Personagens

Os novos passos de Luisa Arraes

A pandemia trouxe possibilidades artísticas inéditas para a jovem atriz, que se prepara para gravar o filme de Grande Sertão: Veredas e deseja adaptar seus próprios textos para o audiovisual 

Rio de Janeiro e Recife. Humor e drama. Escrita e atuação. Cinema e teatro. O background artístico da jovem atriz Luisa Arraes aparece inicialmente em duplas para se expandir em tantas outras possibilidades e manifestações. “Ser atriz é a minha profissão e sou completamente apaixonada por ela. Contudo, minha orientação para as artes sempre foi muito ampla, como ainda é nos dias de hoje. Eu gosto de atuar, escrever e dirigir. Fiz teatro durante toda a adolescência, mas, na faculdade, escolhi o curso de Letras. Além disso, a parte acadêmica me atrai”, explica ela, que hoje cursa um mestrado em Artes da Cena.  

Nascida no Rio de Janeiro (RJ), sua infância foi marcada pelas férias em Recife (PE), cidade natal de seus pais. Luisa é filha do cineasta Guel Arraes e da atriz Virginia Cavendish. “Contando o lado de pai e mãe, eu possuo nada menos do que treze tios. Consequentemente, tenho inúmeros primos também”, ressalta. “Como era filha única, estar no Recife era a oportunidade de brincar com outras crianças e viver essa coletividade. Um tempo prazeroso”, relembra. 

Por conta do trabalho de Guel e Virginia, as artes sempre estiveram na rotina da menina, que acompanhou a dupla por todos os lados durante a sua infância. “Meus pais realizaram diversos trabalhos juntos e eu nunca fui deixada em casa: estava sempre ao lado deles. Tanto que, ainda criança, eu fiz uma ponta nos filmes O Auto da Compadecida (2000) e Lisbela e o Prisioneiro (2003). Esse ambiente de set era algo natural para mim, além de também ser uma diversão”. Quando criança, ela também teve a oportunidade de acompanhar as peças da sua mãe, na plateia ou dentro da coxia. “Inclusive tinha uma caminha para mim no teatro, para eu dormir enquanto ela se apresentava”. 

Arte como ofício 

Apesar da pouca idade, Luisa já contava com peças profissionais e filmes quando estreou na televisão, aos 18 anos, na série global Louco por Elas (2012). O enredo explorava a rotina do técnico de futebol Leonardo Henrique (Eduardo Moscóvis) com as mulheres da sua vida, incluindo avó, uma ex-mulher, a filha e a ex-enteada – esta vivida por Luisa. “Foram três temporadas e eu me vi atuando ao lado de Glória Menezes, um patrimônio da televisão brasileira. O elenco virou minha família e ainda hoje olho com carinho para essa experiência. Era um time bastante especial”, recorda. 

Na televisão, ela ainda pôde participar tanto de produções dramáticas, como a série Justiça (2016), quanto de programas de comédia, com destaque para A Fórmula (2017) e Tá no Ar: a TV na TV (2018). “O que eu mais gosto mesmo é intercalar esses dois gêneros, porque consigo vivenciar a beleza e as particularidades que ambos têm na forma de se expressarem. Sem contar que a mistura deles também me atrai: o drama que faz rir e a comédia que faz chorar”.

Acompanhar o dia a dia profissional dos pais também trouxe muita admiração por eles. Luisa classifica a dupla como verdadeiros “trabalhadores da arte”, e destaca a trajetória de luta e resiliência de ambos. “Meus pais são, antes de tudo, duas pessoas do bem, querendo expressar e comunicar valores. Não fazem isso simplesmente para aparecer ou ser vistos. É uma filosofia de vida da qual também compartilho”, afirma.  

Guimarães Rosa

Em 2017, a vida de Luisa sofreu uma mudança bastante significativa. Aquele foi o ano que ela estreou a peça Grande Sertão: Veredas, adaptação do clássico de Guimarães Rosa dirigido por Bia Lessa. Nela, interpretou o personagem Riobaldo quando jovem. “Eu sempre fui apaixonada por esse livro, era como uma bíblia para mim, uma obra de cabeceira. Eu me identifico com a história desse jagunço que, em meio a uma guerra, reflete sobre a vida”, analisa. 

“É difícil dizer o que eu considero mais bonito na narrativa desse romance, porque são muitos livros em um só. Vejo Grande Sertão como uma espécie de I Ching”, compara ela ao citar o milenar oráculo chinês. A produção da peça exigiu nada menos do que nove horas de ensaio todos os dias, por um período de aproximadamente quatro meses. “Com certeza foi, até hoje, o meu trabalho mais imersivo. Isso me transformou como atriz”. 

Foi na produção que ela conheceu o namorado, Caio Blatt. Ambos agora aguardam o final da pandemia de covid-19 para participar da adaptação do livro para o cinema. A nova produção será ambientada em uma favela e conta com roteiro dos craques Guel Arraes e Jorge Furtado. Nela, Luisa dará vida a Diadorim. 

O mesmo espaço, diferentes experiências

Ainda quando o assunto é pandemia, o isolamento social de 2020 e 2021 permitiu que Luisa explorasse novas manifestações artísticas. “Vivi coisas que não imaginava passar em dez anos”, revela. Foi no período que ela escreveu o solo Nunca Estive Aqui Antes, com direção de Nelson Baskerville e que foi exibido em sessões on-line. “É uma autoficção, um monólogo escrito por mim. Fala sobre o meu apartamento e as diferentes fases da vida que habitei nesse mesmo espaço”, descreve. Com o fim da pandemia, ela espera adaptar esse texto para o audiovisual. “A intenção é transformá-lo em um curta-metragem”, adianta. 

Aos 28 anos, completados em agosto de 2021, essa leonina tem ainda confirmada uma participação na segunda temporada da série da GloboPlay Cine Holliúdy e uma peça dirigida por Guilherme Leme com atores e atrizes de diferentes décadas. Nessa produção, ela ocupa o espaço da mulher que se encontra na casa dos 20 anos. “É uma honra poder realizar os projetos de outros artistas e participar deles, assim como me anima a perspectiva de pôr os meus próprios na estrada”, finaliza. 

TEXTO Leonardo Valle • FOTO Jorge Bispo

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