Estudo indica que casca e mucilagem do café podem ajudar na recuperação florestal
Um novo estudo descobriu que a casca do café e a mucilagem, que são retiradas no processo do café lavado, pode ser usada para acelerar a recuperação da floresta tropical em terras pós-agrícolas. Os resultados foram publicados no jornal Ecological Solutions and Evidence, da British Ecological Society.
No estudo, em 2018, pesquisadores da ETH-Zurique e da Universidade do Havaí espalharam 30 caminhões da casca e da mucilagem em uma área de 35 x 40 m de terra degradada na Costa Rica e, como controle, marcaram uma área de tamanho semelhante sem polpa de café.
“A área tratada com uma espessa camada se transformou em uma pequena floresta em apenas dois anos, enquanto a parcela controle permaneceu dominada por pastagens não nativas”, explica a Dra. Rebecca Cole, principal autora do estudo.
Os pesquisadores analisaram amostras de solo em busca de nutrientes imediatamente antes da aplicação e novamente dois anos depois. Eles também registraram as espécies presentes, o tamanho dos caules lenhosos, a porcentagem da cobertura do solo da floresta e usaram drones para registrar a cobertura do dossel.
A adição da camada de meio metro de espessura de casca e mucilagem eliminou as pastagens invasoras que dominavam o terreno. Essas gramíneas (família de plantas com folhas semelhantes a lâminas) costumam ser uma barreira para a sucessão da floresta e sua remoção permitiu que espécies de árvores nativas e pioneiras, que chegaram como sementes por meio do vento e da dispersão de animais, recolonizassem a área rapidamente.
Pesquisadores também descobriram que, após dois anos, os nutrientes, incluindo carbono, nitrogênio e fósforo, foram significativamente elevados na área tratada em comparação com o controle. Esta é uma descoberta promissora, uma vez que as antigas terras agrícolas tropicais costumam estar altamente degradadas e a baixa qualidade do solo pode atrasar a sucessão florestal por décadas.
“Este estudo de caso sugere que os subprodutos agrícolas podem ser usados para acelerar a recuperação florestal em terras tropicais degradadas. Em situações em que o processamento desses subprodutos incorre em custos para as indústrias agrícolas, usando-os para restauração para atender ao reflorestamento global, os objetivos podem representar um cenário onde todos ganham”, afirmou Rebecca.
Como um resíduo amplamente disponível e rico em nutrientes, a casca e a mucilagem do café podem ser uma estratégia de restauração florestal econômica, que será importante para atingir os objetivos globais de restaurar grandes áreas de floresta, como os debatidos nos Acordos de Paris de 2015.
O estudo foi conduzido no condado de Coto Brus, no sul da Costa Rica, em uma antiga fazenda de café que está sendo restaurada na floresta para conservação. Na década de 1950, a região sofreu um rápido desmatamento e uma conversão de terras para a agricultura de café e pastagens, com cobertura florestal reduzida para 25% até 2014.
Rebecca alerta que como um estudo de caso com dois anos de dados, mais pesquisas são necessárias para testar o uso da casca e da mucilagem para auxiliar na restauração florestal. “Este estudo foi feito em apenas um grande local, então mais testes são necessários para ver se essa estratégia funciona em uma ampla gama de condições. As medições que compartilhamos são apenas dos primeiros dois anos. O monitoramento de longo prazo mostraria como essa mistura afeta o solo e a vegetação ao longo do tempo. Testes adicionais também podem avaliar se há quaisquer efeitos indesejáveis da aplicação”, completa.
“Esperamos que nosso estudo seja um ponto de partida para que outros pesquisadores e indústrias vejam como podem tornar sua produção mais eficiente, criando vínculos com o movimento de restauração global”, finaliza Rebecca.
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