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Concursos de qualidade de café ajudam a desenvolver cada vez mais o mercado brasileiro
Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal de Lavras (Ufla), aponta que os concursos de qualidade do café tiveram grande participação na evolução do mercado brasileiro.
A produção de grãos com maior qualidade tem elevado o padrão dos consumidores e impactado diretamente a produção, desde a seleção das cultivares da planta até o tipo de embalagem.
Entre os diversos concursos realizados anualmente no Brasil, existe o Cup of Excellence (COE), organizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Alliance for Coffee Excellence (ACE). O evento ocorre desde 1999 e tem o objetivo de aumentar a produção de cafés especiais no mundo. Além das diversas etapas, ocorre o leilão dos cafés premiados entre os potenciais compradores.
Uma pesquisa de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Administração da Ufla, orientada pelo professor Paulo Henrique Montagnana Vicente Leme, utilizou como suporte a teoria dos Estudos de Mercado Construtivistas (EMC), com o propósito de compreender como foi o passo a passo da criação do concurso ao longo do tempo e de que maneira isso refletiu na cadeia produtiva do café.
Conforme explica o professor, em termos mercadológicos, a partir da criação de concursos como o COE, houve o início da construção de um padrão de qualidade para os cafés especiais. “Embora o padrão seja relativo, ele é feito a partir da concordância de diversos provadores de cafés especiais. Essa definição foi construída ao longo do tempo, a partir de diversos encontros, nas mesas dos provadores, a partir da prática da prova de café”, afirma.
O especialista salienta, ainda, que o conceito de café especial é socialmente construído a partir das pessoas que estão envolvidas no processo. “A cada ano, o café premiado possui determinados atributos que servem de guia para que cafeicultores, consultores de qualidade, engenheiros agrônomos, pesquisadores e a universidade possam melhorar a qualidade dos cafés. Isso ajudou o Brasil em sua revolução na qualidade do café, já que até a década de 1990 o País possuía uma imagem negativa de produtor de café de baixa qualidade”, comenta Paulo Henrique.
O Brasil está entre os principais fornecedores de cafés de qualidade do mundo, temos produtores especializados em produzir cafés especiais que conseguem vender o produto com exclusividade para compradores extremamente exigentes. “A partir desta construção coletiva de um padrão de qualidade, possibilitado através de práticas e normas que moldaram a construção do processo de análise das amostras em concursos, conseguimos aumentar o padrão de qualidade e ajudamos a moldar o conceito de cafés especiais que hoje é utilizado pelo mercado”, pontua o professor.
A primeira edição do Cup of Excellence foi realizada na Ufla. Em sua pesquisa de mestrado, Gustavo Nunes Maciel realizou uma construção histórica para compreender as diferentes práticas presentes na construção do mercado de cafés especiais, além de entrevistas com os atores principais dos vinte anos de concurso. “Tive a oportunidade de entrevistar os principais responsáveis pela criação do COE. Em termos de análise, foi muito importante ouvir um pouco cada um deles, especialmente durante a 20ª edição que ocorreu na Ufla, em 2019”, diz.
Para o professor, a pesquisa provou que o Cup of Excellence foi o concurso que conseguiu definir estruturas de mercado de cafés especiais, além de contribuir para dar voz a pequenos produtores e suas regiões: “o concurso de café faz com que os produtores aprendam a produzir cafés de qualidade e melhorem a qualidade global dos grãos, não só o especial. A partir do concurso de qualidade, as regiões começam a desenvolver e se organizar para produzir melhores cafés, entendendo qual é a qualidade de sua região. Os produtores começaram a buscar seus padrões, tivemos o desenvolvimento de regiões como o Cerrado Mineiro, a região da Serra da Mantiqueira de Minas Gerais, as montanhas do Espírito Santo, a Chapada Diamantina, da Bahia, que despontaram por causa do COE”.
Coffee of The Year
Outro concurso importante é o Coffee of The Year (COY), realizado desde 2012 pela Semana Internacional do Café (SIC). Ele tem como objetivo reunir os melhores cafés do Brasil nas categorias arábica, canéfora e, a partir da edição de 2020, também nas fermentações arábica e canéfora. Os grandes destaques do ano são eleitos, incentivando, assim, o desenvolvimento e aprimoramento da produção nacional e a divulgação de novas origens de café.
O concurso conta com duas fases. A primeira consiste em receber as amostras de produtores de todo o Brasil, que são torradas e provadas por profissionais Q-Graders e R-Graders licenciados pelo Coffee Quality Institute (CQI). Na segunda fase, as melhores amostras participam da Semana Internacional do Café e são provadas por compradores nacionais e internacionais durante o evento.
Destas amostras, as 21 melhores classificadas vão para a final do concurso, sendo 10 amostras de arábica, 5 de canéfora, 3 de fermentação induzida arábica e 3 de fermentação induzida canéfora. Em 2020 a SIC foi 100% digital e contou com a ajuda de HUBs (pontos de encontro) que receberam as amostras selecionadas e abriram espaço para que o público pudesse provar os cafés. A revelação e premiação dos vencedores aconteceu no último dia do evento.
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