Mercado

China vai eliminar últimas tarifas sobre países africanos produtores de café

A medida, estratégica, torna a China um mercado de exportação mais atraente para os cafeicultores africanos, em contraste com as tarifas impostas pelos EUA e os obstáculos legislativos da nova EUDR

A China vai deixar de cobrar tarifas de importação sobre países africanos produtores de café após remover as taxas para mais de 20 nações do continente.

A segunda maior economia do mundo — e maior mercado de cafeterias de marca do planeta — já havia eliminado, em dezembro de 2024, as tarifas sobre todos os produtos tributáveis oriundos dos 33 países africanos menos desenvolvidos, e agora estende a política para incluir também as maiores economias da região.

Com isso, ficam isentas as quatro maiores economias do continente: Nigéria, África do Sul, Egito e Argélia, além de importantes nações produtoras de café como Quênia e Costa do Marfim — respectivamente o quarto e o quinto maiores exportadores africanos do grão. A única exceção é Essuatíni, excluída do acordo de tarifa zero por reconhecer diplomaticamente Taiwan, que a China considera uma província rebelde.

A medida deve reduzir significativamente o custo de envio de café verde da África para a China. Segundo análise da agência chinesa Yicai Global, os importadores vão economizar cerca de US$ 320 em tarifas e US$ 41 em imposto sobre valor agregado por tonelada de café verde, avaliada em US$ 4.000. Antes, o café verde enfrentava uma alíquota de 8% de importação na China.

Essa política contrasta fortemente com a dos Estados Unidos, onde o governo Trump propôs tarifas generalizadas sobre importações de mais de 90 países. Etiópia, Quênia e Uganda enfrentam tarifas-base de 10%, enquanto nações produtoras menores como Madagascar, Maurício e Costa do Marfim enfrentam 47%, 40% e 21%, respectivamente.

Além disso, a legislação europeia EUDR exigirá que produtores de café comprovem que sua produção não está ligada ao desmatamento, por meio de documentação e dados de geolocalização. Cumprir essas exigências pode representar grandes desafios financeiros e logísticos para os pequenos produtores, que compõem a maioria dos cafeicultores africanos.

Com isso, a China pode se tornar um mercado de exportação muito mais atrativo para os principais países africanos produtores de café, diante do aumento da demanda global.

Segundo o GAC (órgão aduaneiro da China), o país importou US$ 973 milhões em café em 2024, sendo o Brasil e a Colômbia responsáveis por mais de 50% desse total. A Etiópia foi o terceiro maior fornecedor, com US$ 102 milhões (10,5%).

A China já havia removido tarifas sobre o café etíope em março de 2023 como parte de uma estratégia para fortalecer a cooperação comercial e acelerar iniciativas de desenvolvimento no país do Leste Africano. Juntas, Uganda, Quênia e Ruanda representaram cerca de 2,5% das importações chinesas de café.

A demanda por café na China tem crescido rapidamente. Pesquisa da World Coffee Portal mostra que o país cresceu 58% nos 12 meses até dezembro de 2023, com as maiores redes mantendo planos ambiciosos de expansão.

Em junho de 2024, a Luckin Coffee, com 24 mil lojas, assinou um acordo de US$ 500 milhões para comprar 120 mil toneladas de café brasileiro em dois anos. Cinco meses depois, firmou um novo contrato para comprar outras 120 mil toneladas, avaliado em RMB 10 bilhões (US$ 1,38 bilhão).

Em maio de 2025, a rede Mixue, que vende sorvetes, bubble tea e café, anunciou uma parceria com a ApexBrasil para adquirir RMB 4 bilhões (US$ 556,3 milhões) em café e frutas nos próximos três a cinco anos.

No mês seguinte, a Cotti Coffee, segunda maior rede chinesa de café, assinou um Memorando de Entendimento (MoU) com o governo de Ruanda para fortalecer a produção local e ampliar as exportações.

A China é hoje o maior parceiro comercial e investidor da África, com o comércio bilateral crescendo 14% em 2024, alcançando RMB 2,1 trilhões (US$ 292,9 bilhões), segundo o GAC.

Em 2023, o governo chinês investiu US$ 21,7 bilhões em projetos de infraestrutura no continente africano, como parte da Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative), focada principalmente em estradas, portos, ferrovias e energia renovável.

TEXTO Originalmente publicado por World Coffee Portal – Tradução equipe CaféPoint • FOTO Zalfa Imani para WCP

Deixe seu comentário