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Mais do que entender de café especial, importa entender do que você gosta
Em um setor como o nosso, dependemos de clientes motivados a investir seu tempo e dinheiro em produtos e serviços que estão lá no topo da pirâmide de Maslow – aqueles considerados menos essenciais e que abandonamos quando o orçamento fica apertado. Por isso é mesmo um alívio poder falar com o consumidor sobre a alegria que é descobrir aromas e sabores e ouvir histórias sobre como aquele café chegou à xícara com mais leveza do que o contexto pandêmico permitia.
O tempo que passamos em casa nos levou para a internet, onde aprendemos que dá pra comprar grão direto de produtores e torrefadores artesanais, montar um cantinho do café cheio de utensílios modernos e falar de café (quase) como um profissional para as visitas. Empurrados porta afora, ávidos por tomar cafés presenciais e acompanhados, os amantes da bebida trazem bagagem pesada para as cafeterias, investigam embalagens, entrevistam baristas e procuram nos cursos a confraternização com seus pares, até mais do que a validação dos seus conhecimentos.
O que muitos consumidores e uma parte significativa dos experts surgidos na pandemia não encontraram no Google é que o café especial é como um jovem entrando na vida adulta, a cada dia num caminho novo para revolucionar o mundo, a cada empreitada descobrindo que as suas verdades podem estar muito equivocadas e que provavelmente desprezou e perdeu seu grande amor porque ele não era o mais popular. Em poucos anos, o café especial foi desconstruído, reconstruído, questionado, relativizado. As histórias passaram a ter mais importância do que o conteúdo da xícara, o que foi ótimo para conseguirmos estourar essa bolha que distanciou nossas palavras sofisticadas do consumidor raiz. Só que, ao mesmo tempo, a reprodução de conhecimentos fragmentados e superficiais sobre o que é “café especial” passa a ser encarada como uma regra para “o que é melhor pra você”. Se o café tem 90 pontos SCA, se é de uma variedade exótica premiada, se a torra é clara, se é 100% arábica – “melhor pra você”.
Comprar um café só porque um especialista diz que é o melhor não vai necessariamente te proporcionar cafés melhores. E essa conversa começa antes do conceito de café especial, na definição de o que você gosta e o que você quer, de verdade, encontrar na sua xícara? Mas a gente sabe dizer o que a gente quer?
Se você deseja tomar cafés melhores, a primeira “verdade” que precisa encarar é que a pontuação é um mero detalhe e não deve ser utilizada como critério de decisão de compra. A segunda é que ser um café 100% arábica não garante qualidade, e ainda te deixa distante de cafés extremamente interessantes não arábicas que podem, no fim da história, ser exatamente aquele grande amor que você desmereceu porque não era popular.
Esse conhecimento é autonomia e libertação. Mais que entretenimento para a hora do café, adquirir repertório permite que o consumidor se aproprie da sua escolha e decida os rumos da sua apreciação, sem se sujeitar aos preconceitos de profissionais desatualizados e ao marketing sensacionalista de marcas que se apoiam no desconhecimento do consumidor. O café especial são muitos, e certamente um dia você vai deparar com aquele que preenche a sua lista de desejos. Não vai ser muito mais legal se você souber o que te encanta nele para encontrar outros por aí?
Aprender o que significa acidez, corpo, doçura e equilíbrio na bebida, utilizar o vocabulário técnico com propósito, identificando as características que te dão prazer, são ferramentas que o consumidor pode utilizar para fazer o que realmente importa: descrever as características do café que gosta e identificar, na oferta infinita do mercado, o(s) café(s) que mais te interessa(m).
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