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O que nos une é maior do que o que nos separa – o dilema dos jovens cafeicultores de Antióquia
Em um artigo passado, comentei sobre a semelhança de Medellín, capital do departamento de Antióquia, na Colômbia, com Belo Horizonte, capital mineira. Se as semelhanças entre as duas cidades não é difícil de notar para quem as conhece, a mesma lógica se mantém ao compararmos Antióquia e Minas Gerais.
Antióquia é o segundo departamento (equivalente aos nossos estados) mais povoado da Colômbia. Também é o segundo mais rico e um dos motores da independência colombiana. Foi ali que nasceu José Maria Córdova, uma das figuras mais atuantes para a independência da Gran-Colômbia, o que torna a comparação com Tiradentes óbvia.
O título desta coluna reflete uma frase comumente dita quando rivais se unem em prol de um bem maior. Desde a aliança das ex-colônias espanholas para a libertação até a ação de jogadores de times rivais que se unem para defender Los Cafeteros, como é chamada a seleção nacional colombiana.
Não seria difícil ouvir de algum cafeicultor brasileiro que o maior, ou segundo maior, rival brasileiro neste campo seria justamente o cafeteiro, de ofício, colombiano. Mas será que dentro do universo do café podemos dizer aos colombianos que o que nos une é maior do que o que nos separa?
Durante a Colombia Coffee Expo, realizada em Bogotá entre 2 e 5 de outubro, vários temas relevantes ao cafeicultor colombiano foram levantados, de tratos culturais, passando por mudanças climáticas e preços no mercado externo até o problema dos jovens colombianos em continuar na zona rural e manter o ofício dos pais.
A Federação Nacional de Cafeicultores da Colômbia (FNC) promoveu uma ampla pesquisa com os produtores de café com menos de 30 anos para entender os problemas, na visão deles próprios, que o campo colombiano enfrenta e quais as razões principais para ficar ou deixar a produção. A pesquisa foi coordenada pelo diretor de desenvolvimento social, Guillermo Arcila, e contou com entrevistas em campo com centenas de cafeicultores abaixo dos 35 anos. Os resultados foram apresentados, no evento, por Valeria Ríos e Juan Vélez.
O que se constatou foram quatro problemas principais: falta de estrutura, falta de renda adequada, dificuldade de inovar e de fazer parte de decisões importantes.
Com relação à falta de estrutura, as queixas baseiam-se na falta de estrutura privada e, também, pública. A iniciativa privada colombiana não investe ou não quer investir em estruturas básicas, como internet, e itens relacionados à qualidade de vida, educação e lazer. Os jovens entendem que, para exportar café e agregar valor, precisam ter bom inglês – mas geralmente não existem escolas de inglês em um raio de até uma hora de suas casas.
Até mesmo o futebol foi apontado como um fator de desinteresse para a cultura do café, já que aqueles que pretendem estabelecer-se no campo não poderão dar aos filhos a oportunidade de jogar em uma escolinha, e nem eles próprios terão como manter o tradicional futebol do fim de semana – os que vivem ali são poucos e já se sentem velhos para jogar. Não tem mais time. Junte-se a isso o preço alto do maquinário, a falta de peças de reposição, a escassa assistência técnica para repor os itens defeituosos e a falta de um melhor treinamento quanto ao funcionamento das máquinas.
Mas é claro que as queixas também recaem sobre o poder público, que não oferece rodovias adequadas e que, muitas vezes, oferece serviços de luz e água precários.
Quanto à renda, a queixa é muito similar à brasileira. Preços baixos, dificuldade de manter o café armazenado para esperar o melhor preço, excesso de intermediários e grande volatilidade do mercado são apenas alguns dos exemplos que fazem o jovem cafeicultor desistir ou, muitas vezes, nem sequer tentar a vida no campo.
Por último, as dificuldades na inovação e na tomada de decisões. É inerente ao jovem de praticamente qualquer lugar do mundo ter maior abertura ao e desejo do novo. No café não é diferente. Mas como inovar com todos os desafios citados? A resposta vem por meio da qualidade do grão e do seu valor agregado. Mas passa, também, por outras iniciativas, como o turismo e a oferta de experiências no campo para pessoas urbanas.
Em termos de qualidade, a saída foi melhorar os processos de produção e promover a marca própria como expressão do próprio estilo. O nome, o rótulo e a marca podem parecer etapas protocolares no lançamento de um produto. Mas são, talvez, a única forma de o cafeicultor mandar sua mensagem ao mundo expondo o seu estilo. Nos tempos de influenciadores e brigas por likes, esquece-se que muitos ainda sonham com uma internet adequada.
E mesmo que o tenham, a mensagem enviada através de um rótulo e de um trabalho por trás de um pacote de café torrado tende a ser infinitamente mais profunda do que um story de quinze segundos. Portanto, quando o assunto é o cafeicultor, o que nos une é muito maior do que o que nos separa. A questão é a percepção da unidade na diferença, e a cooperação apesar da distância.
Gustavo Magalhães Paiva é formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra e é mestre em economia agroalimentar. Atualmente, é consultor das Nações Unidas para o café.
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