Café & Preparos

Resiliência e xícara na mão: Como a cena de cafés em São Paulo tem enfrentado os desafios da pandemia?

Foto: Giulianna Iannaco

Como está o setor das cafeterias na maior cidade da América Latina neste mais de um ano de pandemia de Covid-19? São Paulo já passou por diversas faixas neste período: amarela, laranja, vermelha, roxa. A cada mudança alteram-se as regras para os estabelecimentos, que oscilam entre os status “atendimento reduzido”, “apenas para viagem”, “só delivery” e “tudo aberto novamente”.

E neste vai e vem fecham-se comércios para sempre, como é o caso da Hey Coffee!. A cafeteria que disseminava (e democratizava) a cultura dos cafés especiais no centrão da cidade, mais precisamente na Rua Dom José de Barros, encerrou as atividades em janeiro de 2021. “Já tínhamos o sentimento de que as coisas não iriam melhorar no começo deste ano. E também tem todos os outros fatores, como negociar aluguel todo mês e trabalhar apenas com um funcionário na operação”, conta Tiago Munch, fundador da casa.

Hey Coffee!, cafeteria que disseminava os cafés especiais no Centro de São Paulo. Atividades encerradas em janeiro de 2021 – Fotos: Divulgação

Devido à sua localização, a Hey Coffee! dependia muito do fluxo de pessoas que trabalhavam ou passavam pelo centro da cidade. Com o isolamento, a cafeteria perdeu forças, e por não ter a estrutura adequada, não conseguiu depender apenas do delivery. “Tivemos uma queda de uns 70% no movimento logo quando reabrimos, em junho. Como os escritórios seguiram fechados, assim como o SESC e a Galeria do Rock, todo aquele entorno que a gente alimentava deixou de existir. Isso impactou muito. Foi muito difícil ter que lidar com o estresse de tudo isso e ter que montar a operação de uma forma que ela sobrevivesse com o pouco de dinheiro que estivesse entrando”, lamenta o empresário. A economia do País, o aluguel alto, as contas e a segunda onda de contaminações resultaram na decisão do fechamento da cafeteria.

Pontos tradicionais que funcionavam há anos na cidade da garoa também se despediram dos paulistanos neste último ano. Na famosa Alameda Lorena, a unidade do Suplicy Cafés Especiais deu adeus em agosto de 2020. A decisão teve grande repercussão nas redes sociais, uma vez que a cafeteria servia xícaras da bebida no ponto desde leia mais…

TEXTO Gabriela Kaneto

Mercado

Semana Internacional do Café 2020 será digital e 100% gratuita, com foco em conhecimentos e negócios

Principal evento nacional do setor e um dos cinco maiores do mundo, a Semana Internacional do Café (SIC) precisou se adaptar com a chegada da pandemia mundial do novo Coronavírus (Covid-19). Realizado anualmente em BH, a edição 2020 – de 18 a 20 de novembro – será 100% digital, através de uma plataforma exclusiva, desenvolvida especialmente para a SIC.

Conhecida por sua extensa programação, milhões de reais em negócios realizados e ampla rede de conexão, a SIC manterá seus pilares oferecendo exposição de marcas, palestras, painéis, entrevistas, encontros, reuniões, premiações, cursos e competições. A grande novidade deste ano é que todo o conteúdo será gratuito durante os três dias de evento.

Produtores, classificadores, torrefadores, traders, exportadores, proprietários de cafeterias, baristas e especialistas conhecerão as novidades do mercado e poderão também descobrir e ter acesso a quem produz os melhores cafés brasileiros da safra 2020/2021, no concurso Coffee of the Year Brasil.

Segundo Roberto Simões, presidente do Sistema FAEMG: “A SIC tem como foco o desenvolvimento do mercado brasileiro e a divulgação da qualidade dos cafés nacionais para o consumidor interno e países compradores, além de potencializar o resultado econômico e social do setor. É de extrema importância que possamos promover o evento de forma digital, este ano, para que resultados expressivos e crescentes sejam obtidos.” leia mais…

TEXTO Redação • FOTO Nitro

Cafezal

Barra do Choça e seus cafés

Localizada em Vitória da Conquista, na Bahia, a região é reconhecida pelo café commodity e conta com produtores que buscam investir no especial e ganhar notoriedade no mercado

Vista de cima da região Barra do Choça com cafezais que guardam muitas histórias

Vitória da Conquista, cidade baiana, localizada a 1.455 quilômetros de São Paulo. Imagine, uma viagem de carro daria uma média de dezoito horas, mas, por sorte do destino, a cidade conta com um aeroporto novinho (inaugurado em julho de 2019, em substituição ao antigo Aeroporto Pedro Otacílio Figueiredo, no qual era possível apenas o pouso e a decolagem de aeronaves de pequeno porte), em que pousamos numa segunda-feira à tarde a convite de Luiz Melo, proprietário da Supernova Coffee Roasters, que lançou na cidade o documentário Café Não É Só Café.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Vitória da Conquista conta com uma população de 338.480 habitantes, o que faz dela a terceira maior cidade do estado, atrás de Salvador e Feira de Santana, e a quinta do interior do Nordeste, atrás de Feira de Santana, Campina Grande, Caruaru e Petrolina.

