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Primeiro dia de SIC debate clima e novos consumidores
O evento, que vai até sexta (22), destacou, também, a necessidade da união de toda a cadeia
Trabalho conjunto. Seja ele feito a partir da união de toda a cadeia, seja integrando olhares voltados à sustentabilidade, qualidade e valor, a expressão, quase um conceito na cafeicultura atual, permeou as palestras do primeiro dia da 12ª edição da Semana Internacional do Café.
O evento, que acontece até sexta (22) no Expominas, em Belo Horizonte (MG), teve como tema central “Como o clima, a ciência e os novos consumidores estão moldando o futuro do café”. As questões sobre o clima alertaram para os desafios enfrentados pela cadeia cafeeira, mas, também, para possíveis soluções. “O Brasil não está conseguindo produzir café suficiente para atender a demanda, mesmo batendo recordes”, alerta o especialista Haroldo Bonfá, da Pharos Consultoria e há 40 anos no ramo do café, na palestra de abertura “Cenários e perspectivas do cenário de cafés”.
A questão diz respeito à conjunção desordenada de seca, geada e chuva tardias, tanto no Brasil como no âmbito global. “Acidentes climáticos vão continuar”, frisa Márcio Ferreira, CEO da Tristão. “E medidas isoladas não são a solução”, emenda Marco Valerio Brito, da Cocamig, no painel “Visão global: executivos discutem os atuais desafios e oportunidades do setor”.
Segundo os palestrantes, porém, nunca o setor esteve tão unido. Um exemplo disso é o compartilhamento de sementes de uma nova variedade de arábica –, a star4 (com período menor de crescimento e alta tolerância à ferrugem) desenvolvida pela Nestlé depois de mais de dez anos de pesquisas –, com a cadeia produtiva. “Se antes praticávamos uma agricultura sustentável, hoje incentivamos uma agricultura regenerativa”, diz Valéria Pardal, CEO de cafés da Nestlé Brasil, que participou do mesmo painel, referindo-se aos cuidados com o solo, com a água e à preservação da biodiversidade.
Ao lado dos impactos fortíssimos do clima, que têm se refletido no mercado a “geografia de consumo” também vai mudar. “Rápida e drasticamente”, sentencia Ferreira. “E essa geografia vai demandar mais e mais produção, precisão de tecnologia, ciência e bom preço”, conclui.
Ferreira refere-se aos mercados emergentes. “Temos um potencial tremendo, pois somos competitivos em preço e em qualidade, e temos que valorizar isso nos mercados lá fora”, esclarece Bonfá, referindo-se não só aos mercados emergentes, como China e Índia, como uma oportunidade – são países populosos e que ainda bebem pouco café (a China, por exemplo, bebe 300 g de café per capita ao ano) – mas, também, à manutenção dos países já conquistados. Mas o trabalho, frisou ele, é longo. “Temos todo o espectro de café necessário”, reforça o especialista.
Trabalho conjunto. Um dos resultados, sem o qual todo ele seria em vão, é o convencimento não só desses novos mercados, mas, também, das novas gerações, quanto ao valor de uma xícara de café brasileiro de qualidade. “A visão do futuro do café é gelada”, aposta Valéria, com relação às bebidas cold brew, segmento que alcançou um crescimento de 40% no último ano.
É preciso, portanto, entender o consumidor, que tem sede de conhecimento, quer novas experiências mas, também, um café ESG. Rastreabilidade e corresponsabilidade são, assim, conceitos que estão na ordem do dia.
“Não existe revolução verde no vermelho”, lembra Felipe Salomão. A mitigação da emergência climática e a manutenção e crescimento do mercado não funcionam de maneira isolada. “A agricultura regenerativa é sistêmica”, continua Salomão, gerente-sênior de assuntos públicos da Nestlé Brasil no painel “COP 30: e eu com isso?”. “É preciso gestão, de caixa, de sucessão, de financiamento”, continua. “A cafeicultura sustentável é de um difícil equilíbrio entre produção e sustentabilidade”, ecoa José Donizeti Alves, professor titular da UFLA, ao discorrer sobre o impacto do clima no café sob ambos os aspectos no painel “Desafio climático: seus impactos e soluções verdes para uma nova era sustentável”.
Trabalho integrado. Como converter, por exemplo, economia verde em valor? Este foi o tom de Daniel Vargas, professor da FGV RJ, durante o mesmo painel. São necessários movimentos globais, como as negociações da COP, em nível nacional, como os debates sobre o mercado de carbono, e os movimentos locais, nas trocas voluntárias de carbono. Uma verdadeira aula, difícil de reproduzir nesta síntese. Mas cuja reflexão é necessária e urgente.
“O futuro é a integração entre saúde e bem estar, sustentabilidade e sabor”, reflete Stefan Dierks, diretor de estratégia de sustentabilidade do grupo Melitta da Alemanha, que abriu o painel “O impacto das megatendências no consumo de café. “E a única forma de alcançarmos isso é trabalhando juntos”.
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