Mercado

Preços, safras recordes e consumo em casa salvaram o café durante pandemia

Foto: Felipe Gombossy

Com o fechamento de cafés e escritórios em todo o mundo devido à pandemia, o mercado global de grãos temia um 2020 especialmente complicado. Mas os grandes produtores salvaram o ano com uma receita de blend: combinação de preços, safras recordes e consumo alternativo nas famílias.

“2020 foi particularmente bom para o Brasil, mas não tão bom para os outros países em termos de produção”, explicou Carlos Mera, analista do RaboBank em Londres. O maior produtor mundial comemorou safra recorde no ano passado: 63,08 milhões de sacas de 60 kg, 27% a mais que em 2019, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Cerca de 77% do café brasileiro é da variedade arábica, por outro lado, o Vietnã, maior produtor de canéfora (robusta), colherá 7% a menos do que a inédita safra do período anterior.

O tempo seco reduziu a produção para 29 milhões de sacas, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. A Colômbia também diminuiu sua produção em 6% em 2020, com 13,9 milhões de sacas, segundo a Federação Nacional dos Cafeicultores.

Com a Etiópia no topo de uma série de países, a África passou o ano sem altos e baixos. O continente “é muito estável porque há muita distância entre os países, climas diferentes, eles não sofrem tanto com os preços porque a produção é mais extensa e os custos dos fertilizantes são menores”, descreve o analista. O mundo produziu 0,9% menos café em 2019/2020 em relação ao período anterior.

Melhor preço

Com as restrições que se seguiram à pandemia, o consumo e as exportações foram abalados. A renda dos cafeicultores variava em cada país de acordo com a estabilidade de suas moedas em relação ao dólar, bem como com a qualidade e a quantidade de suas safras. Embora o preço internacional tenha dado uma pausa.

O café arábica foi negociado na Bolsa de Valores de Nova York a uma média de US $ 1,10 a libra, uma recuperação em relação a 2019, quando atingiu baixas de menos de um dólar. O Brasil levantou a taça alto. Soma-se à sua produção volumosa a desvalorização de 29% do Real em relação ao dólar.

Na Colômbia, cerca de 540 mil famílias cafeeiras sentiram alívio graças também à desvalorização de sua moeda (4,7%). O valor da safra ficou em torno de 2,6 bilhões de dólares, “o maior dos últimos 20 anos” levando-se em conta a inflação, disse um funcionário da federação.

Foto: Agência Ophelia

As Bolsas de Valores de Nova York e Londres negociam contratos “futuros”, com estimativas do preço do café, para proteger comprador e vendedor de oscilações, assim que a carga chegar ao seu destino ou encontrar um cliente. Mas eles também são negociados na conveniência de um corretor. De acordo com Fernando Morales-De La Cruz, da organização Café for Change, o preço de 2020 em termos reais foi quase 70% menor que o preço do café de 1983, quando era de US $ 1,40.

Em termos de preço, o Vietnã não esteve tão bem. “O preço em dólares do robusta foi bastante decepcionante para os produtores vietnamitas, a safra está abaixo do esperado e o preço, por ter uma moeda fortemente controlada pelo Estado, não desvalorizou apesar da pandemia”, explica Carlos Mera. Além disso, “o preço do frete marítimo do Vietnã quase triplicou”, acrescentou.

Consumo e perspectivas

O café também teve que ser confinado pelo coronavírus. O consumo saiu das lojas para as residências. Embora as restrições afetassem a movimentação nos portos, o consumo sofreu menos do que o esperado (-2,4%), apesar de ter ficado abaixo da produção pelo terceiro ano consecutivo.

Segundo a Organização Internacional do Café (OIC), o mundo arrecadou 168,68 milhões de sacas no período 2019/2020, enquanto o consumo foi de 164,53 milhões. Embora a demanda deva se recuperar, um aumento de 1,9% na produção mundial causará um superávit de 5,27 milhões de sacas em 2020/2021, acrescentou a entidade.

O consumo da bebida quente tende a aumentar durante o inverno. Mas o fechamento de cafeterias e restrições em países europeus afetados pelo vírus podem alterar a tendência. Em 2021, o Brasil poderia marcar a sorte do mercado.

Os especialistas preveem uma queda na produção de arábica de cerca de 30% devido a uma forte seca, que pode beneficiar países como Colômbia, Etiópia ou América Central.

TEXTO As informações são da AFP / Tradução Juliana Santin

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