Situados no mapa e pensando onde encontraríamos café na região? Em um município chamado Barra do Choça. Caso nunca tenha ouvido falar, está aí uma oportunidade de conhecer, e aproveitar para se aventurar pelos grãos locais.

Barra do Choça está a 27 quilômetros de Vitória da Conquista e a 524 quilômetros de Salvador. O município tem um dos maiores e mais crescentes PIBs do interior da região Nordeste. É o sexto maior PIB baiano, com mais de R$ 6 bilhões. É a capital regional de uma área que abrange aproximadamente oitenta municípios na Bahia e dezesseis no norte de Minas Gerais.

Segundo o Mapa das Origens Produtoras do Brasil da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Barra do Choça faz parte do Planalto de Vitória da Conquista, conta com uma altitude em média de 850 metros e a temperatura amena é ideal para o cultivo do arábica. Muitas propriedades nessa região da Bahia realizam a leia mais…

TEXTO Natália Camoleze • FOTO Paulo Pereira

CafezalMercado

Nos 20 anos do Cup of Excellence, produtor de Ibiraci é o grande campeão

Yuko Itoi, provadora japonesa, completando seu 50° concurso CoE no mundo

Por Mariana Proença, diretamente de Lavras (MG)

André Aguila, da Fazenda Pai e Filho, localizada no município mineiro de Ibiraci venceu, na tarde de sábado – 19 de outubro – o concurso Cup of Excellence 2019, realizado em Lavras (MG). A cidade do produtor – localizada a 40 km de Franca (SP) – está em um braço da Região da Alta Mogiana e em processo de reconhecimento oficial para entrar na Indicação Geográfica.

O feito de André coroou o país do café natural (seco com a casca no terreiro) e deu luz a um novo momento do café brasileiro: produtores que são provadores. Será que podemos afirmar que temos a nova geração de Farmer-Graders? Ele, atual campeão do certame nacional de provadores de café (Cup Tasters 2019) conseguiu o feito de alcançar a primeira posição também no principal e um dos mais antigos concursos do Brasil – o Cup of Excellence.

Com a média de nota de 92,23 pontos entre provadores internacionais, o café de André será leiloado em novembro junto com outros 26 cafés que conseguiram notas acima de 87 pontos no concurso e são considerados “CoE Winners”. Outros seis cafés também foram selecionados para o leilão na categoria “National Winners”, totalizando 33 cafés premiados. leia mais…

TEXTO Mariana Proença, de Lavras (MG) • FOTO Tony Chen e Mariana Proença

Cafezal

Inscrições abertas para 2ª edição do Concurso Florada Premiada

O grupo 3corações, em parceria com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), realiza a 2ª edição do Concurso Florada Premiada, voltado para as mulheres produtoras de café arábica. As amostras devem ser enviadas até 20 de setembro.

A iniciativa tem como objetivos oferecer acesso às melhores práticas na produção de cafés especiais através do programa de capacitação gratuito Florada Educa, reconhecer e valorizar os microlotes cultivados por elas ao promover o Concurso, e conectar quem produz com quem consome, uma vez que proporciona, por meio da campanha “Junte-se a elas”, a oportunidade para o consumidor fazer parte do projeto, já que ao adquirir um dos Microlotes, o lucro total retorna para as cafeicultoras. Com isso, a 3corações completa o ciclo sustentável do Projeto Florada.

A cerimônia de premiação acontecerá na Semana Internacional do Café, no dia 22 de novembro, em Belo Horizonte (MG). Serão premiadas as seis campeãs (primeiros três lugares de cada categoria – via úmida e via seca), além dos 100 melhores cafés do concurso e também o melhor de cada região inscrita.

Premiação da 1ª edição do Concurso Florada Premiada, realizada na Semana Internacional do Café 2018 – Foto: Bruno Correa / NITRO

As grandes campeãs receberão R$ 25 mil, terão seus lotes comprados pelo dobro da cotação e ganharão uma missão técnica para a Costa Rica em uma viagem de sete dias com direito a um acompanhante. As segundas colocadas receberão R$ 15 mil e mais a compra do lote pelo dobro da cotação. As produtoras classificadas em terceiro lugar serão premiadas com R$ 10 mil e compra do lote pelo dobro da cotação.

Os melhores cafés de cada região serão adquiridos pelo dobro da cotação, enquanto que os 100 melhores lotes poderão ser comercializados com o Grupo 3corações, com um prêmio por saca de café de R$ 300 acima da cotação.

“O Projeto Florada é uma grande obra que estará sempre em construção, pois se trata de um projeto de longo prazo em que criamos laços duradouros com as produtoras do Brasil e com toda a cadeia do café. O Concurso Florada Premiada é uma importante iniciativa para reconhecer e valorizar o trabalho das cafeicultoras e também para proporcionar aos consumidores uma nova experiência com raros cafés que carregam histórias únicas por trás de cada xícara”, afirma Pedro Lima, presidente da 3corações.

O regulamento completo do concurso e o link para as inscrições estão disponíveis no site do Projeto Florada e da BSCA.

