternativas não são reconhecidas pelo mercado relacionado a commodities, e não existem ainda protocolos específicos de classificação e degustação.

Você crê que as variedades selvagens de arábica e canéfora são cruciais no contexto desafiador do aquecimento global?

Eu diria o oposto. Elas são úteis para melhorar a resistência a doenças, aumentar a produtividade, melhorar o sabor e desenvolver a diversidade sensorial do café, mas não para desenvolver potencial de resiliência climática.

Porque a conservação de espécies selvagens de café é importante e quais tipos de conservação existem hoje?

É bem simples: a conservação é importante para a sustentabilidade na cafeicultura porque esses são os recursos para o desenvolvimento de novas variedades de café. Na Etiópia, existem reservas florestais dedicadas a conservar a diversidade genética do café arábica, como as Reservas da Biosfera de Yayu e Kafa. Populações de outras espécies selvagens estão em áreas protegidas, como parques nacionais. Há, também, coleções de germoplasma de café selvagem, que contêm uma gama limitada de espécies de café, mas a manutenção desses bancos de genes é difícil e cara. Com pelo menos 60% das espécies de café ameaçadas de extinção, as medidas para proteger as espécies de café são, atualmente, extremamente inadequadas.

Quais são as principais razões para a taxa de risco de extinção de cafés (60%) ser tão alta em comparação a outras culturas?

Uma das principais razões é que muitas espécies de café têm populações pequenas e áreas de distribuição restritas. Algumas espécies estão confinadas a uma única floresta ou trecho de floresta, por exemplo.

As espécies são geralmente difíceis, caras e arriscadas de conservar fora dos bancos de germoplasma ativos. Por quê?

Mesmo que populações de café selvagem existam em áreas protegidas, elas ainda estão em risco. Invasões para cultivo e habitação, extração de madeira e gestão inadequada são problemas comuns enfrentados pelas áreas protegidas no mundo. Cuidar dessas áreas protegidas tem um custo alto. Basta observar os problemas manifestados na COP16 [Davis refere-se à conferência de biodiversidade da ONU, em 2 de novembro em Cali, Colômbia, em que houve pouca evolução em acordos sobre biodiversidade, como a implementação do Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal, com apenas 22% dos países envolvidos apresentando novos planos devido a limitações de tempo e financiamento].

Sobre o alto risco de extinção das espécies selvagens, quais delas devem ser priorizadas para conservação e desenvolvimento de cultivo?

Idealmente, seria bom conservar todas as espécies. Se a prioridade for para o desenvolvimento de cultivos, seriam os dois grupos, dos três que classificamos, chamados grupos de prioridade 1 e de prioridade 2 que, basicamente, englobam todas as espécies africanas [O grupo de prioridade 1 é composto pelas espécies arábica, canéfora, liberica e eugenioides, e inclui suas variantes cultivadas e selvagens. O segundo grupo prioritário tem 38 espécies, e inclui todas as outras espécies africanas].

No Brasil, há um crescente reconhecimento da importância de revisitar cafés “esquecidos” em bancos de germoplasma ativos. Como isso está acontecendo globalmente?

Coleções de germoplasma ao redor do mundo, hoje em dia, estão examinando quais espécies suas coleções contêm, além de arábica e robusta. No Royal Botanic Gardens, em Kew, estamos avançando em estratégias, ações, recursos e tecnologia para identificar qualquer uma das 132 espécies de café existentes e, em alguns casos, suas origens selvagens, o que seria um empreendimento essencial para as coleções de germoplasma.

Você mencionou um renovado interesse pela espécie liberica em toda a indústria do café. Por que essa espécie em particular?

