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Estudo comprova desmatamento próximo de zero na produção de robustas amazônicos em Rondônia
Resultados de um estudo publicado hoje pela Embrapa comprovam que a cafeicultura atual das Matas de Rondônia (RO) ocupa apenas 0,57% da área que foi desmatada para o plantio dessa cultura – o que representa menos de 195 hectares.
O mapeamento, inédito, revela o uso e a cobertura das terras da região – a primeira denominação de origem (DO) de canéforas sustentáveis do mundo –, e tem como objetivo imediato a produção de informações para a exportação dos grãos para a Europa exigidas pelo Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (European Union Deforestation Regulation ou EUDR). A área de plantio dos robustas amazônicos abrange 0,8% das Matas de Rondônia.
Dos 15 municípios que compõem a DO, sete não sofreram desmatamento para o plantio do grão, enquanto em cinco deles, o desmatamento variou de 2,2 a 5,5 hectares (após 2020).
A Europa é o maior consumidor dos cafés brasileiros, e o mapeamento combinou o uso de geotecnologias e dados de várias instituições (Inpe, Incra, Ministério do Meio Ambiente e Funai) para traçar o panorama da produção cafeeira nesta origem e sua relação com o desmatamento ou degradação florestal entre 2020 e 2023.
A geração dos mapas traz a localização e o tamanho das áreas de pastagens, corpos d’água e floresta –, bem como a quantidade e o tamanho de propriedades produtoras de café, de modo a confirmar se houve desmatamento ou degradação da mata nas zonas cafeicultoras a partir de 31 de dezembro de 2020, como exige a legislação – que incide sobre sete commodities agrícolas produzidas na zonas tropicais.
Para o mapeamento, a análise e o processamento dos dados, foram utilizados o Google Earth Pro e a plataforma Google Earth Pro (GEP). O mapeamento selecionou somente propriedades dedicadas ao cultivo de café, a partir de dados de todas as propriedades rurais declaradas em cada um dos 15 municípios das Matas de Rondônia. Dos 37 mil imóveis registrados, 8,4 mil (22,4 %) dedicam-se à cafeicultura.
A expectativa dos pesquisadores que conduziram o estudo é, também, que os resultados obtidos estimulem o Estado a restaurar áreas já degradadas e que ampliem a confiança daqueles que investem, comercializam e consumem os robustas amazônicos.
Sobre as Matas de Rondônia e seus cafés
Matas de Rondônia é uma região com Indicação Geográfica para cafés, e inclui 15 municípios. O selo IG, concedido em 2021, qualifica a área como Denominação de Origem para Robustas Amazônicos – a primeira DO sustentável de cafés canéfora do mundo.
Os robustas amazônicos são híbridos das variedades conilon e robusta, com predominância das características desta última, e considerados cafés de qualidade (com 80 pontos ou mais, num total de 100). A base da cafeicultura da região é familiar. Rondônia é o segundo maior produtor de canéfora e o quinto maior produtor de café do Brasil.
A Europa compra cerca de metade do café brasileiro. Uma das preocupações de Rondônia com a lei europeia é que a maioria dos cafeicultores, que são pequenos proprietários, não consigam atender às exigência da regulamentação, que implica em investimento em tecnologia e custos altos.
A região das Matas de Rondônia é considerada o berço e a origem dos robustas amazônicos. Ela abrange 17% da população agrícola do estado e 20% de toda a mão de obra empregada na agricultura.
A cafeicultura ocupa 34 mil dos 4,2 milhões de hectares das Matas de Rondônia (0,8%). Nos últimos anos, a produção dos robustas amazônicos gerou um ganho de produtividade de quase 500% – uma redução de cerca de 80% na área cultivada em relação à década de 1980. Segundo o estudo, a moderna cafeicultura na Amazônia pode ser considerada uma cultura “poupadora de terras“, já que as boas práticas agronômicas, aplicadas na última década na produção dos robustas amazônicos, foi responsável por essa redução.
Os pesquisadores afirmam que a expansão da cultura do café pode avançar sobre as pastagens localizadas em áreas degradadas. Esses locais são planos (o que possibilita a mecanização) e tem condições climáticas ideais para o plantio do grão.
Eles calculam que, se a cafeicultura avançar por 25% desses terrenos (que somam 475 mil hectares), Matas de Rondônia será capaz de produzir, em pouco tempo, mais de 26 milhões de sacas de café – o rendimento médio na região é de 52 sacas por hectare, segundo a Conab. “Isso significa que a região das Matas de Rondônia, sem desmatar nem um hectare de floresta, poderia ter uma produção parecida com a do Vietnã”, relatam os cientistas, referindo-se ao maior país produtor de canéforas do mundo.
Diferentemente de outras regiões cafeicultoras do Brasil, mais da metade do território das Matas de Rondônia (56%) é ocupado por florestas nativas primárias, que foram preservadas pelos povos indígenas de seis grandes reservas, localizadas em sete municípios.
Os canéforas da região, por sua vez, beneficiam-se da proximidade da floresta, que fornece um ambiente com umidade elevada e temperaturas constantes, além de entregar abelhas e inimigos naturais das pragas que atingem os cafezais.
Grande parte da cafeicultura das Matas é manejada em propriedades com até 12 ha, sendo que a lavoura ocupa algo em torno de 3,3 ha. O restante é, geralmente, coberto por áreas de pastagens e florestas. Ainda segundo o levantamento, os cafezais podem gerar créditos de carbono florestal, o que pode encorajar formuladores de políticas públicas a promoverem a restauração ambiental, conservando a biodiversidade da região e, com isso, mitigando os efeitos das mudanças climáticas.
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