TEXTO Redação • FOTO Café Editora

Barista

Exclusivo! Brasil será sede de (quase) todos os campeonatos mundiais

O Brasil recebe pela primeira vez campeonatos mundiais de café. E serão muitos. A Semana Internacional do Café (SIC), em Belo Horizonte, já havia anunciado a sede das modalidades World Latte Art Championship e World Coffee In Good Spirits Championship. E hoje a SIC anuncia que conquistou mais duas competições: World Brewers Cup e World Cup Tasters Championship, que anteriormente haviam sido anunciadas para Dubai. No total serão mais de 40 competidores campeões que representarão seus países. A SIC caminha para sua sexta edição e será realizada de 7 a 9 de novembro, no Expominas, na capital mineira.

Os eventos no Brasil trarão diversas marcas internacionais, assim como visitantes de alta relevância para o mercado de cafés especiais.

“A conquista do país-sede de quatro mundiais é fruto de uma combinação de diversos fatores presentes na Semana Internacional do Café: conexão entre todos os elos do setor, diversidade de públicos nacionais e internacionais, amadurecimento do mercado interno e relevância no incentivo a novos negócios de café especial. Para nós é uma grande oportunidade”, aponta Caio Alonso Fontes, diretor da Café Editora – um dos idealizadores da SIC.

Os quatro mundiais atendem as diversas maneiras de fazer café. O World Latte Art Championship é o desenho no café com leite, habilidade que o barista (profissional que extrai o café) realiza em xícaras para juízes bem criteriosos na avaliação visual. O World Coffee in Good Spirits Championship é o preparo do café com drinques alcoólicos e outros ingredientes que harmonizam com a bebida quente ou fria. O mais famoso deles, o Irish Coffee.

O World Brewers Cup é a avaliação da performance do barista ao preparar café em método filtrado de sua escolha, assim como o grão usado na competição e o resultado surpreendente de sabor na xícara. Já o World Cup Tasters Championship é o campeonato destinado aos provadores de café. Ao competidor é necessário acertar qual é o único café diferente dentre 3 amostras. Após várias rodadas, quem adivinha em menos tempo oito combinações – e erra menos – é o grande vencedor.

Brasil, diversidade e qualidade
Além dos mundiais, a Semana Internacional do Café tem como uma das principais ações promover as regiões produtoras de café de Minas Gerais e do Brasil. No evento também são realizadas mesas de prova de café e concursos que reúnem amostras dos melhores grãos colhidos na nova safra, o Coffee of The Year – que premia as espécies arábica e robusta.

“O Brasil é o maior produtor mundial de café. Somente das lavouras mineiras, sai 1 de cada 5 xícaras de café consumidas no mundo. Tem grande importância histórica, social e econômica. E além da quantidade, o país é reconhecido mundialmente como produtor de cafés de alta qualidade, com muitas origens e sabores”, explica Roberto Simões, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema FAEMG), entidade realizadora da SIC.

O conteúdo de palestras e cursos é também um dos pontos altos do evento que, no ano passado, reuniu 17 mil visitantes, mais de 140 marcas expositoras e iniciou R$ 35 milhões em negócios.

“A Semana Internacional do Café torna-se a cada ano mais arrojada. Os eventos mundiais, por si só, asseguram um importante contingente de estrangeiros prestigiando nossa SIC, que se consolida cada vez mais, já ocupando lugar seguro na agenda dos grandes eventos mundiais do setor cafeeiro”, destaca o Secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Minas Gerais (Seapa), Amarildo Kalil.

“Organizamos no Brasil uma enorme conexão entre os elos da cadeia cafeeira. A SIC será um momento incrível para expandir as oportunidades de fazer negócios de uma forma diferente, que só acontece em um país produtor como o Brasil. E os grandes campeonatos também serão um marco que inspirarão novos empreendedores a entrarem no mundo do café! Queremos convidar a todos para essa jornada que celebra nossa nova safra e cria a oportunidade de provar os melhores cafés do Brasil diretamente dos produtores”, finaliza Priscilla Lins, gerente de agronegócios do Sebrae Minas.

A Semana Internacional do Café (SIC) é uma iniciativa do Sistema FAEMG, Café Editora, Sebrae e Governo de Minas, por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Minas Gerais (Seapa) e Codemig. Reunirá de 7 a 9 de novembro de 2018, no Expominas, em Belo Horizonte, Minas Gerais, toda a cadeia produtiva do setor cafeeiro nacional e internacional, em prol do crescimento social e economicamente sustentável do produto brasileiro. O encontro envolve cafeicultores, torrefadores, classificadores, exportadores, compradores, fornecedores, empresários, baristas, proprietários de cafeterias e apreciadores. Durante os três dias são realizados mais de 25 eventos simultâneos focados nas áreas de Mercado & Consumo, Conhecimento & Inovação e Negócios & Empreendedorismo.

Receberá neste ano os mundiais de barista World Coffee in Good Spirits Championship (drinques alcoólicos com café) e World Latte Art Championship (desenho no café com leite), World Brewers Cup (preparo de café) e World Cup Tasters Championship (prova de café) organizados pela World Coffee Events e com o National Body da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).