Primeiramente, é preciso esclarecer, inclusive historicamente, que o termo liberica inclui dois cafés distintos: o excelsa (Coffea liberica var. dewervrei, ou apenas C. dewevrei) e o liberica (Coffea liberica var.
liberica). Esses dois cafés são mais tolerantes ao calor e à seca do que arábicas e canéforas. A espécie excelsa está ganhando mais espaço do que os cafés liberica, por oferecer melhores retornos aos produtores e ter um sabor mais “semelhante ao café”. Em geral, as notas de cupping são mais altas para excelsa do que para liberica: com processamento cuidadoso, os cafés excelsa podem alcançar mais de 85 pontos. No entanto, alguns cafés liberica são excepcionais, sendo ideais para métodos de preparo em casa e para espressos (meu favorito).

Por que o café liberica, que teve relativo sucesso no final do século XIX, deixou de ser cultivado?

Por três razões. A primeira delas é porque o Brasil estava produzindo tanto café no início do século XX que a competição se tornou intensa para nações produtoras menores. A segunda, porque o café robusta era altamente produtivo e popular entre produtores e comerciantes, preenchendo e expandindo a fatia de mercado no início do século XX. Por fim, o liberica (var. liberica) é mais difícil de processar do que arábicas e robustas e menos rentável, devido às baixas taxas de conversão de frutos cereja para café beneficiado. Some-se a isso o fato de que o excelsa só ficou amplamente disponível no início ou meados do século XX, quando arábicas e robustas já haviam conquistado suas fatias de mercado.

Como esse interesse atual nos cafés liberica está sendo traduzido em ações?

Para excelsa, estamos constatando uma expansão considerável em Uganda e no Sudão do Sul, além de percebermos um interesse crescente no Vietnã, na Tailândia e na Indonésia. Para liberica, a expansão é claramente visível na Malásia (incluindo o estado de Sarawak), enquanto a produção na África foi reiniciada ou está aumentando em alguns países.

O botânico estudando arábicas selvagens no Sudão do Sul

Por que a espécie recém-identificada Coffea stenophylla é considerada uma alternativa para cultivo?

Coffea stenophylla é “a espécie que quebra as regras”, porque produz um café semelhante ao arábica em baixas altitudes (cerca de 400 m acima do nível do mar), onde as temperaturas são muito mais altas do que para o arábica (5 a 6,8 °C mais altas na média anual), e porque pode suportar períodos de seca mais longos do que os cafés canéfora. Essa espécie tem uma produtividade menor do que arábica ou canéfora, mas acreditamos que isso pode ser melhorado. Em duas ocasiões, provadores Q-graders me disseram que o C. stenophylla de Serra Leoa é indistinguível do arábica bourbon cultivado em alta altitude em Ruanda. Concordo totalmente. Na primeira degustação, achei que o café havia sido rotulado ou misturado incorretamente, mas em ambas as ocasiões não havia café de Ruanda na sala de prova.

Existem outras espécies que estão sendo cultivadas ativamente?

O café ibo (Coffea zanguebariae) e o racemosa (Coffea racemosa) são cultivados em Moçambique e na África do Sul. Essas espécies produzem um café de sabor similar, que pode ser excepcional, embora nem todos apreciem. Em muitos países, povos indígenas colhem e preparam espécies selvagens de café pouco conhecidas.

Essas espécies pouco exploradas poderiam criar novas oportunidades comerciais. Como você vê o futuro dessas espécies em termos de aceitação no mercado de cafés especiais?

Algumas pessoas irão gostar ou adorar, enquanto outras não. Com a excelsa, descobrimos que alguns consumidores habituais de café, e até mesmo aficionados por cafés especiais, acreditam que estão bebendo arábica, especialmente em cafés destinados a espressos. Acho que blendar espécies além de arábica com robusta se tornará popular. No Reino Unido, já existem blends de excelsa-arábica e excelsa-robusta no mercado.

