KJ Yeung: “Aprendi a respeitar a diversidade da cadeia de valor do café brasileiro”
Sempre fui um curioso sensorial. Isso me levou a procurar o curso profissionalizante de cozinheiro por indicação de uma amiga, em 2012. Durante o curso, tive meu primeiro contato com o “café profissional”. Ao descobrir que a instituição na qual estava estudando oferecia o Curso de Formação de Barista, não hesitei, e fiz uma campanha na minha turma, conseguindo convencer mais 5 colegas a fecharem uma turma comigo. O curso em si, mesmo longo, ofereceu um conhecimento básico, longe da “nova onda” que me acertaria em cheio meses depois.
Ainda durante o curso, fui convidado no Facebook, em Janeiro, a participar de um evento, a Semana Internacional do Café (SIC), que falaria só sobre café em setembro. Achei muito longe e só confirmei presença para ter registrado no meu calendário, pois tinha certeza que iria esquecer. E foi o que aconteceu.
Uma semana antes do evento, o Facebook teve que me informar sobre um “upcoming event”. Eu não sabia na época, mas o fatídico 13 de setembro de 2013 foi o dia que tudo mudou na minha vida. Ao atravessar os portais do Expominas para a SIC, eu mergulhei em um desconhecido e apaixonante mundo sem passagem de retorno. Nos próximos 3 dias, tive uma overdose de cafeína – no sentido literal e figurado. E desde então, o café ainda continua a causar falta de ar e palpitações no coração – no sentido literal e figurado.
De lá para cá, “provei” muitos cafés. Provei até virar Q-Arabica Grader. Estudei até virar Técnico em Cafeicultura, queimei as mãos e cafés até virar um mestre de torras. Mas a minha atividade favorita ainda é a contemplação da jornada do grão, com um mug de um café natural na mão, e, quando possível, com uma câmera na outra, para dividir com os outros um pouco do meu fascínio.
Larguei tudo por paixão, e acabou transformando-se em amor (ufa!). Nesta caminhada, conheci pessoas maravilhosas, e outras nem tanto. Mas todos vieram no seu tempo certo, com o propósito de me ensinar algo. Tive muita sorte na minha caminhada, pois não apenas conheci, como me tornei amigo de muitas pessoas que são consideradas “famosas” no meio, cada uma, autoridade em seu campo de atuação. E, com isso, aprendi com os melhores – na produção, na torra, na prova, no preparo. Mas o mais importante, aprendi que aprender é um exercício diário, e no café (assim como na vida), todo dia há algo novo para sorver.
Aprendi não apenas a provar cafés como um profissional, mas também aprendi a respeitar a extensão e a diversidade da cadeia de valor do café brasileiro. Temos produtores de todos os tamanhos e de todas as qualidades. Temos produtos para todos os gostos. Temos filtros de todos os tipos. Temos vários países produtores dentro de um só, cada um com a sua característica, cada um com um sabor e aroma, com um terroir. E tudo bem gostar de todos eles. Pois todos temos um amor em comum.
Kwong Jork Yeung, avaliação sensorial e projetos visuais – São Paulo (SP) @_kj.yeung
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