Mercado

Consumo de café cai quase 16% em abril, diz Abic

Os dados do primeiro quadrimestre do ano de consumo do café no varejo apontam queda no consumo da bebida de 5,13% no país, segundo levantamento feito pela Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) feito na quinta (22). O consumo de café no varejo representa de 73% a 78% do consumo interno brasileiro.

Em março, a queda foi de 4,87% em relação ao mesmo mês de 2024 e, em abril, a queda foi bem mais acentuada – 15,96%, na comparação com abril do ano passado. 

Os preços subiram em todas as categorias de café. No período de 12 meses até abril deste ano, o café solúvel aumentou 49,85%, o gourmet, 56,62%, e o Tradicional/Extraforte, 85,08%. O menor impacto recaiu sobre os cafés especiais – 29,13% de aumento. A categoria de cápsulas, por outro lado, teve queda de 8,11% no preço médio em relação a abril do ano passado. 

Problemas climáticos, baixos estoques de café e dificuldades logísticas estão entre os fatores responsáveis pelo aumento dos preços dos grãos. Segundo dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o café ficou 80,2% mais caro entre abril de 2024 e abril de 2025 – o maior aumento em 30 anos. 

TEXTO Redação

Libertação de quem?

Por Gustavo Paiva

Nas últimas semanas testemunhamos uma inédita variação do mercado por conta do comportamento vacilante do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em meio a tantas tarifas, idas e vindas e tantas explicações de especialistas, seria normal ficar confuso neste cenário. Pertinente lembrar que a coluna está sendo escrita em um momento de recuo do presidente norte-americano, com o anúncio do congelamento das novas taxas e a perspectiva de um acordo com a China. Seria quase desrespeitoso com o leitor anunciar um prognóstico e tentar prever os próximos passos.

Sem entrar no mérito econômico ou patológico por trás de tais estratégias, é importante frisar que os argumentos de Donald Trump e de seus apoiadores, lá e aqui, são paradoxais e não se sustentam em qualquer período de tempo. A alegação básica é a de que os Estados Unidos vêm sendo explorados pela China e seus parceiros ideológicos e, ainda, pela Europa, que se aproveita da generosidade norte-americana para financiar a segurança do continente.

Aqueles que compram a ideia de que Trump está trabalhando pelos interesses do próprio povo, defendem que, em primeiro lugar, não haverá aumento de preços e inflação, já que os produtores internacionais serão obrigados a absorver os custos extras. Depois, que os consumidores norte-americanos irão passar a consumir mais produtos locais e, finalmente, que haverá aumento na arrecadação por conta das taxas.

São medidas que não acontecerão na prática por que elas não podem existir ao mesmo tempo. Se não houver aumento nos preços, por que os consumidores passarão automaticamente a comprar produtos locais? Se os consumidores comprarem mais produtos locais, as importações diminuirão. Então, como será possível arrecadar um valor extraordinário com taxas de importação? Impondo taxas a praticamente todos os países do mundo, qual seria o interesse de todos eles em aceitarem as taxas em vez de buscarem novos mercados? Portanto, são propostas contraditórias, que se anulam e não possuem nenhuma conexão com a realidade.

Uma das principais causas da queda de popularidade de Joe Biden e a consequente derrota nas eleições presidenciais de 2024 foi, justamente, o aumento da inflação e do custo de vida. Não existe a mínima coerência em taxar importações, reindustrializar os Estados Unidos e expulsar mão de obra imigrante. E pior, ainda esperar a queda no custo de vida e o controle da inflação local.

E o café no meio disso tudo? As medidas caíram como uma bomba no mercado, pressionando os preços e levando a uma queda que chegou a quase 20% em menos de dez dias nos contratos negociados em Nova York. Notícia ruim para o produtor e péssima para a indústria cafeeira norte-americana, que, em um cenário de preços altos e oferta apertada, terá que lidar com uma cadeia de suprimentos instável e consumidores com menor poder de compra.

Brasil e Colômbia, apesar de estarem em espectros ideológicos opostos ao presidente norte-americano, foram poupados. Cada um obteve uma taxa suplementar de 10% em todos os seus produtos comercializados. Mas o mais interessante neste caso, para o café, seriam as exorbitantes taxas aplicadas ao Vietnã, Indonésia e México.