Veja o anúncio na íntegra

TEXTO Mariana Proença • FOTO Jeff Hann/World Coffee Events

Cafezal

“Café é detalhe”

Há quase quarenta anos, Paulinho, como é conhecido o produtor Paulo Sergio de Almeida, produz café na tranquila cidade de Paraisópolis, na Mantiqueira de Minas. A centenária fazenda Santa Terezinha, fundada em 1915, era de produção tradicional de café. Por volta de 1995, o cafeicultor enfrentou um grande desafio: descobriu um sério problema nos rins. Foi obrigado a partir para o transplante, o que o levou a mudanças radicais de hábitos. De forma autodidata, enveredou pelos caminhos do cultivo orgânico, por acreditar que seu problema havia sido por intoxicação pelo uso de adubos químicos e hoje é referência em produção de cafés especiais.

A paixão pelo orgânico – sem o uso de substâncias que não sejam naturais e produzidas pela fazenda – ficou ainda maior. Desse grande passo, Paulinho modificou a forma de pensar o café. Foram anos de adaptação para desenvolver soluções empíricas, que depois passaram a fazer parte das palestras que ele mesmo passou a ministrar. Um conhecimento adquirido na prática, que lhe rendeu, em 2001, o maior prêmio da cafeicultura brasileira: o primeiro lugar no Cup of Excellence, que pontua os melhores cafés da safra em um ranking exigente de provadores.

No primeiro ano em que participou, Paulinho já levava o maior prêmio, que, segundo ele, “mudou muito e valorizou o produto da fazenda”. Naquele ano, sem muitas pretensões, ele inscreveu o café no concurso. Pediu a ajuda de um amigo para o beneficiamento do produto. Uma verdadeira saga. Já em São Paulo, aproveitando a ida a um médico, foi assistir ao resultado. Esperava apenas receber um agradecimento pela participação. Qual não foi sua surpresa quando a qualidade do produto o levou ao primeiro lugar.

Paulinho passou a conhecer o potencial do seu café. Todos queriam saber quem era aquele produtor, dono do primeiro café mais pontuado do País, à época com 97,53 pontos. “Café é detalhe”, ensina ele.

Ele conversou conosco em 2011 e, recentemente, concedeu-nos nova entrevista, no momento em que seu filho, André Almeida, está participando ainda mais ativamente do dia a dia da fazenda, assim como Fabrício e Júnia, filho e nora, que inauguraram a Zalaz, cervejaria com diversos rótulos, dentro da própria fazenda.

Quando falamos em sucessão familiar como importante passo para a continuidade dos bons projetos, retomar a conversa com Paulinho nos faz perceber que é possível avistar ao longe, em meio às árvores frondosas, os novos caminhos dos cafezais.

Como começou sua história no café?
Eu me formei em 1975 e em 1976 assumi a fazenda do meu pai, um ano antes de ele falecer. Entre 1977 e 1980, comecei a construir as coisas na fazenda e a plantar café. Com um ano e meio de trabalho, perdi toda a minha lavoura por causa de uma geada. O lugar não é baixo, mas perdi 20 mil pés. Não desisti. Fui plantar café no alto do morro e comecei a dividir a plantação em talhões. O primeiro talhão que plantei foi o Guatambu, que fica entre 1.000 e 1.200 metros, em 1982, sem veneno; a terra era boa, um dos fatores pra ter essa qualidade.

Como foi seu aprendizado com orgânicos?
Eu fui a um encontro, em 2000, de cafés orgânicos, em Machado, onde estava um antigo amigo de trabalho que era supervisor de adubo, o Alex. Conversando sobre o meu certificado, ele me falou de um treinamento que haveria e combinamos de ir. Fui à casa do Alex e no chão da casa dele tinha umas amostras de café para um concurso. Perguntei o que era e ele me incentivou, e mandei uma amostra do meu café faltando dois dias para se encerrarem as inscrições na BSCA. Uns quinze dias depois, recebi um telegrama que dizia que eu tinha sido aprovado na primeira fase do concurso e que precisava mandar 3 kg do café para a segunda fase. Liguei para o Alex para contar a novidade e eu o ouvia pulando do outro lado do telefone. Mandei as amostras. Descobri um lugar em Varginha para beneficiar. Na época eu já fazia terreiro suspenso e cereja descascado. Uns dias depois fui convidado a participar do encerramento do concurso. Classificaram dezoito cafés e eu fiquei com o primeiro lugar. Nunca imaginaria isso na minha vida. E eu de ônibus e não conseguia avisar minha família. Daí começou essa história maluca e minha vida mudou por completo. Em 2002 saiu meu Certificado Orgânico e comecei a dar muitas palestras e a passar o conhecimento pra frente.

Como estão os negócios agora?
O André, meu filho, formou-se em Engenharia Agronômica assim como eu, na mesma instituição, a Ufla. Trocamos muitas informações e conversamos bastante. Ele já faz parte da história porque eu estou deixando essa parte do café na mão dele. Há uns três anos estamos produzindo cafés fermentados, viajamos muito e nos aprimoramos também porque, do mesmo jeito que você ensina, você aprende. A fazenda tem cinco tipos de café hoje em dia; destes, 90% da safra de 2016 foi de cafés fermentados e o resto, natural. Para 2017 ainda vai ser definido o que faremos.