Texto originalmente publicado na edição #86 (dezembro, janeiro e fevereiro de 2025) da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Cristiana Couto

CafezalMercado

Em 2025, SIC amplia possibilidade de negócios para os cafés brasileiros

Com ambiente profissional de networking e rodadas exclusivas de cupping, evento se consolida como uma plataforma global de negócios entre produtores e compradores 

Conhecida como espaço de conexão da cadeia cafeeira, a Semana Internacional do Café, que acontece entre 5 e 7 de novembro em Belo Horizonte, amplia a estratégia este ano com a criação de uma sala dedicada às Rodadas de Negócios, estruturada exclusivamente para gerar parcerias, contratos e novas oportunidades comerciais.

A iniciativa é voltada especialmente para produtores de cafés brasileiros que queiram apresentar seus lotes, dialogar diretamente com compradores nacionais e internacionais e ampliar sua inserção em diferentes mercados. Para participar, é necessário agendamento prévio.

A novidade está conectada aos projetos de convites a compradores internacionais para a SIC, ampliando o alcance dos produtores junto a players do mercado global. Ao mesmo tempo, fortalece o espaço para empreendedores nacionais ampliarem sua atuação, encontrarem novos canais e acessarem informações valiosas sobre tendências e exigências do mercado.

Paralelamente à Rodada de Negócios, a SIC 2025 consolida-se como vitrine dos grãos brasileiros com as tradicionais Salas de Cupping, onde produtores apresentam a safra atual, destacando  a diversidade e a qualidade do café no país.

Neste espaço, classificadores, compradores e torrefadores provam amostras selecionadas, estabelecendo padrões de qualidade e abrindo espaço para negócios que vão do mercado interno às exportações.

Nas Salas de Cupping também são apresentadas as 180 melhores amostras (arábica e canéfora) do Prêmio Coffee of the Year deste ano, oriundas de diferentes regiões brasileiras, o que permite que compradores nacionais e internacionais conheçam a diversidade de origens e perfis sensoriais dos cafés do país. 

Semana Internacional do Café
Quando: 5 a 7 de novembro
Onde: Expominas – Belo Horizonte (MG)
Credenciamento e mais informações: semanainternacionaldocafe.com.br 

TEXTO Redação • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

Café & PreparosMercado

Amazônia é destaque da edição #89 da revista Espresso

Às vésperas da COP30, que colocará Belém no centro das discussões globais sobre clima e sustentabilidade, esta edição da Espresso traz para a capa a história de Celesty Suruí, jovem barista e cafeicultora indígena de Rondônia. Em entrevista exclusiva, ela mostra como o café se tornou ferramenta de memória e afirmação cultural do povo Paiter Suruí, conectando produção indígena à preservação da floresta e à construção de novos futuros.

Da mesma região amazônica vem outra transformação notável: a revolução dos robustas de Rondônia. A reportagem, assinada por Cristiana Couto, coordenadora de conteúdo da revista, acompanha como grãos antes vistos como comuns alcançaram padrões internacionais de qualidade, com produtividade recorde e reconhecimento sensorial. Uma virada sustentada por ciência e tecnologia, comprovada pelo balanço positivo de carbono e pelo desmatamento zero nas áreas cultivadas. Para mostrar essas mudanças na xícara, organizamos uma degustação inédita com diferentes clones e processamentos.

No mesmo compasso da sustentabilidade, exploramos o cacau agroflorestal do Pará, modelo de recuperação de áreas degradadas que garante renda a milhares de agricultores familiares e reforça o protagonismo da Amazônia em sistemas produtivos resilientes.

A edição também abre espaço para histórias de sucessão familiar, revelando os desafios e estratégias de produtores que planejam o futuro das propriedades. Mostramos ainda a tendência que aproxima moda e café, em iniciativas que unem luxo, experiência e pertencimento. E, em parceria com a revista inglesa 5th Wave, publicamos reportagem de Tobias Pearce sobre a nova revolução cafeeira em Paris.

Que esta edição inspire e provoque reflexões sobre como o café pode ser motor de transformação — na floresta, no campo, nas cidades e nas próximas gerações.

Boa leitura!