Pelo lado mexicano, as tarifas aplicadas poderiam representar uma oportunidade para os produtos brasileiros no mercado americano. Apesar de o México produzir em torno de 4 milhões de sacas de café, o país é um dos maiores fornecedores de café descafeinado dos Estados Unidos.

Em relação aos países asiáticos citados, eles produzem juntos pouco mais de 40 milhões de sacas, principalmente robustas. Ambos estão entre os quatro maiores produtores de café. Se, por um lado, os baixistas do mercado sentiram alívio nos preços no curto prazo, por outro, esta medida pode representar um tiro no pé para quem aposta em uma queda no longo prazo. Acontece que Indonésia e Vietnã, além de produtores, são consumidores emergentes de café. Havendo um excesso de oferta e uma queda no preço do café no mercado local, a imensa população terá maior acesso ao grão e o consumo ficará mais acessível em países em que os salários e os padrões de consumo têm aumentado consistentemente. Os dois países já respondem por um consumo de algo em torno de 8 milhões de sacas para uma população combinada de quase 390 milhões de pessoas.

Apesar de todos os holofotes estarem na guerra comercial entre China e Estados Unidos, fica evidente a necessidade dos Estados Unidos forçarem os países vizinhos da China para a mesa de negociação. Isso se deve à considerável preocupação dos EUA em manter a zona de influência ao redor da China, e obrigar os vizinhos dos chineses a cumprirem com as vontades norte-americanas – em um comportamento de pressão política e comercial que, de certo modo, lembra o dispensado à Ucrânia na década passada. Portanto, é normal que todos os países do extremo oriente estejam preocupados e refletindo os próximos passos com a calculadora em mãos.

Não só os asiáticos, como todos os outros alvos das tarifas parecem estar cientes das perdas e ganhos em jogo. No “dia da libertação’’ anunciado por Donald Trump, o único que pareceu não entender dos riscos em jogo foi o próprio, já que pode ser o início de um isolamento histórico dos EUA. Ao final do processo, o planeta estaria livre de Trump.

Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.

TEXTO Gustavo Paiva • FOTO Agência Ophelia

Cafezal

Brasil deve colher 65 milhões de sacas de café em 2025/26, projeta USDA

Alta de 0,5% sobre a safra anterior é puxada pelo avanço do robusta no Espírito Santo e na Bahia; clima extremo reduz arábica no Brasil e chuvas afetam produção na Colômbia

A produção total de café do Brasil para o ano-safra 2025/26 está estimada em 65 milhões de sacas, segundo relatório anual do USDA. O volume representa um aumento de 0,5% em relação à safra anterior (64,7 milhões).

A produção de arábica está estimada em 40,9 milhões de sacas — uma redução de 6,4% em relação ao ciclo anterior — enquanto a de robusta/conilon deve alcançar 24,1 milhões de sacas.

A leve alta na produção total é atribuída ao crescimento do robusta na Bahia e no Espírito Santo — avanço de 15% sobre os 21 milhões de sacas registrados em 2024/25 — graças ao clima favorável e ao uso crescente da irrigação. Esse incremento deve compensar a queda no arábica, cujas principais regiões produtoras — especialmente Minas Gerais — enfrentaram seca severa e temperaturas extremamente altas até o final de 2024 e início de 2025.

A produção de arábica também foi afetada por um ano negativo do ciclo bienal, quando a planta apresenta floração mais fraca como forma de recuperação da safra anterior.

Líder nacional na produção de robusta (com cerca de 70% do total brasileiro e 20% da oferta global), o Espírito Santo deve registrar uma safra recorde, com aproximadamente 70% das lavouras irrigadas.

No Vietnã, a produção está estimada em 31 milhões de sacas, impulsionada por investimentos no manejo da cultura e no uso de insumos. As exportações devem crescer, resultado da expansão nos envios de café torrado e solúvel para os mercados asiáticos – 3,3 milhões de sacas. A previsão da produção vietnamita inclui 30 milhões de sacas de robusta e apenas 1 milhão de arábica.

Já na Colômbia, a produção de arábica deve cair 5,3% – para 12,5 milhões de sacas, devido principalmente às fortes chuvas. Essa retração ocorre após uma fase de recuperação impulsionada pelo fenômeno El Niño, que acelerou o crescimento dos cafeeiros e favoreceu a umidade do solo em sistemas jovens. Como consequência, as exportações colombianas devem recuar para 11,8 milhões de sacas.

