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Verônica Belchior é a nova integrante da World Coffee Research

A brasileira Verônica Belchior é a mais nova Cientista Pesquisadora de Avaliação da Qualidade do Café da World Coffee Research (WCR). Com quase 15 anos de experiência em cafés, Verônica é doutora em Ciência dos Alimentos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Q-Grader desde 2013. Em 2014, criou sua versão do curso de Análise Sensorial de Cafés Especiais e participou do Projeto The Coffee Sensorium.

Seu papel na WCR – organização de pesquisa sem fins lucrativos dedicada a promover sustentabilidade e lucratividade da indústria do café – é contribuir com os programas de pesquisa, desenvolvimento e melhoramento de variedades, particularmente na avaliação da qualidade dos grãos em muitas origens de café pelo mundo. Ela também vai supervisionar e fortalecer a conexão entre o setor, os pesquisadores-colaboradores e os especialistas em melhoramento genético de plantas, agrônomos e outros pesquisadores do WCR. 

Entre suas pesquisas está a criação de modelos estatísticos para classificar cafés analisados por espectroscopia, cromatografia e análise físico-química. “Trabalhar para a World Coffee Research é uma forma de criar algo novo e relevante para o mundo do café e diante das mudanças climáticas”, diz a pesquisadora mineira, em entrevista ao WRC.

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TEXTO Redação

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Café sob a lupa de especialistas

Quantas notas sensoriais podem ser encontradas dentro de uma xícara? Antes que você dê o primeiro gole e faça as suas anotações, profissionais treinados (provavelmente) já analisaram o seu café. Conheça o papel do Q-Grader na compra e avaliação de lotes e a sua importância para a melhoria contínua da qualidade dos grãos brasileiros 

Foto: Agência Ophelia

Quando adquirimos um café especial, é comum encontrarmos na embalagem a descrição sensorial da bebida, como frutas vermelhas, açúcar mascavo, caramelo. Já na xícara, buscamos essas referências principalmente a partir de aroma e sabor, e acessamos nossa memória para identificar novas notas que podem aparecer entre um gole e outro. Para nós, consumidores, esse é um exercício despretensioso, um ritual a cada café tomado. Mas, por trás do prazer sensorial, existem características  complexas, profundamente analisadas por profissionais que se dedicam, diariamente, a identificar, descrever e analisar o melhor (ou não) de cada grão. 

Quem é e o que faz um Q-Grader

Os chamados Q-Graders — provavelmente você já ouviu falar deles — são os responsáveis por avaliar e emitir laudos de qualidade em café. Em inglês, Q é a abreviação de “quality”, enquanto Grader significa classificador, avaliador. Porém, diferentemente do classificador de café, o Q-Grader é uma certificação internacional que habilita profissionais por meio de uma metodologia específica, faz com que eles estejam aptos a avaliar física e sensorialmente um grão, e categorizá-lo como “especial” ou “não especial” dependendo dos atributos positivos e defeitos encontrados. Já o classificador não precisa, obrigatoriamente, ser certificado como Q-Grader.

“Os dois profissionais são extremamente importantes no mercado de cafés, tanto especial quanto comercial”, afirma Donieverson dos Santos, Q-Grader há quatro anos. “Essas profissões são complementares, e fazem com que a avaliação do café seja conduzida com seriedade e profissionalismo, valorizando o produto e destinando-o comercialmente de maneira correta”, completa. 

Como tornar-se um Q-Grader

É necessário realizar o curso de capacitação, oferecido pelo Coffee Quality Institute (CQI). Durante o curso — que também acontece no Brasil, em locais validados pelo CQI —, o profissional é treinado e avaliado em diferentes aspectos relacionados à análise sensorial, para aprofundar-se em certificações específicas: Q-Grader, para cafés arábica, ou Q-Robusta Grader, para cafés canéfora.  

KJ Yeung, Q-Grader há três anos, conta que a avaliação é feita em uma semana – mas não se engane: apesar do pouco tempo, é um aprendizado intenso. “A resiliência do candidato ao treinamento é a peça-chave para a aprovação”, explica KJ Yeung. Segundo ele, além da resistência física e mental durante as aulas e provas, o participante precisa conhecer avaliação sensorial em profundidade, a partir da vivência em provas no dia a dia, ou, pelo menos, uma boa percepção do método. Ainda segundo o profissional, as softskills adquiridas fora do ambiente de trabalho são essenciais: “ter curiosidade, não apenas sensorial, é a base para ser um bom avaliador. Quanto maior a experiência, mais ampla é a percepção de qualidade, que pode ser bem flexível e subjetiva dependendo do lugar”, ensina. Outra característica importante, de acordo com o Q-Grader, é ter senso crítico. “O que não significa ser severo, mas reconhecer, realmente, as características de um café, positivas ou negativas”, destaca. 