TEXTO Redação

Cafeteria & Afins

Cult Coffee Roasters – Edimburgo (Escócia)

A Cult Coffee Roasters é uma cafeteria que convida os clientes a se aquecerem nos dias frios e cinzentos de Edimburgo. Localizada no bairro de Newington, a casa fica distante do centro turístico, mas próxima da Universidade de Edimburgo, o que contribui para uma atmosfera descontraída, jovem e diversa.

Em uma rua repleta de edifícios do século XVIII, com estilo georgiano, janelas altas e paredes de pedra, a cafeteria destaca-se por sua fachada moderna. O contraste também pode ser visto no interior da espaço, onde a estrutura industrial, que deixa tijolos e tubulações à mostra, diferencia-se da decoração intimista, com poltronas e sofás antigos e quadriculados que, combinados com a iluminação indireta, fazem do salão uma sala de estar, lugar perfeito para um café quente nos dias chuvosos, tão comuns na cidade.

Os grãos utilizados na casa vêm de diferentes países produtores, como Colômbia, Equador, Guatemala, Indonésia, Índia e Brasil. No dia da visita, a seleção para o coado, preparado na kalita wave, era um blend de cafés lavados do Equador (bourbon, sidra e típica), cultivados por um pequeno produtor na região de Pinchichua, nos Andes, a 1.340 m de altitude.

Os pedidos são feitos e retirados somente no balcão. Assim como em muitas cafeterias do Reino Unido, a bebida foi servida em copos de cerâmica preta – o que impede a experiência visual da cor do café. Apesar disso, o sabor não foi apagado. Suave e adocicado, com notas de frutas vermelhas e cítricas e um leve toque de chocolate ao leite, o café também apresentou acidez brilhante e bem equilibrada, complementada por um corpo médio e sedoso.

O cardápio de comidas da Cult oferece opções leves e saudáveis de toasts, wraps, saladas e bowls, com foco em produtos frescos e ingredientes locais. Pedimos o toast de salmão, que foi preparado com uma fatia generosa de pão artesanal sourdough, crocante por fora e macio por dentro, coberto por fatias finas de um delicioso salmão defumado, cream cheese, nozes picadas, alcaparras e folhas verdes. Para finalizar, escolhemos outro toast, desta vez de banana com pasta de amendoim, canela e calda de espresso da casa, que harmonizou perfeitamente com o espresso feito com um blend de cafés lavados colombianos (caturra e castillo, esse último, uma variedade colombiana). As notas de chocolate amargo, amêndoas e grapefruit agradaram, assim como o corpo e a acidez, que estavam no ponto certo e foram completados por uma surpreendente doçura.

Toast de banana com pasta de amendoim e toast de salmão no pão sourdough

A Cult Coffee Roasters destaca-se por seu compromisso com a torra artesanal de qualidade e pela seleção de grãos. Cada xícara é uma experiência sensorial, sejam espressos intensos ou filtrados delicados. A comida, simples e saborosa, valoriza a qualidade dos ingredientes e está à altura dos cafés de alta qualidade oferecidos na casa.

Nossa conta: £22,6 (R$ 158,20) + taxa de serviço
Filtrado – £6.5 (R$ 45,5)
Espresso – £3.1 (R$ 21,7)
Toast de salmão – £8.3 (R$ 58,1)
Toast de banana – £4.7 (R$ 32,9)

*O valor foi convertido levando em consideração a data da visita (£1 = R$ 7)

A equipe da Espresso visitou a casa anonimamente e pagou a conta.

Informações sobre a Cafeteria

TEXTO Equipe Espresso • FOTO Equipe Espresso

Mercado

Brasileira The Coffee estreia em Sydney e amplia expansão internacional

Rede fundada em Curitiba abre primeira unidade australiana no bairro litorâneo de Manly, de olho em novas lojas na cidade

A rede brasileira de cafeterias The Coffee inaugurou sua primeira loja na Austrália, no subúrbio de Manly, em Sydney, informou o portal especializado Beanscene Magazine. Fundada em 2017 pelos irmãos Alexandre, Carlos e Luis Fertonani, a marca se apresenta como uma cafeteria brasileira inspirada na estética japonesa.