TEXTO Redação

Barista

Barista da China vence o World Brewers Cup 2025, em Jacarta

George Jinyang Peng, da China, conquistou o título de campeão do World Brewers Cup 2025, realizado durante o evento World of Coffee em Jacarta, Indonésia, de 15 a 17 de maio.

A competição deste ano foi histórica, contando com a maior quantidade de participantes e juízes já registrada no evento. Após três dias de disputas entre 51 competidores do mundo todo, os nove finalistas foram:

  1. George Jinyang Peng (China)
  2. Bayu Prawiro (Indonésia)
  3. Carlos Escobar (Colômbia)
  4. Elysia Tan (Singapura)
  5. Andrea Batacchi (Itália)
  6. Justin Bull (Estados Unidos)
  7. Lakis Psomas (Suécia)
  8. Alireza (Turquia)
  9. Raul Rodas (Guatemala)

Peng, proprietário da marca Captain George Coffee Roasters em Guiyang, província de Guizhou, na China, preparou-se por seis meses para a competição. Sua apresentação na fase “open service” teve como tema “a temperatura no café”, explorando o grão desde o cultivo até o momento de servir.

Thiago Sabino no World Brewers Cup 2025

O brasileiro Thiago Sabino, da Sabino Torrefação (SP), ficou em 11º lugar. “Competi em uma arena contra pessoas que eu sempre admirei de longe, então ficar na 11ª colocação é uma sensação fora deste mundo”, escreveu o barista em suas redes sociais. 

O World Brewers Cup é uma competição internacional que celebra a habilidade na preparação manual de café filtrado. 

TEXTO Redação / Fonte: WCC Coffee e Comunicaffe International  

Barista

Inscreva-se para a 9ª Copa Barista!

Quer participar da Copa Barista deste ano? Preencha a ficha de inscrição com as suas informações.

Os 20 primeiros formulários recebidos serão selecionados para a competição.
 
Atente-se! Este ano temos mudanças no regulamento. Clique aqui para acessá-lo.
 
Importante:
Caso você esteja entre os 20 selecionados, a organização entrará em contato no dia 19 de maio para que você realize o pagamento da inscrição (R$ 120) até a data limite (confira no regulamento) e garanta a sua vaga.

TEXTO Redação • ILUSTRAÇÃO Serifa

Mercado

Expocafé 2025 reúne especialistas e debate o futuro da cafeicultura em Três Pontas (MG)

Evento reúne especialistas, produtores e pesquisadores em uma programação técnica que destaca mecanização, sustentabilidade e protagonismo feminino na cafeicultura

A cidade de Três Pontas (MG) recebe, entre os dias 27 e 29 de maio, a 28ª edição da Expocafé, uma das principais feiras do setor cafeeiro no Brasil. Com entrada gratuita, o evento promove encontros técnicos e comerciais que reúnem pesquisadores, consultores e produtores para discutir os desafios e as inovações da cafeicultura, com foco especial em mecanização, sustentabilidade e mudanças climáticas.

O destaque do primeiro dia da feira é o 14º Simpósio de Mecanização da Lavoura, que debate os avanços no uso de máquinas na cafeicultura de montanha. O consultor Guy Carvalho abre o ciclo com uma palestra sobre evolução tecnológica na produção em áreas de relevo, e Fábio Moreira da Silva (Ufla) encerra com uma análise dos desafios e oportunidades da mecanização nesse contexto.

Na quarta-feira (28), o Simpósio Cocatrel/Ufla traz palestrantes como José Donizeti Alves, referência em fisiologia vegetal, que aborda a resiliência do cafeeiro frente às mudanças climáticas, Carlos Eduardo Cerri (Esalq/USP), que trata do balanço de carbono na cafeicultura, e Kaio Dias, que apresenta estratégias para a construção do perfil do solo visando uma produção mais sustentável. O economista Gil Barabach (Puc-RS) encerra o dia com uma análise das tendências do mercado cafeeiro.

A quinta-feira (29) será dedicada ao protagonismo feminino no campo, com a realização da Expocafé Mulheres 2025 e do 8º Encontro Mineiro de Cafeicultoras, fortalecendo o espaço das mulheres em toda a cadeia produtiva do café.

A realização e a promoção comercial do evento são da Cocatrel e da Espresso&Co, com apoio da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Prefeitura de Três Pontas.