Não é necessária nenhuma habilidade especial para ser um bom profissional. Ao longo do tempo, porém, algumas medidas podem ser tomadas para que o desempenho do profissional não seja comprometido, e ele consiga tornar-se referência. Entre elas, evitar o consumo excessivo de álcool e de tabaco, ter uma alimentação balanceada, buscar aumentar sempre seu leque sensorial e manter-se em aprendizado contínuo, além de continuar a ter foco e curiosidade.

Avaliação do café

O café é avaliado e classificado em duas etapas: classificação física e análise sensorial. No caso dos cafés especiais, faz-se primeiramente a amostragem. “Ela deve ser representativa do lote. Se a amostragem não for bem-feita, a análise e a compra do grão podem ser prejudicadas”, aponta a Q-Grader Camila Arcanjo, que atua no ramo há dez anos. 

Na etapa de classificação física, o grão cru (café verde) é avaliado em uma série de fatores, como definição do produto (arábica ou canéfora), porcentagem de umidade, presença de material estranho, defeitos extrínsecos e intrínsecos, odor, cor, tamanho (peneiras) e porcentagem de defeitos (quebra ou catação).

Depois, parte dessa amostra é torrada para o processo de avaliação sensorial. “Aqui, aproveitamos e avaliamos a quantidade de quackers por 100 gramas de café torrado”, explica Camila. Quackers são os ‘grãos pálidos’ definidos na Classificação Oficial Brasileira (COB). “Essa amostra será avaliada no ponto de torra médio, e a granulometria deve permitir que 70 a 75% do pó de café passe por peneira 20 mesh (quanto maior o número do mesh, mais fino será o pó), entre 8 e, no máximo, 24 horas depois da torra”, detalha a especialista.

Durante a análise sensorial, se o produto for comercial, ele será avaliado em diferentes grupos de bebida: estritamente mole, mole, apenas mole, duro, riado, rio ou riozona. Se o café for especial, os parâmetros avaliados irão definir uma determinada pontuação, que geralmente varia de 60 a 100 pontos. Cafés considerados especiais devem pontuar acima de 80. São analisados nesta etapa aroma/fragrância, sabor, finalização, acidez, balanço (equilíbrio), uniformidade, limpeza (ausência de defeitos), doçura e avaliação pessoal.

Foto: Igor do Vale

Divergências entre avaliações

Um Q-Grader que trabalha para um produtor e um Q-Grader de concursos avaliam o mesmo café de formas diferentes? Para Donieverson, isso depende das condições em que o produto é analisado. “O protocolo padroniza a avaliação e dá respaldo para que o café seja avaliado nas mesmas condições, independentemente do local”, diz ele. No entanto, outros fatores podem colaborar para a divergência de avaliações: a calibragem, a experiência e o leque sensorial de cada provador. 

“A calibragem pode ser um dos fatores que colaboram na divergência. Profissionais descalibrados tendem a avaliar cafés de forma equivocada”, acredita ele. A experiência e o leque sensorial também são pontos que podem contribuir. Donieverson destaca ainda que provadores mais experientes, cuja biblioteca sensorial é bem desenvolvida e que tiveram a possibilidade de avaliar cafés de diferentes regiões e propriedades, são mais coerentes. “O ideal é que, caso haja diferença, ela não seja maior do que 1,5 ponto. Se isso acontecer, é recomendável que o café seja novamente avaliado e, se possível, com mais profissionais envolvidos”.

O Q-Grader na indústria e no campo

Este profissional pode trabalhar em diferentes segmentos do setor, como indústrias, tradings, laboratórios de controle e qualidade, fazendas, cooperativas, associações e, também, de forma autônoma, com a emissão de laudos de qualidade e serviços de consultoria. Na indústria, ele atua em várias etapas, mas principalmente na recepção e checagem de qualidade da matéria-prima. “Por meio de avaliação física e sensorial, ele pode aprovar ou rejeitar um lote de café que foi comprado, ao verificar se a qualidade está de acordo com os parâmetros preestabelecidos em contrato”, explica Donieverson. Outro ponto importante é a definição do produto. “Por meio de avaliação sensorial e checagem de qualidade, o profissional pode chamar atenção sobre pontos em alguma etapa do processo industrial, para melhoria e, também, para fazer a seleção de uma linha de perfis que serão utilizados pela marca, direcionando os pontos de acordo com o público e o mercado consumidor”, completa.

