Pelo Mundo por Gustavo Paiva

Setembro incerto nos maiores países produtores de café (me acordem quando ele acabar)

Por Gustavo Paiva

O mês de setembro começou depois de muita oscilação no mercado do café, que culminou com um claro reajuste de preços pagos ao produtor. Se por um lado as quebras na safra estão se confirmando no Brasil, por outro, o produtor começa a se preocupar com um setembro predominantemente seco, assim como aconteceu no mesmo mês em 2024. 

Esta, porém, não é a realidade dos outros maiores produtores de café do mundo – Vietnã, Colômbia e Indonésia –, que até aqui viveram temporadas que variaram da neutralidade ao excesso de chuvas.

Na Colômbia, resquícios da temporada passada do La Niña trouxeram chuvas acima da média na maioria das regiões cafeeiras. As chuvas podem acabar atrasando os embarques, mas a Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia sinaliza um aumento de dois dígitos na produção até o momento. Com produção e embarques durante todo o ano, a Colômbia, que geralmente produz e embarca pouco mais de um milhão de sacas ao mês, gerou cerca 8,9 milhões de sacas de café e embarcou algo como 8,7 milhões nos primeiros sete meses do ano. 

Ainda é incerto se esta alta se deve a um aumento na produção ou ao atraso acumulado por conta das chuvas. Algumas entidades ligadas aos produtores colombianos defendem que o aumento se dá por conta de uma maior remuneração ao cafeicultor, mas, em 2024, os colombianos já haviam aumentado sua produção em mais de 20% em relação a 2023. Para o restante de 2025, a tendência é que haja, finalmente, uma condição neutra depois de várias temporadas alternadas entre La Niña e El Niño.

Enquanto isso, do outro lado do Pacífico, Vietnã e Indonésia viveram uma situação relativamente similar à da Colômbia durante o ciclo de formação do grão. As chuvas também estiveram um pouco acima da média, mas as temperaturas registradas estiveram ligeiramente abaixo da normalidade. Esta pequena variação dos padrões climáticos não deixa de ser uma surpresa, já que esperava-se um ano totalmente atípico, com padrões climáticos imprevisíveis. 

Isso porque a temporada de tufões, tempestades e depressões tropicais que geralmente ocorrem entre junho e outubro, neste ano começou em fevereiro (!). Este evento, excepcional, gerou apreensão, mas acabou se mostrando um fato isolado. E a tendência, portanto, é que, para o restante do ano, espera-se os mesmos padrões válidos para a Colômbia, ou seja, de atraso nos embarques por causa das chuvas e de neutralidade climática. 

Vale lembrar que, em se tratando do sudeste asiático, neutralidade climática não significa ausência de eventos. A temporada de tufões começou efetivamente no início de junho com a tempestade tropical wutip, que atingiu o Vietnã, as Filipinas e a China. Até o momento, a tempestade mais forte a atingir uma zona cafeeira foi o tufão kajiki, no Vietnã, que afetou milhares de hectares de plantações no centro norte do país, onde se concentra a produção dos cerca de três milhões de sacas de arábica. 

Em uma avaliação geral da Indonésia, os padrões climáticos foram similares aos do Vietnã, embora o país seja um vasto arquipélago com diversas ilhas e podendo vivenciar padrões climáticos desiguais. Isso tende a fazer qualquer previsão ou tentativa de generalização climática da Indonésia um exercício extremamente arriscado. De maneira geral, espera-se um aumento de 5% na produção, levando-se em conta os padrões gerais deste ano, com chuvas ligeiramente acima da média e temperaturas um pouco abaixo do esperado.

Voltando ao Brasil, estamos entrando em um mês sem perspectivas de chuva, muito parecido com o que aconteceu em setembro de 2024 – com a diferença de que os cafeeiros receberam mais chuvas durante a colheita atual. Não se pode negar a hipótese de que parte da quebra de produção deste ano se deve ao setembro seco do ano passado. Levando-se em conta a perspectiva de um padrão climático também neutro para o restante do ano, devemos esperar uma próxima safra parecida com a última? De todo modo, se o restante do mês permanecer sem chuvas, já será praticamente impossível uma safra com volume excedente, capaz de mudar completamente a direção dos preços do mercado.

Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.

TEXTO Gustavo Paiva

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