Barista

Diego Campos: Campeão do Mundial de Barista 2021

Com muito preparo, estudo e empatia, o colombiano Diego Campos levou o troféu do Campeonato Mundial de Barista para casa – e provou ao mundo a excelência dos baristas de países produtores de café

Ao ouvir o anúncio do nome da americana Andrea Allen para o segundo lugar do Campeonato Mundial de Barista, o colombiano Diego Campos levou alguns segundos para entender o que estava acontecendo. Ainda incrédulo, fez um sinal da cruz e caiu de joelhos no chão. Amparado pelos colegas finalistas e com um sorriso contagiante, recebeu oficialmente a notícia de que seria o primeiro colombiano a levar o troféu tão cobiçado para casa. 

Diretamente de Milão, Itália, na cidade à qual foi atribuída a invenção do espresso, a vitória desse jovem barista é um triunfo muito especial para a Colômbia: o país, conhecido por produzir um dos melhores cafés do mundo, ainda carregava a fama injusta de ter maus preparos. Não mais.

“Nós pudemos mostrar como o café é algo muito especial e muito importante para nós, como país produtor”, conta Diego, refletindo sobre o momento histórico. Em 21 anos de competição, Diego foi o quinto latino-americano a disputar a final – e o terceiro a levar o título, em outubro de 2021. Antes dele, venceram o Campeonato Mundial de Barista o salvadorenho Alejandro Mendez (2011) e o guatemalteco Raúl Rodas (2012). 

“Para nós é muito satisfatório ter a Colômbia como um dos maiores produtores de café do mundo. Mas tem muito significado mostrar que também podemos preparar o melhor café”, avalia. O barista fala muito assim, no plural. Não é por menos: em meio a tantas incertezas quanto à realização do campeonato e com todas as restrições e atrasos impostos pela pandemia, a apresentação campeã se construiu em meio a uma potente rede de apoio.

A preparação levou aproximadamente três meses e a equipe era grande: o futuro campeão teve ajuda dos colegas da cafeteria e torrefação onde trabalha, Amor Perfecto, além de um psicólogo esportista, um professor de expressão corporal, mestres de torra e, é claro, da esposa, da filha e dos familiares. “Foi uma equipe muito grande, em que cada pessoa, direta ou indiretamente, teve um papel para que eu alcançasse esse objetivo”, comenta o campeão.

O café escolhido para a apresentação foi, é claro, da Colômbia. “Foi uma grande vantagem ser de um país produtor, porque tenho acesso a muitos cafés frescos, posso ir diretamente às fazendas, ter contato com o produtor”. É possível até dizer que o país ocupou todos os lugares do pódio: o segundo colocado, o americano Andrea Allen, e o terceiro, o australiano Hugh Kelly, usaram grãos colombianos. 

Diego usou o mesmo grão que o levou ao primeiro lugar no Campeonato Nacional de Barista da Colômbia, em 2019: da espécie Coffea eugenioides, um ancestral do tradicional arábica. Cultivado a 950 metros na Finca Las Nubes, no Vale do Cauca, oeste colombiano, o grão está passando por um processo de adaptação muito bem-sucedido em terras colombianas. “É algo que já se faz no leste da África: a espécie precisa ser cultivada de forma muito silvestre, e é o que os produtores estão fazendo com esse café”, descreve o campeão.

Para a apresentação, Diego escolheu o caminho da empatia: com a pandemia, o juiz principal não poderia beber das xícaras dos outros juízes, o que torna a degustação dos preparos do competidor algo extremamente pessoal. Partindo desse princípio, Diego criou uma experiência na qual os juízes deveriam provar o espresso com uma esfera nas mãos, ouvindo uma música em headphones, assistindo a um vídeo num tablet individual e, é claro, sentindo o aroma e o sabor do café.

“Desenhamos esse momento para que cada juiz tivesse um espaço muito privado, uma experiência multissensorial que conectasse os cinco sentidos em uma xícara de café”, descreve o barista. Com mais de treze anos de carreira, três mundiais disputados e muita história com o café colombiano, a vitória veio.

“O mundial sempre foi um sonho, que às vezes parecia muito longe – mas depois de algumas competições, a gente foi se dando conta de que estava cada vez mais perto”, comemora o campeão. Mas, e agora, com o maior título da carreira em mãos, o que acontece com Diego?

“Quero continuar difundindo o consumo de cafés de especialidade, fazer com que jovens colombianos se interessem pela profissão de barista. Quero mostrar sempre que a Colômbia tem um grande produto”, pondera Diego, que agora planeja se conectar mais ao cafezal: o próximo passo é focar, junto à esposa e aos sogros, o cultivo de café em uma propriedade familiar. 

Latinos nas semifinais

Participante brasileiro da competição em Milão, o paulista Boram Um representou, junto a Diego, a América Latina na semifinal do Campeonato Mundial de Barista. Ele ficou em 16º lugar na etapa classificatória.

Mais informações: https://worldbaristachampionship.org/

TEXTO Clara Campoli • FOTO Lucas Rinaldi e WBC/Divulgação

Deixe seu comentário