Barista

Emerson Nascimento vence o Campeonato Brasileiro de Barista: “Este é o meu ano”

“Eu tinha o sonho de ganhar essa competição”, conta Emerson Nascimento em entrevista à Espresso. Com um currículo extenso no mercado de cafés, que acumula títulos em competições como as de Coffee in Good Spirits e Latte Art, o barista da cafeteria Coffee Five agora soma mais um: ele é o novo vencedor do Campeonato Brasileiro de Barista.

Os próximos passos desse novo desafio serão dados do outro lado do oceano. Em outubro de 2025, a cidade italiana de Milão será palco do campeonato mundial da categoria, que reunirá os melhores baristas do globo – incluindo o representante do Rio de Janeiro. 

No bate-papo com a Espresso, Emerson comenta as escolhas feitas para a apresentação, os desafios na entrega, a alegria de conquistar o título e as expectativas para a disputa lá fora.

Espresso: Como você escolheu os cafés para sua apresentação no Campeonato Brasileiro de Barista?

Emerson: O café que eu escolhi foi um catuaí amarelo do produtor Vavá [Waldemar Ferreira de Paula Neto], da Fazenda Vista do Brigadeiro, nas Matas de Minas. É um café que foi cultivado a 1.670 metros de altitude, de processo cereja descascado. Este ano, o tema da minha apresentação foi açúcar, então eu queria um café que representasse esse tema. Um café mais doce, que tivesse notas indo para melaço de cana, açúcar mascavo, limão. 

Tenho uma torrefação no Rio de Janeiro chamada Five Roasters e o Daniel Vaz, meu sócio, correu atrás de café para ele, porque ele competiu junto comigo, e eu lhe dei essa missão de também achar um café doce para eu competir. E ele conseguiu achar o café do Vavá, que foi incrivelmente espetacular na apresentação. Entregou tudo, muitas notas doces, limão siciliano, açúcar mascavo. Tinha algumas notas indo para milho, bolo de milho, e também tinha um sensorial finalizando em chá preto. E era um café com corpo leve, médio.

Um café mais doce para um tema que iria falar sobre os açúcares no fruto. No Vavá, a altitude é bem elevada, então a amplitude térmica ajuda bastante na formação de açúcar. Durante o dia, as plantas fazem bastante fotossíntese e, à noite, o microclima é mais frio. Então, de manhã é muito quente e de noite é bem frio. As plantas desaceleram o metabolismo e sintetizam a energia gerada da fotossíntese em açúcar. Com a altitude e o processo comum no Brasil, que é o cereja descascado, o café teve uma pontuação média de 89 pontos.

Pódio do Campeonato Brasileiro de Barista 2024, da esquerda para a direita: Hugo Silva (terceiro colocado), Emerson Nascimento (campeão) e Daniel Vaz (segundo colocado)

Espresso: Para você, o que significa ganhar o Campeonato Brasileiro de Barista?

Emerson: Eu tinha o sonho de ganhar essa competição. Já competi nesta modalidade quatro vezes antes de ser campeão. A última vez foi ano passado, em que fiz uma apresentação muito linda, mas tive um erro técnico que me tirou da final. Fiquei em sétimo lugar. Fiquei muito chateado porque eu estava com uma apresentação muito boa para ser campeão brasileiro. Já aconteceu de eu me decepcionar em outras competições também, mas não desisti. Este ano, consegui montar outra apresentação e ser campeão. Tirando o ano passado, a última vez que competi foi em 2010 ou 2011, se eu não me engano. Então fazia bastante tempo que não concorria nessa categoria, e ano passado, em que eu montei uma apresentação incrível, eu errei e não fui para a final. Aí eu respirei, montei uma nova apresentação e vim com tudo de novo. Este ano foi meu ano, fiquei muito feliz. 

Espresso: Para você, quais foram os maiores desafios nesta competição?