Expocafé 2025
Onde: Aeroporto Três Pontas, Três Pontas (MG)
Quando: 27 a 29 de maio de 2025
Quanto: entrada gratuita
Mais informações: www.expocafeoficial.com.br

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

Luckin Coffee abre primeira loja nos EUA e desafia Starbucks em Nova York

A Luckin Coffee, maior rede de cafeterias da China, está prestes a inaugurar sua primeira loja nos Estados Unidos, localizada no East Village, em Nova York. A unidade ocupará o número 755 da Broadway, esquina com a East 8th Street, conforme relatado pelo blog local EV Grieve e confirmado pela Nation’s Restaurant News. Embora a data exata de abertura ainda não tenha sido anunciada, a fachada já exibe o letreiro “Opening Soon Luck In New York”, acompanhado do icônico logotipo do cervo azul da marca. 

A expansão para o mercado norte-americano marca um novo capítulo na trajetória da empresa, que superou a Starbucks em número de lojas e receita na China em 2023.  Conforme adiantado pelo Financial Times em outubro de 2024, a Luckin Coffee planejava entrar nos EUA com uma estratégia focada em preços acessíveis, oferecendo bebidas entre US$ 2 e US$ 3, visando competir diretamente com gigantes como a Starbucks. 

Além da loja na Broadway, há indícios de uma segunda unidade em Nova York, na 800 6th Avenue com a 27th Street, embora a empresa ainda não tenha confirmado oficialmente essa informação.

A Luckin Coffee é conhecida por seu modelo de operação sem caixas, priorizando pedidos via aplicativo para retirada e entrega, além de oferecer um ambiente para consumo no local. Seu cardápio inclui bebidas inovadoras, como lattes com leite espesso de Hokkaido e americanos com sabores frutados, características que a empresa pretende introduzir no mercado americano. 

Após enfrentar um escândalo financeiro em 2020, que resultou na saída de seus principais executivos e em uma multa de US$ 180 milhões, a Luckin Coffee reestruturou sua gestão e retomou seu crescimento. A entrada no mercado dos EUA é um passo significativo em sua estratégia de expansão global, com foco em cidades que possuem grande concentração de estudantes e turistas chineses.

TEXTO Redação / Fontes: Eater NY, Nation's Restaurant News e Financial Times

Café & Preparos

O que são as coffee parties, tendência em cafeterias pelo mundo

“The Coffee Party” realizada em Toronto, no Canadá

Nos últimos meses, ainda que de forma tímida, a cena do café especial brasileiro vem absorvendo uma nova tendência: as coffee parties. Já famosas na Europa, Estados Unidos e Canadá, a festa agita as cafeterias durante as manhãs, quando os visitantes podem curtir uma boa música ao vivo, beber um belo espresso e fazer novas conexões.

Em São Paulo, um dos primeiros lugares a oferecer estas festas vespertinas foi a cafeteria HM Food, que, em fevereiro, fez a AM Sessions em parceria com as marcas Mizzuno, Lágrima Bar e Gop Tun. Em entrevista à Espresso, o proprietário Hesli Carvalho diz que os frequentadores, em sua maioria, são iniciantes no universo dos cafés especiais. “São pessoas que querem se encontrar com amigos para ouvir música, beber um café ou outras bebidas sem álcool’’, aponta.

As coffee parties representam uma mudança na mentalidade jovem: a busca por experiências mais leves e mais saudáveis. A especialização em cafés dos espaços das festas proporcionam interações sociais sem o artifício da bebida alcoólica, o que, na opinião de Carvalho, é mais real e significativo. ‘’Acho que o maior motivo aqui é, com certeza, o social, mas o social do mundo real, não aquele amigo da tela do celular’’, comenta o empresário.

Em Florianópolis (SC), o Café Cultura entrou na onda e também realizou, em 3 de maio, sua coffee party. Chamada de Coffee Club, a ação aconteceu das 10h às 14h. “Acreditamos que o café é, acima de tudo, um ponto de encontro, um conector de pessoas, histórias e experiências”, conta a CEO, Luciana Melo. 

Edição da “Coffee Club”, realizada pelo Café Cultura em Florianópolis (SC) – Foto: Divulgação Café Cultura

Para ela, a proposta das coffee parties está totalmente alinhada a esse espírito: “Ao transformar a cafeteria em um espaço de celebração, criamos uma atmosfera ainda mais acolhedora, que fortalece o senso de comunidade e aproxima a marca do público de forma leve e espontânea”, explica.

