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Entrevista com Andrea Illy: “A Itália é amada em todo o mundo, por seu estilo de vida e seu café”

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A Itália está sediando de maio até 31 de outubro a Expo Milano 2015, megaevento que tem como tema a alimentação. Um dos pavilhões, em Milão, é dedicado ao café. A illycaffè, empresa italiana de mais de 80 anos, é responsável por esta área chamada de Coffee Cluster. O presidente da companhia veio ao Brasil e falou com a Revista Espresso sobre as atrações do evento, dentre elas o lançamento de um livro de sua autoria durante a Expo. E também sobre a preocupação do setor com as mudanças climáticas no mundo, que afetam diretamente os cafezais e as importações de cafés de empresas torrefadoras como a illycaffè.
Veja os principais momentos dessa entrevista exclusiva.

Como veem a mudança na qualidade do café por conta das questões climáticas? Como isso influencia o mercado?
O clima está mudando e o Brasil também é afetado, principalmente com secas e temperaturas mais quentes em algumas regiões de produção. É preciso diferenciar as práticas agronômicas, dependendo da situação. As alterações no clima comportam um clima muito errático, um por ser muito quente, outro por ser muito frio ou seco. Há algumas coisas básicas. A conservação da água. A irrigação é sempre necessária. Alguns agricultores dizem que a irrigação é também importante para baixar as temperaturas na plantação. Esse ano foi possível produzir uma boa quantidade de cafés naturais excelentes, o que normalmente não acontece, pois precisa fazer café descascado. Essas práticas serão necessárias no futuro, então é importante trabalhar agora para desenvolver variedades resistentes ao calor e à seca. Estabelecer um trabalho de adaptação utilizando todas as disciplinas da agronomia, com a tecnologia, biologia e tudo o que se tornar necessário.

Quais são as principais pesquisas que realizam na questão do clima, da planta e do desenvolvimento do cafezal?
Uma pesquisa que tínhamos no passado era de cafés descascados e hoje trabalhamos muito para reduzir a emissão de carbono e os resíduos fitossanitários. Hoje, outra pesquisa é sobre a diferenciação de qualidade na xícara, através de práticas agronômicas. Acho que deveríamos acelerar um pouco a pesquisa relacionada à da mudança climática, por que está indo mais rápido do que se imagina.

Quais serão as novidades da Expo Milano?
Estamos organizando a maior celebração do café da história, em Milão. A Expo é concentrada em torno da alimentação e, pela primeira vez da história, será a mais importante exposição de alimentação, considerando a importância socioeconômica do café.
As autoridades da Expo decidiram dedicar-se ao café especial e criaram o Coffee Cluster. A Illy foi escolhida para ser curadora de todo o programa. Vai ser uma enorme celebração do ponto de vista dos números, porque teremos seis meses de evento e um grande encontro entre países produtores e países consumidores.

O que terá no Coffee Cluster?
Muito conteúdo, porque vamos representar o passado, presente e futuro do café através de suas três dimensões relevantes: produto – da planta à xicara – cultura e a descoberta do paraíso do café. É um trabalho enciclopédico para representar a cultura do grão.
Também teremos a primeira conferência Global Coffee Forum (1º e 2 outubro), para discutir as três virtudes do café: prazer, saúde e sustentabilidade. Vamos apresentar também algumas inovações que abordam a natureza e a tecnologia.
Vai ter uma belíssima exposição de fotografia de Sebastiao Salgado, que vai ser ao mesmo tempo em Milão, no Coffee Cluster, e também em Veneza, durante a Bienal de Arte Contemporânea, além dos parceiros dos pavilhões americanos, que são os maiores consumidores de café e também onde começou a revolução do specialty coffee. Outros países também são parceiros. Sebastião Salgado vai também lançar um livro e eu também, mas o meu tema é surpresa.

Tem algum café que vocês estão preparando para a Expo?
Outra surpresa. Venha visitar que você vai descobrir.

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Vocês divulgam os investimentos para a feira?
No total estima-se em torno de 10 a 15 milhões de dólares.

Qual a importância deste investimento?
A importância maior é a de comunicar a marca, para desenvolver conteúdos, utilizar não apenas na estratégia de comunicação, como também nas questões tecnológicas e também de trabalhar com grandes massas, porque vamos experimentar trabalhar com milhões de pessoas. Uma experiência muito boa.

O píblico que visita a feira é variado?
De todo tipo. Vai ser uma grande festa de maneira a valorizar a cultura do café italiano. A Itália é amada em todo o mundo, por seu estilo de vida e seu café. Muitos dos cafés especiais que se encontram no mundo são torrados na Itália e é a maneira de celebrar e valorizar a cultura italiana.

Quantas xícaras de espresso serão servidas durante a Expo?
Uh! Uma boa pergunta. Acho que… em torno de 7 milhões de xícaras.

Como você vê a trajetória da Illy nestes 25 anos no Brasil? Qual a importância deste trabalho?
Foi um sucesso enorme, porque a Illy conseguiu alcançar seus objetivos de abastecimento e melhoria de qualidade. Agora compramos café de qualidade muito maior e 100% diretamente do produtor, uma cadeia de abastecimento também certificada.
O produtor vende o café com preço 70% maior. É uma colaboração ganha-ganha. Hoje, todos as marcas querem comprar cafés brasileiros, já que ele conquistou liderança qualitativa também.

Como você vê a entrada do café verde aqui no Brasil por meio de algumas empresas que querem fazer cápsulas? Positivo?
Isso deve ser visto na prática. Eu acho que não deve ser permitido.

Como você vê o mercado do Brasil para cápsulas? Para illy, é positivo?
Positivo, porque as cápsulas permitem a preparação de um café excelente em uma máquina pequena, e o consumidor se habitua a tomar café de qualidade.

Você acha que ajuda o crescimento do consumo?
Sim. A melhor maneira de se tomar café é no método espresso e é a técnica mais difícil de preparo porque sua complexidade é enorme. As cápsulas facilitam.

Como é a concorrência com outras empresas? Como a Illy se diferencia?
A Illy tem um posicionamento único, que não mudou e que continua a se reforçar. Um relacionamento que é embasado na cumplicidade. Quando nosso avô fundou a Illy, ele teve o sonho de espalhar o melhor café pelo mundo e, em consequência dessa ideia, escolhemos uma missão embasada em três elementos: melhor qualidade de café, melhores tecnologias e oferecer ao café ao consumidor global. Vendemos para 40 países. Todos os cafés que entram no blend são cafés feitos especialmente pela illy, pelos produtores que trabalham em parceria. Assim, essa cadeia de abastecimento que nós temos é ratificada em 20 países.

E em relação à concorrência?
No ponto de vista da tecnologia, continuamos a inovar no espresso. Nosso avô foi o homem que inventou a fórmula de espresso que todos conhecem e a última inovação foi o iperespresso. O posicionamento da Illy se mantém o mesmo, não é muito grande mas não é pequena. O tamanho é compatível com a capacidade de selecionar os cafés únicos e produzi-los com o controle de qualidade muito alta. Os outros colegas da indústria, que fazem cafés de qualidade, contribuem para tornar tudo maior. Em tudo isso há um efeito positivo porque o consumo médio de café no mundo está crescendo. Até 15 anos atrás a média era em torno de 1.2 e 1.5%, era mais ou menos o tamanho do crescimento demográfico do mundo. Hoje, a média do consumo é acima de 2%. Assim, parece que o consumidor nos dá uma resposta positiva, tendo a oportunidade de mais pessoas começarem a consumir.

TEXTO Mariana Proença • FOTO Fernando Sciarra/Café Editora

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