Emerson: O maior desafio de toda competição, para mim, hoje em dia, tem sido o tempo. Eu tenho muito trabalho para fazer, viagens, minha agenda estava muito cheia. Tinha competição em Singapura, em Portugal, em vários lugares, e isso foi só encurtando o tempo. Estava chegando perto do campeonato e eu não tinha tempo para treinar. Na semana do Campeonato Brasileiro eu tinha uma consultoria para finalizar, uma viagem para São Paulo, e eu separei dois dias para treinar. Eu até precisava de mais tempo, mas esses dois dias foram suficientes para eu botar a cabeça no lugar e treinar o que eu pensei para a competição, e eu consegui executar minha apresentação. No primeiro dia eu estava muito nervoso, me cobrando muito para estar na final, que era minha meta. Eu sou campeão de outras categorias, como o Coffee in Good Spirits, mas eu queria ser desta categoria, então estava me cobrando muito. Na primeira fase foi bem difícil pra mim, fiquei nervoso, mas no outro dia eu estava aliviado de ter conseguido passar para a final e fiz uma apresentação muito mais tranquila e leve, e consegui pontuar ainda mais. Foi bem legal, mesmo tendo pouco tempo de treinamento. O grande desafio foi ter tempo para treinar e chegar na final. Depois disso foi só entregar o que eu treinei e relaxar, curtir a apresentação. 

Espresso: Qual momento da sua apresentação teve mais destaque para que você alcançasse o primeiro lugar?

Emerson: A parte da minha apresentação que deu mais certo foi a de bebida de assinatura. Foi um dos drinques mais difíceis que fiz na vida. Era um drinque que me fazia caramelizar o açúcar na frente dos juízes. Então, eu colocava 40 g de açúcar e 10 ml de água e uma chapa esquentando desde o início da minha apresentação. A ideia era que esse açúcar caramelizasse certinho, no ponto correto, sem queimar, em 10 minutos, para que eu pudesse começar a fazer meu drinque. Foi desafiador porque foi um drinque que os juízes não esperavam experimentar, segundo o que eles falaram depois. Coloquei 10 g de manteiga e eles já começaram a estranhar, mas falaram que foi surpreendente. Coloquei depois 10 ml de uma solução málica salina, que é ácido málico com flor de sal, e 60 g de creme de leite fresco, e gelei o drinque. Ficou com uma textura muito gostosa, parecia a de sorvete de caramelo com flor de sal derretido. Foi onde eu mais pontuei porque os descritores foram bem assertivos.

Espresso: Quais as expectativas para o Campeonato Mundial?

Emerson: São boas. Acho que tenho mais experiência, porque este ano fui coach do Daniel Vaz na Coreia do Sul e conseguimos ver bastante coisa no Campeonato Mundial. Agora, para o Campeonato Brasileiro, nos preparamos bem, fiquei em primeiro e o Daniel, em segundo. Então, temos bastante coisa para pensar e tempo para treinar. 

A expectativa é de ter mais apoio, a galera chegar junto com a gente na apresentação, e também, penso em buscar mais recursos financeiros para conseguir competir bem no Mundial. Me sinto mais preparado e vai ser uma boa época para pegar café para o Mundial aqui no Brasil. Vamos estar no auge do café brasileiro.

Espresso: Você pretende competir novamente nesta e em outras categorias?

Emerson: Eu ainda tenho vontade de competir, e eu devo participar do Coffee in Good Spirits, que é uma competição que gosto muito e sou bicampeão brasileiro. Estou numa crescente boa no Campeonato Mundial, com mais experiência e sabedoria de competição. 

Espresso: Quais conselhos você daria para alguém que quer começar a competir nos campeonatos nacionais?

Emerson: Se dedicar bastante, treinar bastante. Querer fazer isso, porque é difícil, requer tempo, mexe com o nosso emocional, mas o resultado é aprendizado, você cresce como pessoa, como profissional. Mudou minha vida. Desde que comecei a competir, o mercado passou a me ver, comecei a ter mais oportunidades, então acho que as competições me trouxeram muitos resultados positivos para a vida e muito trabalho. 

Não vá para a primeira competição achando que vai ser um teste. Monte uma apresentação com a ideia de ser campeão. Pode ser que você não esteja com a melhor apresentação de todas, mas se você for achando que vai só sentir como é uma competição, talvez você não vá com a energia que deveria ir, e acabe não entregando tudo que você tem para entregar. Caia de cabeça, monte uma apresentação na categoria que você se sente mais confortável e entregue tudo.

TEXTO Gabriela Kaneto • FOTO NITRO/Semana Internacional do Café

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