Na Bahia, Salvador recebe sua primeira coffee party em 17 de maio. Idealizada pela Xodó Cafés Especiais e pela Rede Amo, a SSA Coffee Session – Vol. 1: Tropical Vibes acontece das 9h às 14h na Casa Castanho. “Sou uma grande frequentadora de cafeterias e, quando eu vi esse movimento, fiquei encantada com a ideia de viver esses espaços de uma outra forma, de uma maneira mais divertida, despretensiosa e super alto astral”, comenta Brenda Matos, curadora da Xodó.

Como surgiram as coffee parties?

A origem bebe na fonte de movimentos mais amplos, como o daybreaker, nascido em 2013, em Nova York, que promove festas diurnas com dança, DJs, meditação e, por quê não, café em lugar do álcool. A ideia tomou corpo e logo se espalhou para grandes metrópoles como Londres, Berlim, Amsterdã, Tóquio e Melbourne.

“The Coffee Party” realizada em Toronto, no Canadá

“Vivemos uma época em que muitas pessoas, especialmente os mais jovens, estão bebendo menos álcool e buscando experiências mais significativas, com propósito. E o café, com sua energia e cultura, tem tudo a ver com isso”, comenta Luciana.

Se o daybreaker é direcionado ao mundo fitness e wellness, a coffee party – uma evolução deste movimento – concentra-se no nicho dos cafés especiais. É,  frequentemente, organizada em cafeterias da terceira onda, que usam esses eventos para atrair um novo público e ampliar a experiência em torno do grão. Para Brenda, o foco da ação é atingir além dos coffee lovers, “aquele público que já cansou das festas noturnas, que não quer mais chegar em casa de ressaca, tarde da noite”.

Como é uma festa de café? 

Feita majoritariamente em cafeterias, esse tipo de encontro também pode incluir espaços culturais ou até galerias de arte. Mas a estrela da festa é o café, portanto, é necessário que haja um serviço de cafeteria, com bebidas sendo preparadas o tempo todo. O cardápio de uma coffee party pode incluir drinques feitos a partir do grão, degustações e extração em métodos de preparo diferentes. Para comer, um menu com cara de brunch, com pães artesanais e pequenos doces. 

O encontro conta com DJs ao vivo, que trazem playlists de músicas eletrônicas leves, jazz lo-fi e, até mesmo, um indie mais agitado. As cafeterias já compartilham até o hábito de, no dia a dia, colocar uma playlist equilibrada, para tornar a experiência do cliente ainda mais prazerosa. 

Para quem passa por perto, a coffee party instiga a dar aquela olhadinha no que acontece lá dentro. ‘’Para a cafeteria é bom, pois proporciona um fluxo maior e, também, atingimos um público que não era da bolha de café’’, afirma Carvalho. 

Luciana concorda que criar eventos como as coffee parties ajuda a movimentar a casa em horários diferentes do habitual e faz com que a loja seja aproveitada ao máximo. “Mais do que pensar só no lucro imediato, vemos essas festas como uma forma deliciosa de nos conectarmos com as pessoas, criar memórias e reforçar o sentimento de comunidade que sempre fez parte do Café Cultura”, expõe.

Para Brenda, estes eventos agitam o espaço e promovem os parceiros. “Ele criam, também, uma comunidade e uma rede de pessoas engajadas com o bem-estar e esse estilo de vida mais slow, que é uma das coisas mais preciosas que nós podemos ver nos últimos tempos”, diz.

Afinal, sair para dançar ou se conectar não precisa, necessariamente, acontecer à noite — e o café se torna o combustível perfeito para essa nova maneira de celebrar. “No fim das contas, esse vínculo verdadeiro com o público é o que gera valor de verdade e faz com que a marca se destaque, com leveza, afeto e um bom café, é claro”, menciona a CEO do Café Cultura.

TEXTO Gabriela Kaneto e Letícia Souza • FOTO Divulgação

Cafezal

Três regiões mineiras se destacam no 34º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade do Café

A illycaffè realizou a cerimônia de premiação do 34º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Espresso na noite de ontem (09), em São Paulo (SP). Minas Gerais foi o destaque da edição, com os três vencedores vindos das regiões Matas de Minas, Chapada de Minas e Sul de Minas.

