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Opinião formada
Brasil, país de dimensões continentais. Variedades e mais de vinte regiões produtoras de café. Corta para Seattle, nos Estados Unidos, início de 2018. Estava eu visitando a feira da Specialty Coffee Association (SCA) quando chego ao estande da Saint Anthony Industries – uma empresa norte-americana que desenvolve produtos artesanais de madeira e vidro para fazer café. Equipamentos muito bem-acabados e de bom gosto. A barista Irina Blank fazia um café. Começamos a conversar. Ela, da Rússia, da Double B Coffee & Tea, uma torrefação de Moscou. Irina preparava um café do Brasil. Sem conhecer o grão, ela apenas mostrou o pacote: Fazendas Klem. O café ficou pronto e tomamos todos juntos. Irina adorou o café, elogiou e finalizou com a frase: “Foi o melhor café do Brasil que já tomei na vida. Mas ele definitivamente não parece um café brasileiro”. Parei. Parece que meu coração paralisou naquele momento. Agradeci o café e saí dali feliz, mas inconformada. Como uma jovem de 25 anos já tem um padrão de café brasileiro formado? Como os nossos grãos chegam a esta nova geração e o que é passado para eles nos cursos e cafeterias? É claro que nosso mercado brasileiro de cafés especiais é muito novo e todo um trabalho vem sendo realizado. Mas juro que imaginava que talvez os mais jovens, abaixo de 25 anos, já pudessem estar com outra cabeça em relação ao nosso produto.
Antes que alguém ache que quero crucificar a russa, sei que Irina não tem culpa, é óbvio. Mas, sim, isso nos abre uma discussão de como é de responsabilidade de todos nós mostrar um padrão de café brasileiro diferente do que ela está acostumada e sobre o qual foi educada ao entrar no setor. E ainda saber e desvendar como é formado esse paladar e padrão pelo mundo. Tenho uma suspeita de como podemos dar um tiro certeiro.
Neste ano, em novembro, receberemos quase todos os mundiais de barista no Brasil. Sim! A notícia é muito boa. Teremos quatro modalidades internacionais com mais de quarenta países e mais de cem competidores presentes em Belo Horizonte (MG), e que, depois, ou antes, estarão circulando pelas nossas regiões produtoras para conhecer nossos cafés. Temos uma enorme, enorme mesmo, oportunidade de mostrar para esse potencial público, na sua maioria jovens, provadores, baristas, torrefadores, o que estamos fazendo no Brasil. Nossa qualidade. Nossa nova cara. Aos que chegarem com a opinião formada, teremos muito a acrescentar e informar. Preparem-se. Estudem muito sobre o que querem fazer. O que precisam mostrar. Não podemos perder a chance de transformar o pensamento de muitas Irinas que estarão por aqui. E isso dá muito certo. Em 2017, recebemos mais de quarenta compradores internacionais na Semana Internacional do Café (SIC); a maioria nunca tinha vindo ao Brasil. Saíram daqui extasiados com o que viram. Mandaram retornos primorosos sobre o que tinham de imagem do café brasileiro e como voltaram para os seus países com outra cabeça. Compraram contêineres de café, viraram clientes, espalharam a experiência. Novembro está aí e precisamos ter essa consciência e saber nos preparar. Mãos à obra! Nós nos vemos na SIC 2018.
(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso referente aos meses junho, julho e agosto de 2018 – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).
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