Como você faz café fermentado na seca vulcânica?
No preparo do café, eu coloco fermento nos tambores, controlando o pH. Quando chega ao pH desejado, acrescento os cafés cereja e coloco todos na estufa. Se a estufa apertar, já abro o terreiro e espero chegar ao ponto de vulcão. (O vulcão é um tipo de seca feita no terreiro. Ele ‘amontoa’ o café em formato vulcânico). Faço o processo de vulcão com qualquer tipo de café, mas nem sempre eu utilizo esse método. A grande vantagem do vulcão é aumentar o espaço de terreiro e diminuir o serviço, melhorando o aspecto do café. É um processo que eu acho muito legal e muito simples.

Qual a sua previsão para daqui a alguns anos?
Com o André me ajudando, minha previsão é colher umas 800 sacas daqui a uns três anos. Na safra atual colhi 200 sacas. Hoje, tenho dois clientes no Japão, um nos Estados Unidos e as cafeterias nacionais, às quais vendo microlotes, como Silvia Magalhães, Rause Café, Hoss Cafeteria, Aha! Cafés, 4 Beans, IL Barista, entre outros.

Você acha que esse mercado interno mudou?
Mudou muito. Em 2016 a procura por café especial foi muito grande. E, principalmente, pelo orgânico, que não tem muito.

É muito difícil manter o orgânico no Brasil?
Isso daí é princípio, é filosofia. É difícil porque as pessoas não embarcam nessa ideia de preservar a natureza. A pessoa que quer produtividade altíssima não vai entrar no orgânico porque, querendo ou não, a produtividade cai, mas também, hoje em dia, há muita tecnologia pra esse meio. Hoje existem muitos produtos que podem ser trabalhados no uso do orgânico. Falta o pessoal ter consciência e não pensar apenas em dinheiro. O pessoal acha que é muito difícil trabalhar sem usar venenos, mas não é; só é necessário se adaptar e mudar os hábitos. É preciso quebrar paradigmas e conceitos.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Mariana Proença • FOTO Marcelo Furquim

Mercado

Santos sediará festival de cafés

Com o objetivo de promover o turismo e o café, a cidade de Santos sediará a 3ª edição do Festival Santos Café, no Centro Histórico. O evento acontecerá entre os dias 7 e 9 de julho e busca unir música, gastronomia, cultura e café. Com passeios e oficinas, a programação conta com degustações, exposições, feiras, cursos, shows, entre outras atividades.

A Espresso Degusta, degustação gratuita de cafés especiais com curadoria da Revista Espresso e da Café Editora, acontecerá na Frontaria Azulejada. Os participantes terão a oportunidade de conhecer 14 marcas que oferecerão cafés coados e espressos gratuitamente. Além disso, a degustação trará novidades em acessórios, utensílios, cafés embalados para comercialização e distribuição de revistas por parte da Revista Espresso.

Para os ligados em comida, oficinas gastronômicas ocorrerão nos dias 8 e 9, no antigo restaurante da bolsa de café. Com apenas 80 vagas, as inscrições precisam ser feitas com antecedência. O Festival Santos Café também conta com parceria com restaurantes e bares do centro.

Com realização da Prefeitura de Santos, Museu do Café e Secretaria de Turismo, o evento possui o apoio da Café Editora, Revista Espresso, Clube de Automóveis Antigos de Santos, American Ciclo, Rádio Guarujá, SENAC e Estação Bistrô – Restaurante Escola. O Festival Santos Café terá como marcas participantes Astro Café, Bunn, Café Baronesa, Café Caramello, Café do Centro, Café Mitsuo Nakao, Café Store, Café Utam, Da Hora Bike, Gold, Grão Gourmet, Mazzi Caffè, Rei do Café, Revo Coffee, Santa Monica Café Gourmet, Swiss Coffee, Zalaz Brasil e Revista Espresso.

Serviço
Horário: 7/7, das 17h às 20h, 8 e 9/7, das 10h às 20h
Locais: Museu do Café, Praça Mauá, Casa da Frontaria Azulejada, Boulevard da Rua XV de Novembro, Museu Pelé, Santuário Santo Antônio do Valongo e restaurantes parceiros do Centro Histórico de Santos
Mais informações: http://bit.ly/2sKLaBk

TEXTO Gabriela Kaneto

Mercado

De olhos nos especiais, Coca-Cola lança Café Leão em grãos e dois tipos de torra

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A Coca-Cola Brasil lança no mercado brasileiro, em 6 de agosto, o Café Leão, produto com grãos 100% arábica, cultivados, torrados e embalados no País, com o objetivo de ampliar o acesso do consumidor à categoria de cafés especiais. O Café Leão marca a entrada da Coca-Cola Brasil no segmento de cafés, por meio da Leão, uma marca de origem brasileira com 115 anos de no segmento de chás e bem aceita pelo consumidor nacional, segundo a empresa. O slogan será “Exportado do Brasil para os Brasileiros” com o objetivo de fazer uma menção aos melhores cafés que ficarão no Brasil e não serão mais só exportados.

