Coluna Barística por Mariana Proença

Experiências com café e sobre a profissão barista

Frio na barriga

baristica-51

Posso ser saudosista na minha coluna desta edição? Neste ano completo uma década de trabalho no mundo do café, mais precisamente na Café Editora, onde comecei e continuo. São quarenta edições da Espresso, centenas de apurações, entrevistas, textos, experiências, eventos, projetos especiais, livros e milhares de profissionais que conheci por causa do café. Aquele chavão de que o café une as pessoas serve mais ainda para quem trabalha nessa área.

Não tenho vergonha nenhuma de dizer que não conhecia quase nada sobre o grão quando comecei a trabalhar como jornalista que escrevia sobre o tema. Fui sincera na minha entrevista de emprego. Mas tenho muito orgulho de dizer que ralei bastante para saber mais. É um desafio enorme começar do zero, mergulhar no desconhecido, entrevistar pessoas que começaram a trabalhar na área antes de você nascer e, em meio a esse aprendizado, com meus 20 e poucos anos na época, ainda ter a missão de criar outra linguagem para falar de café, ser criativa, pensar em pautas diferentes das tradicionais.

Como ninguém faz nada sozinho, tenho a imensa parceria de diversos talentosos profissionais que me ajudam diariamente a seguir em frente e produzir, produzir, produzir. Acredito que estamos neste mundo para deixá-lo melhor, construir coisas boas que possam contribuir com a vida de outros e para o futuro. É isso que me move. Sem essa certeza, não teria vontade de levantar para começar o dia.

Com esse sentimento, levei esses dez anos e com muito entusiasmo vejo que o mercado de cafés especiais no Brasil mudou muito. É um tempo curto, se levarmos em consideração a cultura do café, mas foi um período de grandes transformações. E o melhor é ver que contribuímos para isso. Quem investiu no café de qualidade, no produto de ponta, no serviço bem executado está caminhando junto nesse movimento, que só cresce. Novas pessoas estão abraçando a causa e, o mais importante, há cada vez mais consumidores com vontade de viver diferentes experiências ao provar um café. Estamos passando por mudanças e isso é muito bom.

Por isso, seguimos realizando projetos cafeeiros Brasil afora e pelo mundo que possam inspirar (como já aconteceu) outras pessoas a começar a trabalhar no setor. Hoje, sim, somos referência para mídias internacionais, nós temos o grande diferencial de produzir conteúdo de café (muito bem-feito, modéstia às favas) em um país produtor, onde temos enorme campo de trabalho, um continente para explorar e muitas e muitas histórias e exemplos.

Conta-se que, quando a Espresso começou, em 2003, uma pessoa que foi apresentada ao projeto disse: “Nossa, mas vai ter assunto para uma revista?”. Não só para uma, como para 51 e mais outras dezenas. Ah, o mundo do café… Um verdadeiro encanto que, quanto mais se sabe, menos se sabe. A eterna busca pelas verdades absolutas. Que o frio na barriga nunca nos abandone e que possamos construir dezenas de novas histórias pela frente, repletas de brilho nos olhos e muito café bom.

(Texto originalmente publicado na edição impressa da Revista Espresso – única publicação brasileira especializada em café. Receba em casa. Para saber como assinar, clique aqui).

TEXTO Mariana Proença • ILUSTRAÇÃO Eduardo Nunes

Deixe seu comentário