Em oito anos, o negócio saltou para mais de 250 unidades em 13 países, entre eles Áustria, Espanha, França, México, Colômbia, Peru e Emirados Árabes Unidos. Em Sydney, a expansão já está confirmada: segundo o site da rede, uma nova loja deve abrir em Surry Hills.

A chegada da The Coffee acontece no mesmo momento em que a japonesa % Arabica prepara uma loja emblemática em Bondi, outro bairro costeiro da cidade. A entrada de marcas internacionais acirra a concorrência no mercado australiano, considerado um dos mais maduros do mundo no consumo de café.

O movimento faz parte da estratégia de internacionalização da rede curitibana, que pretende alcançar 2 mil unidades até 2028, e prevê novas inaugurações na Bélgica ainda este ano.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Marketing pro bono

Por Celso Vegro

Para qualquer agente econômico envolvido no agronegócio café, ao ponderar sobre possíveis estratégias de marketing, a imagem que chega imediatamente à mente é a do mítico personagem Juan Valdez, o exemplo de maior êxito global em favor da excelência do café colombiano. Criado no final dos anos 1950, a imagem do cafeicultor com sua mula (ou burro) tornou-se emblemática para todos os apreciadores da bebida ao redor do mundo. Ademais, por envolver também os demais agentes da cadeia produtiva, consolidou uma identidade do segmento cafeeiro colombiano em seu conjunto.

A estratégia de divulgação da excelência do café colombiano por meio desse personagem tem sido um exemplo estudado pelas agências de marketing e pelos cursos de formação de novos publicitários. Evidentemente, esse êxito somente foi obtido por meio de grande investimento financeiro por parte da Federação Nacional de Cafeicultores de Colômbia (FNC). Desde 2002, o empreendimento é conduzido pela Promotora de Café Colômbia S.A. (Procafecol S.A.), empresa controladora da marca e das franquias e da distribuição varejista de cafés com a marca Juan Valdez.

Segundo o informe de gestão1 publicado pela controladora, existem aproximadamente 103 mil estabelecimentos que oferecem café colombiano em 38 países. Destes, 584 são cafeterias (216 delas em outros países), com equipe composta por 2.762 colaboradores. Em 2023, o faturamento bruto da empresa foi de R$ 286,08 milhões2, representando avanço de 23,5% frente ao ano anterior. Apesar desse expressivo resultado, houve prejuízo operacional de R$13,09 milhões3! De qualquer modo, sem dúvida, ele continua sendo um tremendo exemplo para o caso brasileiro que, ainda, engatinha quando o assunto é o “marketing dos Cafés do Brasil”.

O resultado não poderia ser diferente. Diante dos mais de 60 anos de emprego da marca Juan Valdez na comercialização do café colombiano no mundo, o Brasil constatou que seu reconhecido papel em suprir com o produto a demanda global foi, paulatinamente, substituído em favor de um de seus principais concorrentes.

Todavia, alcançamos o segundo semestre de 2025 com anúncio que sobressaltou o agronegócio Cafés do Brasil. Unilateralmente, o governo estadunidense adicionou ao café brasileiro 40% de tarifa adicional, que se somaram aos 10% anteriormente estipulados. Sendo o Brasil o principal fornecedor de café naquele mercado, tal medida promove uma desorganização dos negócios.

De imediato, os apreciadores locais, ao recorrerem a novas aquisições de café, perceberam elevação dos preços de varejo do produto. Deve-se considerar que processos inflacionários não consistem em aprendizado dos americanos e, por essa razão, há um choque maior quando se constatam variações substantiva de preços.