Com blend de grãos do Cerrado Mineiro e das Montanhas do Espírito Santo, a produção do Café Leão envolverá uma rede de pequenos e médios cafeicultores das duas regiões. O produto estará disponível em duas torras e, de acordo com a marca, a versão escura apresenta bebida encorpada e equilibrada com aroma e sabor intensos; e a torra média tem aroma e sabor balanceados com dulçor marcante. O Café Leão será o primeiro da companhia no mundo para o consumo em casa, que busca valorizar o ritual do preparo do café. Os cafés serão torrados pela Real Café, um braço do grupo capixaba Tristão.

“O café brasileiro é reconhecido como um dos melhores do mundo. No entanto, combinações de grãos tipo arábica, nossa melhor e mais valorizada espécie de café, dificilmente chegam às casas dos brasileiros porque são em grande parte direcionados ao mercado externo. Leão quer levar para o brasileiro o melhor do café que é produzido aqui”, diz o vice-presidente de Novos Negócios da Coca-Cola Brasil, Sandor Hagen.

Inicialmente, o Café Leão será encontrado no Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, com a previsão de chegar aos principais pontos de venda de todo o País a partir de janeiro de 2017. Em setembro, os consumidores brasileiros também poderão adquirir o Café Leão em canais de e-commerce.

“Ao entrarmos nesse mercado, estimulamos o debate sobre o café tipo exportação. A Leão quer expandir a disponibilidade de café de alta qualidade no mercado, aumentando o acesso do consumidor brasileiro a esse tipo de produto, para que esse segmento possa se desenvolver e ajudar no crescimento da categoria no Brasil”, afirma Sandor Hagen.

Cafe Leao_1

O produto está disponível em quatro embalagens: 500g em grãos de torra média, 500g em grãos de torra escura (preço sugerido de R$ 25 cada), 250g moído de torra média e 250g moído de torra escura (preço sugerido de R$ 9,50 cada).

De acordo com Renato Fukuhara, diretor de Marketing de Novas Categorias da Coca-Cola Brasil: “O Grupo Tristão através da Real Café, uma empresa brasileira tradicional no ramo de café com 85 anos de experiência, é nosso parceiro e quem realiza a compra do café diretamente desses produtores, além de ser responsável pela torrefação e envase do Café Leão. Contudo, o blend foi 100% desenvolvido pelo time da Coca-Cola Brasil.”

A divulgação do novo Café Leão está baseada em promover a experimentação do produto. Por isso, em agosto, serão realizadas ações itinerantes em pontos de venda e nas Olimpíadas do Rio serão instaladas máquinas no Parque Olímpico e outras áreas que irão moer café na hora para os frequentadores. A campanha de comunicação – que inclui design das embalagens, experiências de degustação, plataforma on-line, mídia digital e materiais de pontos de venda – foi desenvolvida pela agência Pharus.

“Vamos investir em uma plataforma online para mostrar ao brasileiro como consumir o café especial e a valorizar a experiência do preparo do café, de moer os grãos etc. Além disso, estão previstas ações de distribuição de amostras dos produtos para que os consumidores tenham a possibilidade de experimentar um café de alta qualidade”, antecipa o diretor Renato Fukuhara.

Segmento ampliado
Com o novo lançamento, a Coca-Cola Brasil soma o café à sua linha de cerca de 140 produtos. A companhia já atua nos segmentos de águas, chás, refrigerantes, néctares, sucos, energéticos e bebidas esportivas, entre sabores regulares e versões de baixa ou zero caloria.

Dentro do processo de diversificação, o Sistema Coca-Cola Brasil está concluindo a compra da Laticínios Verde Campo, de Lavras (MG) – e com isso fará sua estreia no segmento de lácteos no país.

TEXTO Da Redação • FOTO Divulgação

Cafezal

Aquarela mineira

Fazenda Mantissa

A Fazenda Mantissa, no Sul de Minas, mostra que produção de qualidade se faz com bons profissionais e natureza em equilíbrio.

Um lindo céu azul de anil. Foi ele que recebeu a nossa equipe na visita que fizemos à Fazenda Mantissa, na cidade de Campestre, Sul de Minas Gerais. Cercada por montanhas e verdes matas, a propriedade investe no cultivo de café desde 1998 e há cinco anos trabalha a marca própria para agregar valor ao grão, melhorar a qualidade e ser uma vitrine da produção. A fazenda faz parte dos negócios do Grupo Agro Fonte Alta, que em 1994 contratou o técnico agropecuário Evandro Vilas Boas de Carvalho, hoje responsável pela recepção dos cafés no pós-colheita, o benefício por via úmida, a secagem, o rebenefício e a classificação. Foi ele quem encontrou a área e disse para os sócios do grupo que ali seria um bom lugar para desenvolver a produção do grão. “Então, nós começamos a plantar os cafeeiros. Foram 200 mil pés e em 1998 começamos a operação e fomos expandindo até chegarmos às 580 mil plantas. Mudou muito”, conta ele.

