Coluna Café por Convidados Especiais

Do campo à xícara, profissionais convidados refletem sobre o setor

Qualidade na cafeicultura de pequeno porte

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Nunca pensei que minha admiração por Monteiro Lobato me levaria a estar conectada com a cafeicultura, principalmente com o pequeno produtor. Lobato foi um visionário. Sua obra, hoje, é fundamental para o conhecimento não somente dos problemas brasileiros, mas do homem do campo, de suas qualidades, suas fraquezas, suas aspirações e de sua resiliência. De uma vida extremamente urbana, eu me fiz uma profissional da terra e, com alegria e admiração, deixei-me cativar pelo cafeicultor, o pequeno e tímido que muitas vezes não tem ideia da sua importância junto à cadeia do agronegócio café.

Andei por quase todos os lugares em que temos produção de café e deparei com muita gente séria! As pessoas se juntam e não ficam somente falando de trabalho, elas falam da vida com humor e mordacidade, além daquela permanente generosidade em relação às fraquezas humanas. São séculos de sabedoria com a necessidade de conviver em uma estrutura social ímpar.

Nessas idas e vindas e nessas conversas com os pequenos produtores, observei que, entre eles, há dois tipos: o desanimado com a cafeicultura, e o muito feliz e orgulhoso com ela! A diferença básica entre um e outro é a forma como percebem o seu objetivo, e como conduzem suas ações respondendo a uma pergunta: “Aonde quero chegar?”. Um ponto quanto a esses dois perfis de cafeicultor é que o número daqueles que estão felizes e orgulhosos está aumentando. E, se o empreendedor começa a perceber que o café pode ser um agregador em sua vida e em sua família, ele vai mostrar, e com orgulho, que as futuras gerações podem ter qualidade de vida, com café de qualidade.

Como produzir com qualidade? É preciso ter empatia! E quem melhor que o pequeno produtor, que põe sua emoção em cada grão que produz, tendo atrelado a isso a certeza de que a sua vida está centrada nesse universo? A empatia é a variável emocional que vai fazê-lo abrir os olhos para outras variáveis que contribuem para a produção de café de qualidade: o clima favorável, ou seja, o microclima de cada talhão para a determinação da variedade a ser plantada, o solo adequado, a altitude e, para tudo isso caminhar, duas potencialidades que não podem faltar, que são o trabalho em família e a profissionalização.

O início da profissionalização é saber o que fazer com a informação que a lavoura nos dá. Um questionamento que sempre faço ao pequeno produtor, quando deparo com uma situação muito comum, que é a anotação no caderninho de bolso, é o que ele faz com todas essas anotações no bolso. E a resposta que ouço, em muitas das vezes é: “Para se um dia eu vier a precisar”. Não… Está errado! A função da gestão empresarial, seja ela de um empreendedor familiar e pequeno, seja de uma grande corporação, é digerir informações, e fazer com que elas sejam estratégicas para a tomada de decisão na busca de um objetivo único: produzir grãos de qualidade para ter uma vida com qualidade. Devemos entender todas as variáveis a que estamos expostos, e que não são controláveis, só assim podemos criar um plano estratégico, para nos potencializar. Só se pode julgar os resultados analisando a base das intenções. E a intenção é, com toda a certeza, passar nosso tempo trabalhando para o café, em vez de trabalhar nele.

Nosso grande pequeno produtor! Todos nós, que vivemos do agronegócio café, reconhecemos a sua grande importância dentro de uma pequena porteira. Orgulho é o sentimento que me envolve. Parabéns!

*Regiane das Graças Sorce Ferreira, a Guiga, é administradora, especialista em Comunicação e Marketing, em Mercados Futuros, em Administração Rural e tem Master em Marketing. É mestre em Sistemas de Produção da Agropecuária.
Fale com a colunista pelo e-mail colunacafe@cafeeditora.com.br

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

ILUSTRAÇÃO Eduardo Nunes

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