Renata Silva: “O café me fez olhar mais atentamente para a questão das mulheres no campo”
Sou filha de produtores rurais de Minas Gerais que, em 1985, foram desbravar Rondônia em busca de melhores condições de vida para a família. O mundo Agro sempre fez parte da minha vida. Desde criança gostava de beber café. Minha mãe conta que tinha que esconder a garrafa de café para que eu não bebesse muito. Ela também sempre falava de como minha avó fazia o café da família no sul de Minas Gerais.
Eu saí de Rondônia no ano 2001 para poder estudar. Me formei em comunicação social – jornalismo na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Já trabalhei como repórter, apresentadora e editora na TV, assessora de comunicação, gestora de marketing e fui diretora de uma agência de comunicação, permeando sempre trabalhos voltados ao campo. Retornei à Rondônia em 2009 e, ao ingressar na Embrapa, em 2011, abracei o mundo Agro de vez! Nestes dez anos de atuação na empresa tenho buscado ser porta voz das riquezas e oportunidades do Agro no estado, levando para o Brasil e o mundo os potenciais que Rondônia tem no campo e as tecnologias que estão disponíveis aos produtores.
E nessa caminhada no Agro, meu trabalho com a cafeicultura de Rondônia é o que tem obtido mais expressividade. Como comunicadora, tenho procurado dar voz aos protagonistas deste movimento lindo que a cafeicultura tem realizado no estado. Fiz parte da criação da identidade e notoriedade dos Robustas Amazônicos, denominação dos cafés produzidos em Rondônia. E, desde 2014, faço parte do grupo que realiza ações de promoção e valorização dos Robustas Amazônicos, com a execução de ações e eventos de grande porte, estaduais e nacionais. Também sou editora da revista Cafés de Rondônia, produzida pela Embrapa, que é considerada o portfólio da cafeicultura na Amazônia.
Em 2014 eu fui apresentada à Aliança Internacional das Mulheres do Café – IWCA Brasil, mas foi em 2017 que os laços foram feitos. Escrevi o capítulo de Rondônia no livro das Mulheres dos Cafés no Brasil e já iniciamos no estado o Movimento Mulheres do Café de Rondônia, em que realizamos ações de capacitação, sensibilização, reconhecimento e visibilidade, dando voz a estas mulheres. Os resultados estão sendo colhidos, são as mulheres estão sendo campeãs em qualidade no estado e no Brasil. São conquistas que inspiram e nos motivam a continuar lutando por equidade e respeito. Outro trabalho que toca minha alma é com os cafeicultores indígenas para a produção de Robustas Amazônicos com qualidade e sustentabilidade. Uma ação que teve início com três famílias indígenas, por meio de uma ação de transferência de tecnologias da Embrapa Rondônia, conquistou resultados, notoriedade e hoje foi abraçada pelo grupo 3corações, agregando mais de 130 famílias e demais parceiros, sendo denominado projeto Tribos. É e sempre foi mais que café. É o reconhecimento de um povo, é dignidade, respeito e também valorização da nossa Amazônia, das nossas florestas.
O café conecta pessoas, almas e eu sou muito grata por todos os amigos que esta conexão me proporciona. Quantos aprendizados pra vida. Foi com o café que aprendi sobre o amor, o respeito, a inclusão, a pluralidade e a sororidade. O café me fez olhar mais atentamente para a questão das mulheres no campo e no agro como um todo. Para o indígena como um povo trabalhador e de uma riqueza humana e de cultura incríveis. Aos cafeicultores como guerreiros e verdadeiros artesãos. Me vez criar laços de alma e me deu motivos para acreditar e lutar por um mundo mais justo, com mais respeito e mais amor.
Renata Kelly da Silva, jornalista na Embrapa Rondônia – Porto Velho (RO) @renata.k.silva
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