Nascer do dia no Sul de Minas

Nascer do dia no Sul de Minas

Três anos depois, as colheitas começaram e Evandro, atento, percebeu que os cafés apresentavam notas de destaque. Correu para o grupo e disse que ali tinha coisa boa e que valia a pena investir. Com isso, toda a infraestrutura, desde o terreiro até os maquinários para processamento, secagem e benefício, foi renovada e com a chegada dos novos equipamentos o foco na qualidade se intensificou. A princípio, os grãos da Mantissa foram para uma cooperativa e, classificados, despertaram ainda mais interesse. “A partir daí a evolução foi natural e começamos a vender para a illy, ficando sempre entre os finalistas na premiação que eles fazem anualmente com os produtores, fornecedores da marca. Nós sabíamos que tínhamos um produto diferente”, diz Evandro.

José Roberto checa o termômetro instalado na lavoura. Ele conta com a ajuda da tecnologia para monitorar clima, incidência de chuva e altitude

José Roberto checa o termômetro instalado na lavoura. Ele conta com a ajuda da tecnologia para monitorar clima, incidência de chuva e altitude

Em harmonia O profissional é um dos elos que unem a forte cadeia de produção na fazenda. Ele está sempre conectado com o administrador José Roberto Silva – que hoje faz o trabalho que Evandro fazia na lavoura quando começou, entre controle de produção, gerenciamento de mão de obra, tratos culturais e fitossanitários – e com o supervisor de qualidade Leonardo Custódio dos Santos. A conversa entre esses três é um dos fatores que dão liga aos cafés Mantissa. “O que a gente tenta fazer é equilibrar a natureza. Ela tem seu curso próprio e é ela que dita o rumo que vamos dar ao café”, explica José Roberto. Para o plantio, Evandro optou por variedades mais resistentes a doenças e José Roberto dá continuidade ao trabalho. “A gente faz o mínimo possível de intervenção, fazendo o controle integrado, mapeando a lavoura para avaliar a incidência de praga e a necessidade de controle químico. Neste ano, por exemplo, não precisou”, afirma José Roberto,que está investindo cada vez mais na fertilização para diminuir a aplicação de agrotóxico na plantação. “Só tem uma aplicação de herbicida e em proporção menor. Existem os inimigos naturais da broca e temos as barreiras da natureza – mata, reserva – ao redor da fazenda que contribuem para esse trabalho”, diz Zé, como é conhecido entre os colegas. A propriedade não tem sistema de irrigação, mas, segundo o administrador, esse não é o problema. “No ano passado é que foi mais difícil por conta do déficit hídrico. Neste ano estamos mais tranquilos.”

Guiga e Nassime provam e aprovam o café da marca na cafeteria. Leonardo entre as sacas de café prontas para a torra

Guiga e Nassime provam e aprovam o café da marca na cafeteria. Leonardo entre as sacas de café prontas para a torra

Já Leonardo Custódio é, como ele mesmo diz, “o chato da empresa”. É ele quem conecta todo o trabalho realizado no campo à torrefação e às cafeterias e trabalha junto com o consultor em Marketing e Qualidade de Cafés Especiais, Ensei Neto, para melhorar ainda mais os grãos Mantissa. “A qualidade veio bastante com a chegada do Ensei. Ele nos ajuda a selecionar os cafés pré-classificados, a produzir um café melhor, a definir os perfis de torra e a identificar os microlotes”, diz Léo, mostrando o laboratório onde faz as análises dos grãos e onde chega a provar quinze ou vinte vezes por dia um mesmo café até se sentir satisfeito. Metódico e criterioso, ele prefere degustar os cafés em silêncio para conseguir se concentrar nas amostras. “Nós vendemos nosso café para cafeterias e eu guardo a amostra do que eu mandei para manter um controle do que comercializamos”, conta. Há cinco anos na Mantissa, Léo criou um projeto para trazer os donos de cafeterias até a fazenda a fim de que eles possam entender todo o processo de produção que envolve o café. “Isso é feito com cafeterias de todo o Brasil que usam o nosso café. Dessa maneira, as pessoas conseguem compreender o resultado final na xícara. De nada adianta um trabalho bem realizado na fazenda se for parado na ponta final que é a cafeteria. O café tem que ser bem extraído para você conseguir todo o potencial dele”, comenta Léo, que também prova os grãos da marca em diferentes métodos, como Hario V60 e espresso, para saber como eles estão se comportando em cada equipamento. “A proposta do café Mantissa é ser equilibrado. Ele é doce, com bom corpo, uma bebida limpa. Hoje o blend é composto das variedades catuaí vermelho, catuaí amarelo e bourbon amarelo, mas as proporções podem variar dependendo da safra.” Para breve, ele planeja um novo laboratório, maior, para oferecer cursos de degustação e classificação. Microlotes A safra, a propósito, chega a uma média de 4 mil sacas, na colheita que é feita de maio a setembro, manual e mecanizada. José Roberto explica que, por causa do valor e da escassez de mão de obra, a mecanização vem se tornando cada vez mais real na propriedade, mas que a colheita manual será mantida por haver áreas de difícil acesso ao maquinário e plantas mais jovens. Após colhidos, os grãos seguem para a Estância Fonte Alta, propriedade vizinha de apoio à fazenda, onde estão instalados o laborário de provas, as estruturas de secagem e benefício e a torrefação. Quem conhece Evandro Vilas Boas vai dizer que é por lá que a mágica acontece, literalmente, já que, entre uma olhada no café e outra, ele exibe os seus talentos de mago brincando um pouco com cartas e fazendo a alegria dos colegas de trabalho – e a dos repórteres. A mágica é um hobby de Evandro, mas com café não tem fantasia. “É o café que me diz o que eu vou fazer com ele”, nos conta o técnico agropecuário que também é degustador Q-Grader e participa como juiz de concursos da Brazil Specialty Coffee Association (BSCA). “O que eu tenho percebido é que existe uma procura por cafés um pouco mais exóticos e, por esse motivo e para agregar valor ao produto, estamos com foco nos microlotes em alguns lotes que têm características diferentes. O futuro é aperfeiçoar a qualidade e manter o padrão. Quem não tiver produtividade e qualidade está fora do mercado”, completa. O mais recente microlote da Mantissa se chama Origem e traz a variedade bourbon amarelo, rastreada desde a lavoura. Além da área de beneficiamento, que guarda história com uma máquina de benefício de 1917 e que em breve deve ser restaurada, a secagem também chama atenção não só pelo conhecido terreiro pavimentado, mas também pelo terreiro suspenso de sistema basculante desenvolvido por Evandro, com uma inclinação que facilita a retirada dos grãos. A linha de secagem conta ainda com dois secadores mecânicos que utilizam a palha de sobra do café, que serve de matéria orgânica e fonte de energia calorífica na fornalha, substituindo a lenha em até 50%.

