Cafezal •
Cafezais são atingidos por geadas e produção do grão é impactada
A semana começou com dificuldades para os produtores de café. Na madrugada da última terça-feira (20), uma forte onda de ar frio tomou conta de diversas regiões produtoras do grão nos estados de Minas Gerais e São Paulo, queimando cafezais e afetando potencialmente tanto a safra 2021/2022, que ainda está sendo colhida, como também a próxima, 2022/2023.
“Nós temos uma noção do número de hectares atingidos e a porcentagem da área total de nossa propriedade, mas ainda não sabemos quantificar as perdas”, conta João Moraes, da Fazenda Santana. O cafeicultor teve sua lavoura de Santo Antônio do Jardim (SP) atingida duas vezes por geadas este mês. “Meu pai adquiriu a propriedade em 1994, um ano de geada forte na região de Pinhal. Consideramos que a geada do dia 20 pode ter sido tão forte quanto a de 1994, porém com impacto ainda maior”. Ele acredita que, dos 87 hectares plantados com variedades de cafés bourbon, catuaí amarelo, catucaí amarelo, mundo novo e icatu vermelho, cerca de 35 a 40 foram impactos negativamente pelo fenômeno.
Em Minas Gerais, estado que mais produz café no Brasil, o município de Ilicínea também sofreu com as geadas da última terça-feira. A produtora Simone Dutra, da Fazenda Bandeira Branca, relatou que a parte baixa de sua lavoura foi a mais impactada. “Tem produtor aqui perto que foi muito atingido. Nós sabemos os custos, o quanto é difícil a vida no campo, e com os fenômenos da natureza fica ainda mais complicado. Ano passado a seca judiou tanto que não deu café direito. Agora, a geada foi muito brava”, comenta.
O cafezal administrado por Simone e sua irmã Kátia conta com 19 mil pés das variedades bourbon, mundo novo, catucaí amarelo e catuaí amarelo. Deste total, aproximadamente mil será perdido. “Eu acredito que pelo menos mil não vai ter como. Os outros foram mais na parte de cima, do capote, e talvez ainda dê para salvar. É muito triste. Eu tenho 34 anos e nunca tinha visto uma geada tão forte quanto essa”, destaca a produtora.
Ainda em Ilicínea, a lavoura de café mundo novo da produtora Regina Alves também sofre com as consequências da massa de ar polar. A expectativa era de colher de 80 a 100 sacas do grão no cafezal de 1 hectare, mas a realidade agora é outra. “A lavoura estava bem cuidada. Fizemos o tratamento baseado em orientações de agrônomos os quais temos parcerias. Todo processo de adubação, aplicação de foliares e defensivos foi feito. Tudo estava correndo bem e a lavoura estava bem vistosa e respondendo ao tratamento. Mas, infelizmente, fomos pegos de surpresa por esse contratempo climático. Agora, vamos ter que consultar um agrônomo e ver qual processo realizar”, lamenta.
Em Três Corações (MG), no Sul de Minas, a cafeicultora Orestina Silva Reis, da Dona Oresta Cafés Especiais, relatou que a geada atingiu principalmente seus plantios mais recentes de café arara. “Pegou um pouco também, de capote, as lavouras de 970 metros de altitude”. De acordo com ela, cerca de 10% do total plantado foi afetado. “Vale ressaltar que mesmo lavouras que não queimaram, mas que sofreram com o frio intenso desses dias, também terão suas produções comprometidas no próximo ano”, afirma a produtora.
Quem também perdeu cafés novos foi o produtor Paulo Marchiori Junior, que cultiva as variedades graúna, siriema, mundo novo e catuaí no Sítio Monjolinho, em Altinópolis (SP), na Alta Mogiana. “Tivemos perdas de cafés novos e também de cafés de três anos, que já haviam sido atingidos pela geada do final de junho”, relata. Segundo ele, em sua região, a geada desta semana pegou mais as lavouras novas e as áreas mais baixas.
Como proteger as plantações de café?
Em casos de mudas novas com até seis meses de campo, o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) indica que sejam enterradas. Em relação aos viveiros, a recomendação é que sejam protegidos com várias camadas de cobertura plástica ou aquecimento, podendo adotar as duas práticas simultaneamente. Em ambos os casos, a proteção deve ser retirada logo que a massa de ar frio se afastar e cessar o risco de geadas.
Já para as lavouras com idade entre seis meses e dois anos, é aconselhado amontoar terra no tronco das plantas até o primeiro par de folhas. Essa proteção deve ser mantida até meados de setembro e depois retirada com as mãos.
Para lavouras num geral, a recomendação da Fundação Procafé é sobre a cobertura do solo. Solo coberto com vegetação, seja por mato ou cultivos intercalares, viva ou morta, reduz a incidência solar e, consequentemente, o armazenamento de calor. Deste modo, o terreno não consegue captar calor o bastante durante o dia para, durante a noite, esquentar o ambiente dentro da lavoura, reduzindo o frio e o risco de queima por eventuais geadas. Neste mesmo sentido, as lavouras com espaçamentos mais abertos tendem a ser menos afetadas por geadas. Clique aqui para conferir mais dicas de proteção no período frio.
Impacto nos preços do grão
Por conta das geadas nas lavouras brasileiras de arábica, as cotações do café registraram alta pela terceira sessão seguida na Bolsa de Nova York. Nesta quinta-feira (22), os contratos com vencimento em setembro/21 apresentaram valorização de 1550 pontos, negociado a 191,50 cents/lbp, enquanto que os com vencimento em dezembro/21 subiram 1545 pontos, valendo 194,35 cents/lbp. Além das atuais baixas temperaturas, a falta de chuvas nas regiões produtoras já vinha abalando o mercado e refletindo nos preços.
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