Dimas Mendes Bastos (Matas de Minas), Fazenda Sequóia (Chapada de Minas) e Leda Terezinha Castellani Pereira Lima (Sul de Minas) vão representar o Brasil no 10º Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy, que será realizado em Roma, no segundo semestre, e que reúne 27 cafeicultores selecionados de 9 países que fornecem grãos para a illycaffè.

Durante a premiação, também foram revelados os produtores vencedores regionais (Cerrado Mineiro, Chapada de Minas, Matas de Minas, Sul de Minas, São Paulo e Região Sul) e os ganhadores do Prêmio Classificador do Ano. 

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

Mercado

“A safra de 2026 vai ser muito mais poderosa”, aposta Andrea Illy

Em visita ao Brasil, o presidente da torrefadora italiana illycaffè afirma que a alta no preço do café é fruto de especulação, que a perda na produção de café este ano não será grande e projeta uma safra mais forte em 2026

Andrea Illy

Por Cristiana Couto

No Brasil para a cerimônia de premiação do 34º prêmio Ernesto Illy na noite desta quinta (8), o presidente da torrefadora italiana illycaffè participou, pela manhã, de entrevista coletiva para jornalistas do setor. 

Fervoroso defensor de práticas sustentáveis na cafeicultura e presença constante em projetos de grande impacto para o setor – como na parceria público-privada anunciada em 2024, na reunião do G7 na Itália, focada na cadeia de valor do café, e no Agorai Innovation Hub, centro de inovação em Trieste focado em soluções com inteligência artificial para áreas como agricultura, saúde e finanças –, Andrea illy se diz um otimista em relação aos desafios atuais. Para ele, a safra brasileira tem condições de bater um novo recorde e as altas de preço do arábica na bolsa de Nova York é fruto de especulação. 

Na conversa com jornalistas, o presidente da illycaffè fala sobre a importância e os resultados dos investimentos em agricultura regenerativa, que busca incentivar e implementar desde 2018 como estratégia para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, das necessidades e oportunidades do Brasil como maior produtor do grão e da volatilidade dos preços do café. A seguir, os principais trechos da coletiva.

A “bola” especulativa

É difícil calcular a queda da produção de café, mas ela não é grande. Não a ponto de justificar o nível de preços que atingimos. Esse preço de 4 dólares por libra não é indicativo do desequilíbrio entre demanda e oferta, mas uma “bola” especulativa gigante, favorecida pelas secas no Vietnã e no Brasil. Devemos filtrar um pouco o que nós podemos ler dos mercados.

2026 será poderoso

Pode ser que o pico [de preços] tenha passado. Esperamos que sim. Historicamente, se olharmos gráficos, depois de 12, 14 meses de um pico máximo, o preço cai cerca de 50%. E 2026 vai ser um ano muito mais poderoso. Há condições climáticas muito favoráveis para a produção máxima possível. Devemos considerar ainda que a produção de mudas aumentou 50%. A safra [2026] tende a ser um recorde. Mas isso não é uma previsão, eu não tenho uma esfera de cristal. É um modo de pensar.

Cop30

Em novembro, o Brasil sediará a COP-30, e a illy pretende apresentar um projeto sobre o uso da inteligência artificial na cafeicultura. A complexidade de aspectos econômicos, ambientais e sociais não pode ser analisada sem uma ferramenta como a inteligência artificial. Esse metassistema sócio-econômico-ambiental vai relacionar, prever e simular impactos da agricultura, produtividade, preços, políticas e ações, e chegar a um modelo sistêmico.

O poder da colaboração

Felizmente, percebemos uma conscientização crescente no setor cafeeiro global. Produtores estão adotando novas práticas, consumidores se mostram mais atentos e exigentes, formuladores de políticas públicas começam a escutar. Acima de tudo, acredito no poder da colaboração e cooperação.

Brasil

O Brasil pode se tornar um laboratório para desenvolver esse tipo de colaboração e ter práticas aplicadas também em outros países no futuro.