Apesar do impacto imediato sobre os embarques brasileiros destinados aos EUA (queda de 17,5% em agosto)4, houve crescimento nas vendas para a Colômbia5, entre outros destinos menos usuais para o café brasileiro. Esse movimento de incremento de embarques para destinos não tradicionais deverá se intensificar, sobretudo para o México e o Canadá. Também o Uruguai é forte candidato a aumentar as importações de café brasileiro.

Diante disso, a população estadunidense percebeu que o que garante seu hábito de consumo a preço justo é o café brasileiro, que, por razões de interesses políticos e não comerciais, foi prejudicado em sua competitividade pela imposição dos 50% de taxa aduaneira.

Ocorre então uma significativa redescoberta entre os consumidores daquele país: o café vem do Brasil!!! Sem qualquer investimento da parte de nossas lideranças, com ou sem a parceria com o governo (Funcafé), o agronegócio Cafés do Brasil foi contemplado no mercado estadunidense com um marketing pro bono6.

A evidência decantada de que aquela bebida que acompanha os apreciadores todos os dias tem origem brasileira traz ganhos para o agronegócio Cafés do Brasil. Estando o país em grande evidência, os consumidores enfrentam restrições ao acesso da bebida (por escassez de suprimento) devido a razões que não decorrem de fatores econômicos. Tal cenário coloca a população americana contra seu governo e, em contrapartida, reúne mais e mais simpatizantes para com a democracia brasileira e sua pujante produção de café.

O momento é propício para que nossas lideranças intensifiquem campanhas para estímulo à procura dos Cafés do Brasil. A onda é favorável, e com um tostão em recursos seria possível conseguir firmar a origem brasileira como central na manutenção desse hábito de consumo tão caro ao povo americano. Mangas arregaçadas e trabalhemos o marketing pro bono dos Cafés do Brasil!

1 Disponível em: https://juanvaldez.com/wp-content/uploads/2024/12/Procafecol_-_Informe_Integrado_2023.pdf   (Acesso em 10/09/2025).

2 Para conversão dos valores foi empregada a paridade cambial de 1.000 pesos colombianos = 1,39 reais brasileiros.

3 Em 2022, o resultado líquido operacional foi de R$19,50 milhões.

4 Ver:  https://www.moneytimes.com.br/volume-exportado-de-cafe-despenca-em-agosto-mas-receita-sobe-com-precos-altos-eua-perdem-lideranca-fets/ (Acesso em 10/09/2025)

5 Disponível em: https://agfeed.com.br/economia/por-que-a-colombia-comprou-quase-6-vezes-mais-cafe-do-brasil/ (Acesso em 10/09/2025)

6 A expressão vem do latim pro bono publico, que significa “para o bem público”.

TEXTO Celso Luis Rodrigues Vegro é engenheiro agrônomo, mestre e pesquisador científico do IEA (Instituto de Economia Agrícola), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Mercado

Exportações de solúvel para os EUA caem 50% em agosto

Apesar da queda, indústria pode bater recorde e superar 1 bilhão em 2025

As exportações brasileiras de café solúvel aos Estados Unidos despencaram em agosto, primeiro mês de vigência da tarifa de 50% imposta pelo governo Donald Trump. Os embarques somaram 26.460 sacas, queda de 59,9% ante agosto de 2024 e de 50,1% em relação a julho, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics).

“Essa queda brusca frustra a expectativa de um novo recorde [de volume] em 2025”, disse o diretor executivo da entidade, Aguinaldo Lima. No ano passado, o Brasil exportou 4,093 milhões de sacas.

De janeiro a agosto, o país embarcou 2,508 milhões de sacas de café solúvel para 88 países, recuo de 3,9% sobre igual período de 2024. Apesar disso, a receita cambial atingiu US$ 760,8 milhões, avanço de 33% na mesma comparação. A Abics projeta superar US$ 1 bilhão em 2025, o que seria um novo recorde (em 2024, foram US$ 950 milhões).

