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Dentes brancos e café combinam SIM! E é a Ciência quem diz isso!
E a velha frase “café escurece o dente!” foi por água abaixo! E junto com ela, a ideia de que seria incompatível clarear os dentes e tomar café. Mas em que momento isso mudou e NINGUÉM ME CONTOU NADA? “Sofri à toa clareando e me abstendo de um belo cafezão especial?”. A dolorosa resposta é: SIM!
Realmente, há muito anos, os pacientes que faziam clareamento dental eram orientados a assumir a chamada “dieta branca”. Nada de alimentos ou bebidas que continham corantes, e nosso amado café entrava nesse time de restrições.
Primeiro, vamos entender de onde vem a cor do café, que tanto assusta quem deseja dentes brancos. Durante a torrefação, dentre uma variedade de reações, temos a desejada (se bem feita!) Reação de Maillard, unindo carboidratos, aminoácidos, calor e gerando diversas outras substâncias e compostos. Uma das substâncias formadas é a melanoidina, que possui cor castanha. Solúvel em água, representa uma fração considerável do café em pó, variando conforme a espécie de café e detalhes como a intensidade da torra.
Assumiu-se, então, que esta cor marrom poderia ser “transferida” para os dentes, tornando-os amarelados. E isso foi tido como verdade absoluta por muito tempo, pois era algo um tanto óbvio, já que o café tende a manchar outras superfícies claras no nosso dia a dia. E assim permaneceu, sendo esta informação repassada sem que fosse questionada.
As mudanças de comportamento, tanto dos dentistas quanto dos pacientes, realmente ocorre de modo bem gradativo e, especialmente na área de Saúde, isso é compreensível. Mas em algum momento a mudança começa: algum pesquisador resolve observar fenômenos, questionar o status quo e testar possibilidades seguindo um método. E um belo dia alguém resolveu testar o clareamento em um grupo de pacientes que consumiam café diariamente e com outro grupo que não consumia. E para surpresa de muitos, resultado igual, ou seja, os dentes clarearam na mesma intensidade. Seguindo o curso normal deste tipo de pesquisa, outros pesquisadores, em locais variados do mundo, pesquisaram sobre o mesmo assunto e confirmaram: também não houve influência negativa. E tudo isso não é tão recente assim, pois desde início dos anos 2000 já surgiam publicações sinalizando que café não seria tão vilão assim. Mas o que explicava estes achados?
O grande detalhe é que uma boa parte dos corantes presentes nos alimentos, como as melanoidinas, são considerados como sendo cadeias macromoleculares. Traduzindo para nosso dia a dia, são moléculas tão grandes que não conseguem “entrar” nos espaços microscópicos do esmalte dentário. Em casos extremos de consumo ou quando há defeitos no esmalte ou presença
de “placa bacteriana”, este pigmento fica, no máximo, acumulado na superfície do dente, sendo removido pela escovação ou limpeza profissional.
Dando um exemplo extremamente simples mas objetivo, imagine uma casa com piso cinza. Se uma camada de poeira se depositar sobre este piso, ele não deixa de ter sua cor original, somente está oculta. Feita uma limpeza, a cor original aparece novamente.
Sabendo que a Reação de Maillard não é exclusiva do café, se ele realmente fosse vilão, todos os pacientes deveriam também ser orientados a se abster de “outros vilões”, como: carne assada, pães, bolachas, bacon, chocolate, doce de leite, caramelo, cerveja escura, azeite balsâmico e mais uma infinidade de alimentos que também terão as melanoidinas no produto finalizado.
E como dentista, professor universitário e apaixonado por café especial, não voltaria para casa tranquilo obrigando meus pacientes a não tomarem café enquanto fazem clareamento dental. Seria alegria de um lado e tristeza de outro. Então a dica é: se for clarear seus dentes, procure um profissional que mantenha seu cafezão em dia. Sorria, beba um baita café e seja bem feliz assim!
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