Agricultura regenerativa 1

A agricultura regenerativa representa um novo paradigma. Ela permite produzir mais e melhor, com menor custo, menos uso de água, menos emissões de carbono e menos necessidade de defensivos agrícolas. Ao mesmo tempo, promove a preservação e a regeneração do solo, oferecendo um café com mais qualidade e menor custo. Desde então, temos dialogado com os produtores sobre a urgência de adotar esse modelo. O que vimos foi uma resposta rápida e comprometida. Hoje, 70% dos produtores que vendem café para nós adotam práticas regenerativas.

Agricultura regenerativa 2

A agricultura regenerativa está se tornando agora mainstream, e sou um otimista. As três estratégias para criarmos uma agricultura clima-resiliente, são, em sequência, melhorar as práticas agronômicas, renovar lavouras com plantas jovens e de variedades mais resilientes para as temperaturas altas e doenças e desenvolver novas áreas de produção.

É preciso um plano nacional de irrigação

O problema meteorológico principal é a distribuição da chuva, que se torna mais e mais irregular, errática. A única maneira de se adaptar a esse problema é a irrigação. E, no Brasil, somente 10% das áreas cultivadas com café são irrigadas. É urgente falar sobre um planejamento nacional para o desenvolvimento da irrigação do café no Brasil. Não está claro se é possível extrair água de aquíferos – que há em abundância em algumas áreas – e quanto se pode extrair.  Outras áreas não têm aquíferos, e dependem de chuvas e da capacidade de se criar reservas. É preciso que haja regulamentação.

Fit to fight

A Illycaffè fechou 2024 com números recordes, mesmo com o aumento do ano passado do custo de café. Assim, somos preparados para enfrentar desafios, para enfrentar esta crise. E estamos dando um jeito de calibrar o aumento dos preços, de maneira a evitar um pico, que pode causar um choque de elasticidade de consumo. Ao mesmo tempo, estamos investindo muito, dobrando a capacidade produtiva, lançando novos produtos.

Lançamentos sustentáveis

Estamos lançando uma nova cápsula feita com 85% de alumínio reciclável. E a nossa nova Illetta tem um consumo 10% menor do que uma máquina comercial.

China competitiva

A China está mudando muito. Nós estamos lá há quase 20 anos, conhecemos o mercado. Mas a China está mudando muito, particularmente depois da covid. Essa mudança é contínua e bastante rápida. Para os jovens, o café não é uma bebida funcional, é uma experiência. Mas, se a China se tornou um grande consumidor de café, ela tem um consumo per capita muito baixo. Mas está iniciando uma produção local que é muito competitiva. Vamos continuar lá, mas o problema é a geopolítica. 

Geopolítica é o problema

Não temos mais a ordem mundial precedente, mas ainda não temos uma nova ordem mundial. Assim, é difícil [traçar] uma estratégia global. Nós temos ideias claras sobre o desenvolvimento na Europa, nos EUA e na China, mas é preciso ver os próximos anos. A curto prazo, esperamos que a situação se estabilize e comecem a ser recriadas condições de comércio internacional.

Estratégia de crescimento

Eu diria que a palavra mais precisa para descrever a nossa estratégia é a coerência. Continuamos na busca da qualidade, no percurso de conhecimento de toda a cadeia, de uma maneira que haja um consumo maior de café de alta qualidade. Isso implica um modelo de crescimento orgânico baseado na busca de qualidade, em desenvolvimento da marca e em envolver sempre mais consumidores. Essa é a estratégia, mesmo nessas novas condições complexas do mercado.

Empresa regenerativa

A agricultura regenerativa é somente a base de um modelo de toda a empresa. Uma empresa regenerativa produz bem-estar, prosperidade e conservação ambiental. Os lucros são um meio para melhorar o impacto, não são uma finalidade. As áreas prioritárias para esse modelo são ter baixo consumo de recursos naturais e minimizar qualquer forma de produção química ou de emissão de carbono. Isso é o grande capítulo da economia circular.

O futuro do café

Vai ter café até, pelo menos, 2040, 2050. Eu acho que vai ter café sempre, porque tem muitas maneiras de se adaptar às mudanças. Quanto mais estudamos, mais encontramos maneiras de nos adaptarmos. 

Os estoques do grão

Estoques são um fenômeno contingente que causa o equilíbrio entre a produção e a demanda e que podem mudar no próximo ano. E, historicamente, não há visibilidade sobre os estoques, pois eles não são quantificados e não se sabe onde estão alocados. Assim, é difícil de interpretar. Mas são fatores contingentes, que podem mudar no próximo ano. 

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Divulgação