Os EUA seguem como principal destino do produto no acumulado do ano, com 443,1 mil sacas (-3,7%), à frente da Argentina (236,4 mil, +88,3%) e da Rússia (188 mil, +16,8%). Países produtores como Colômbia (82,7 mil sacas), Vietnã (72,4 mil sacas) e Malásia (68,8 mil sacas) entraram no top 15 dos maiores importadores de solúvel.

No mercado interno, o consumo de café solúvel chegou a 763,6 mil sacas de janeiro a agosto – alta de 4,7% em relação ao mesmo período do ano passado. O avanço foi puxado pelo freeze dried ou liofilizado (+11,3%), enquanto o spray dried (em pó) cresceu 3,9%.

“O mercado doméstico responde bem aos investimentos em qualidade e novos produtos. O café solúvel tem praticidade e preço mais acessível em um cenário de cotações elevadas”, afirmou Lima.

TEXTO Redação • FOTO Felipe Gombossy

Mercado

Exportações de café especial para os EUA caem quase 80% após tarifaço

Embarques despencam em agosto com taxação de 50%, e Brasil cobra negociação para incluir produto em lista de isenção

As exportações brasileiras de cafés especiais para os Estados Unidos despencaram em agosto, após a imposição da tarifa de 50% pelo governo de Donald Trump. O país embarcou 21.679 sacas no mês, queda de 79,5% em relação a agosto de 2024 e de 69,6% frente a julho, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). A queda, dizem analistas, se deve ao cancelamento e adiamento dos contratos devido à taxação.

Os EUA, líderes nas importações do produto ao longo do ano, caíram para o sexto lugar no ranking mensal, atrás de Holanda (62.004 sacas), Alemanha (50.463 sacas), Bélgica (46.931 sacas), Itália (39.905) e Suécia (29.313).

Carmem Lucia Chaves de Brito, presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), afirma que o impacto “é brutal” e que, caso o tarifaço seja mantido, os americanos podem perder a liderança também no acumulado de 2025. Segundo ela, parte dos embarques registrados ainda reflete contratos firmados antes da nova alíquota, com a tarifa anterior de 10%, válida até 5 de outubro.

A dirigente alerta que o efeito não se restringe ao Brasil. “Já observamos elevação no preço do café à população americana, gerando inflação à economia do país”, disse.

A BSCA defende que o governo brasileiro abra diálogo com Washington. Para Carmem Lucia, a solução seria incluir o café na lista de isenção tarifária prevista em ordem executiva assinada por Trump em 5 de setembro.

TEXTO Redação

Mercado

Starbucks abre flagship no estádio Santiago Bernabéu, em Madri

Primeira loja principal da rede na Espanha tem 930 m², espaço de mixologia e vista para a casa do Real Madrid

A Starbucks inaugurou em agosto sua primeira flagship store na Espanha, instalada dentro do estádio Santiago Bernabéu, em Madri. Com 930 metros quadrados distribuídos em dois andares, a unidade foi projetada para oferecer experiências exclusivas, como degustações, mixologia de café e eventos culturais.

Logo na entrada, um arco digital imersivo apresenta a jornada do grão à xícara, com referências à capital espanhola. A ambientação inclui ainda uma escultura da Sereia da marca assinada pela artista madrilenha Cristina Mejías.

O espaço reúne 65 baristas, alguns deles com experiência internacional, que conduzem sessões personalizadas de preparo e degustação. Uma das atrações é a área dedicada à criação de drinques à base de café.

Com vista privilegiada para o gramado do Real Madrid, o andar superior concentra áreas de convivência, uma sala de provas e um mural inspirado na vegetação de Madri. A operação é conduzida pela Alsea, que administra as 222 lojas da rede na península ibérica.

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Setembro incerto nos maiores países produtores de café (me acordem quando ele acabar)

Por Gustavo Paiva

O mês de setembro começou depois de muita oscilação no mercado do café, que culminou com um claro reajuste de preços pagos ao produtor. Se por um lado as quebras na safra estão se confirmando no Brasil, por outro, o produtor começa a se preocupar com um setembro predominantemente seco, assim como aconteceu no mesmo mês em 2024. 

