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Café torrado vai aumentar até 30% em 2025
Aumento é reflexo dos preços altos do café verde e de estimativas da produção brasileira; para especialista, consumo não cairá fora do lar
Com o preço do café verde nas alturas e as expectativas de quebra de produção para a próxima safra causada pelos desafios do clima, empresas como Melitta, 3corações, e JDE Peet’s (fabricante de marcas como a L’Or) decidiram repassar os preços aos consumidores, informa a Reuters.
O aumento de preços para o ano que vem alcança 30%, segundo fontes consultadas pela Reuters na quinta (12). De acordo com a agência de notícias, a Melitta já aumentou os preços de seus cafés em 25% em dezembro e a 3corações, em 10%.
“A aquisição da matéria prima compõe de 40% a 60% do custo de produção das torrefadoras. Devido à sua magnitude, é praticamente impossível postergar repasses”, explica o especialista Celso Vegro, pesquisador científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA). “Entretanto, pode-se incrementar o blend com conilon para tentar adiar esse repasse”, sugere ele. “Outra questão é a competição impressa pelas marcas de combate que não tem na qualidade o atributo que mais se destaca”, completa (confira a análise global dos preços do café pelo colunista do CaféPoint aqui).
Na terça-feira (10), o mercado futuro do arábica alcançou o maior valor desde 1977 (consequência da geada negra no norte do Paraná em 1975, então o maior produtor brasileiro de café), rompendo a barreira de US$ 3 a libra peso, num cenário de valorização do grão em torno de 80% este ano.
Em palestra de abertura da Semana Internacional do Café (SIC), no fim de novembro em Belo Horizonte, Haroldo Bonfá, da Pharos Consultoria e há 47 anos no mercado de café, já alertava: “O Brasil não está conseguindo produzir café suficiente para atender a demanda, mesmo batendo recordes”.
Relatórios recém-divulgados por duas das principais traders de café do mundo refletem o cenário preocupante da oferta de grãos brasileira: a Volcafe previu um déficit global de até 8,5 milhões de sacas em 2025/26 – o quinto déficit consecutivo –, enquanto a alemã Neumann Gruppe GmbH, menos pessimista, projetou o déficit em 2 milhões. A causa apontada foi o pegamento abaixo do ideal das cerejas.
O relatório da Neumann também destaca uma demanda global de café estanque, semelhante à 2023/24 (que esteve abaixo de 170 milhões de sacas em 2024/25), por conta dos altos custos do café verde, que impactam os preços. No relatório também, a projeção da próxima safra brasileira gira em torno de 40 milhões de sacas de arábica, contra 34,4 milhões projetada pela Volcafe.
Estimativas assim divergentes refletem as incertezas atuais no mercado de café, influenciadas pelas condições climáticas do Brasil e pelas flutuações na demanda global pelo grão. Mas há falta de café no mercado? “Criou-se um sentimento de que vai faltar café”, analisa Vegro. “Esse sentimento cresceu e se transformou em pânico. Com minha experiência de várias décadas acompanhando esse mercado, a indução dos preços faz aparecer produto”, continua o especialista. Mas também não posso negar que teremos um 2025 com alguma dificuldade de abastecimento”.
Nesta semana, também, dados sobre a safra 2024/25 de robusta do Vietnã (entre 26,67 e 28,33 milhões de sacas), divulgados pela Vicofa (Associação de Café e Cacau do Vietnã), indicam um volume abaixo da média prevista por analistas independentes (28,5 milhões de sacas), embora tenha havido, em 2024, um aumento tanto nas exportações, de 9% (23 milhões de sacas), quanto no consumo interno (entre 4,5 e 5 milhões de sacas).
É um momento de oportunidade para os canéforas brasileiros, já que o recorde de exportações de cafés canéfora alcançados este ano, explica o especialista, é um reflexo da incapacidade do Vietnã em honrar seus compromissos de venda de robusta por causa da estiagem severa pela qual passou. “Os importadores voltaram para o Brasil em busca de suprimentos”, diz Vegro.
“O Brasil vive um momento ímpar de crescimento da economia, com baixo desemprego e alta dos salários”, contextualiza o especialista que acrescenta que, embora a alta dos preços do café possam afetar negativamente o consumo, ele se dará fora do lar, pois haverá um reforço nas preparações domésticas. “Assim, com mais conilon e preços dentro das margens de possibilidades dos consumidores, passaremos por essa crise sem mortos e feridos”.
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