Evandro é um dos responsáveis pelo sucesso da Mantissa. Atento, ele identificou os bons cafés da propriedade e implementou sistemas de secagem e seleção dos grãos para aumentar a qualidade

Evandro é um dos responsáveis pelo sucesso da Mantissa. Atento, ele identificou os bons cafés da propriedade e implementou sistemas de secagem e seleção dos grãos para aumentar a qualidade

Após o benefício (retirada do pergaminho) e o rebenefício (separação por peneira, classificação por densidade e cor), os grãos vão para a sala de classificação física e sensorial ainda com Evandro. O trabalho continua com Léo e Ensei, que, depois de análises e definição de torra, enviam o café para a torrefação, área vizinha ao laboratório. Por lá, quem manda é José Antonio dos Santos, o Seu Zé. Ele toca o trabalho em um torrador Lilla de 45 quilos. Na Mantissa há muitos anos, ele começou na lavoura e foi conquistando reconhecimento até chegar a fazer cursos, aprimorar-se e ser o responsável pela torra. “Eu nunca pensei que iria conseguir fazer isso. É muito detalhe, muita atenção, muito cuidado. Eu torrava na classificação para prova, mas aqui, com esse maquinário e o volume, é muito diferente. Se você erra, você perde dinheiro. Tem que ter muita atenção”, conta ele. O futuro da região Os dois últimos elos dessa cadeia são Nassime Raydan e Regiane Source. Nassime é gerente comercial e Regiane, mais conhecida como Guiga, é responsável pela parte estratégica e pelo marketing, além de cuidar da exportação do café verde e do preparo para certificação. A dupla leva os cafés da marca para o mundo e sabe dos benefícios de uma cadeia de produção forte. “Você tem que atentar para o detalhe. Se uma peça cair, todos caem. É um efeito dominó. Todos os processos devem estar interligados”, diz Nassime. “Pelo trabalho que fazemos, podemos ver que o café está cada vez mais consolidado. Nós gostamos daquilo que fazemos e o grupo confia em nós, então, fica fácil”, completa Guiga.

José Roberto confere os cafés na lavoura

José Roberto confere os cafés na lavoura

A conexão vai além e, para este ano, o Grupo Fonte Alta está fazendo um investimento em um novo armazém. O espaço será totalmente automatizado e deve receber cafés de produtores da região que desejarem fazer o processamento, a secagem, o benefício e o rebenefício no local. A nova estrutura vai contar ainda com centro de degustação e pretende identificar microlotes, servindo de ponte entre cafeicultores e torrefações. “Nós queremos valorizar a região como um todo, porque aí o comprador vai olhar para essa área como boa produtora de cafés especiais”, finaliza Evandro.

Isaias José da Silva acerta os últimos detalhes nos secadores mecânicos e o responsável pela torra, José Antonio dos Santos

Isaias José da Silva acerta os últimos detalhes nos secadores mecânicos e o responsável pela torra, José Antonio dos Santos

Ficha técnica

Fazenda Mantissa Localização Campestre (MG) Região Sul de Minas Altitude média 1.200 metros Produção anual 4 mil sacas (média) Área total 170 hectares Área plantada 116 hectares Número de cafeeiros 580 mil Colheita manual (40%) e mecânica (60%) Período da colheita de maio a setembro Processamento via úmida (cereja descascado sem remoção de mucilagem) Secagem terreiro pavimentado, terreiro suspenso, secadores mecânicos Variedades catuaí vermelho, catucaí amarelo, icatu amarelo, mundo novo, acaiá, tupi, bourbon amarelo Selos Certifica Minas, Brazil Specialty Coffee Association (BSCA), 4C (Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Hanny Guimarães • FOTO Lucas Albin / Agência Ophelia