Esta, porém, não é a realidade dos outros maiores produtores de café do mundo – Vietnã, Colômbia e Indonésia –, que até aqui viveram temporadas que variaram da neutralidade ao excesso de chuvas.

Na Colômbia, resquícios da temporada passada do La Niña trouxeram chuvas acima da média na maioria das regiões cafeeiras. As chuvas podem acabar atrasando os embarques, mas a Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia sinaliza um aumento de dois dígitos na produção até o momento. Com produção e embarques durante todo o ano, a Colômbia, que geralmente produz e embarca pouco mais de um milhão de sacas ao mês, gerou cerca 8,9 milhões de sacas de café e embarcou algo como 8,7 milhões nos primeiros sete meses do ano. 

Ainda é incerto se esta alta se deve a um aumento na produção ou ao atraso acumulado por conta das chuvas. Algumas entidades ligadas aos produtores colombianos defendem que o aumento se dá por conta de uma maior remuneração ao cafeicultor, mas, em 2024, os colombianos já haviam aumentado sua produção em mais de 20% em relação a 2023. Para o restante de 2025, a tendência é que haja, finalmente, uma condição neutra depois de várias temporadas alternadas entre La Niña e El Niño.

Enquanto isso, do outro lado do Pacífico, Vietnã e Indonésia viveram uma situação relativamente similar à da Colômbia durante o ciclo de formação do grão. As chuvas também estiveram um pouco acima da média, mas as temperaturas registradas estiveram ligeiramente abaixo da normalidade. Esta pequena variação dos padrões climáticos não deixa de ser uma surpresa, já que esperava-se um ano totalmente atípico, com padrões climáticos imprevisíveis. 

Isso porque a temporada de tufões, tempestades e depressões tropicais que geralmente ocorrem entre junho e outubro, neste ano começou em fevereiro (!). Este evento, excepcional, gerou apreensão, mas acabou se mostrando um fato isolado. E a tendência, portanto, é que, para o restante do ano, espera-se os mesmos padrões válidos para a Colômbia, ou seja, de atraso nos embarques por causa das chuvas e de neutralidade climática. 

Vale lembrar que, em se tratando do sudeste asiático, neutralidade climática não significa ausência de eventos. A temporada de tufões começou efetivamente no início de junho com a tempestade tropical wutip, que atingiu o Vietnã, as Filipinas e a China. Até o momento, a tempestade mais forte a atingir uma zona cafeeira foi o tufão kajiki, no Vietnã, que afetou milhares de hectares de plantações no centro norte do país, onde se concentra a produção dos cerca de três milhões de sacas de arábica. 

Em uma avaliação geral da Indonésia, os padrões climáticos foram similares aos do Vietnã, embora o país seja um vasto arquipélago com diversas ilhas e podendo vivenciar padrões climáticos desiguais. Isso tende a fazer qualquer previsão ou tentativa de generalização climática da Indonésia um exercício extremamente arriscado. De maneira geral, espera-se um aumento de 5% na produção, levando-se em conta os padrões gerais deste ano, com chuvas ligeiramente acima da média e temperaturas um pouco abaixo do esperado.

Voltando ao Brasil, estamos entrando em um mês sem perspectivas de chuva, muito parecido com o que aconteceu em setembro de 2024 – com a diferença de que os cafeeiros receberam mais chuvas durante a colheita atual. Não se pode negar a hipótese de que parte da quebra de produção deste ano se deve ao setembro seco do ano passado. Levando-se em conta a perspectiva de um padrão climático também neutro para o restante do ano, devemos esperar uma próxima safra parecida com a última? De todo modo, se o restante do mês permanecer sem chuvas, já será praticamente impossível uma safra com volume excedente, capaz de mudar completamente a direção dos preços do mercado.

Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.

TEXTO Gustavo Paiva