No campo, o Q-Grader tem papel fundamental. É ele que faz a avaliação de todos os lotes de café produzidos na propriedade, por meio de metodologia internacional e respeito aos diferentes parâmetros de análise sensorial padronizados, a fim de que o mesmo produto possa ser avaliado por diferentes profissionais, nas mesmas condições ou o mais próximo possível delas. “Sem dúvida, as propriedades com recurso e estrutura para um laboratório, onde seja possível fazer a análise sensorial de todos os lotes cultivados, têm um diferencial”, aponta Donieverson. Ele acredita que é fundamental ter um profissional certificado para auxiliar na avaliação.

É importante, também, que este profissional esteja calibrado com profissionais da mesma região e de áreas diferentes, que lidam com perfis e processamentos distintos de cafés, para que o “vício sensorial” seja menor. Além disso, é importante que não haja restrição de acesso a diferentes terroirs. “Profissionais que estão sempre provando cafés da mesma região ou propriedade tendem a padronizar a avaliação, e avaliar de forma equivocada diferentes qualidades de cafés de qualidade diferentes”, alerta o profissional.”É fundamental,  sempre que possível, a calibragem e a avaliação de diferentes grãos e regiões”, sugere. Por fim, é interessante que haja na propriedade pelo menos dois profissionais para análise sensorial do café, de modo que se possa discutir pontos convergentes e divergentes quanto à amostra analisada. 

O trabalho do Q-Grader também é relevante na venda do café. “Com a classificação e o laudo, chega-se a um valor comercial estimado para o produto”, ensina Donieverson. Com essa análise em mãos, é possível buscar e aplicar o café em diferentes mercados e empresas de compra e venda, para a obtenção de uma rentabilidade atrativa para o produto”, explica. A classificação, porém, é um respaldo para a qualidade, e não um certificado obrigatório para as empresas de comercialização. Ou seja, a negociação deve acontecer de modo que as duas partes sintam-se satisfeitas.

Texto originalmente publicado na edição #81 da Revista Espresso. Para saber como assinar, clique aqui.

TEXTO Gabriela Kaneto

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Como nasce um novo café

O desenvolvimento de novas cultivares é parte de uma pesquisa contínua e que pode levar décadas. Saiba como é esse trabalho e o que os pesquisadores estão buscando em Campinas (SP) e em Minas Gerais 

Enquanto você toma um gole do seu espresso torra média, de grãos catuaí amarelo da região paulista da Alta Mogiana, dezenas de pessoas estão trabalhando para melhorar os cultivares de café para que produzam mais, sejam mais resistentes a pragas e doenças e tolerem melhor a falta ou o excesso de chuvas e os períodos de frio ou calor intensos. Tudo para que você continue a ter um bom café na xícara. E, claro, para que a cadeia produtiva continue a gerar dinheiro e empregos para muita gente. 

Talvez você não esteja “associando o nome à pessoa”, mas cultivares, grosso modo, são o tipo da planta: o catuaí amarelo já citado, bourbon, mundo novo, catucaí, arara, obatã vermelho… Alguns referem-se a elas como variedade, mas desde o fim dos anos 1990, ficou determinado que a terminologia correta é a cultivar, assim mesmo, no feminino, pois deriva do inglês cultivated variety que, na tradução, significa variedades cultivadas.

O melhoramento de café é a reprodução em laboratório de algo que acontece na natureza: o cruzamento e a seleção de plantas mais aptas. A diferença é que, na natureza, isso geralmente acontece visando a sobrevivência da espécie. Já em laboratório, é possível focar em um objetivo que seja conveniente para nós. No Brasil, essas pesquisas são realizadas em instituições governamentais, como o pioneiro Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que faz melhoramentos desde a década de 1930. O objetivo inicial era aumentar a produtividade na lavoura e desenvolver plantas resistentes à ferrugem, uma doença cruel para o cafeeiro e que, embora tenha chegado ao Brasil na década de 1970, já era investigada de maneira preventiva.

Mas não pense que desenvolver café é como criar uma coleção de moda, em que sai uma nova criação a cada estação. “Leva cerca de 50 anos para termos uma cultivar estável para disseminar em escala”, explica Júlio César Mistro, pesquisador da área de melhoramento genético do IAC. Segundo ele, é preciso, primeiramente, acompanhar oito gerações: o café é uma planta perene, que demora dois anos para ficar adulta e mais quatro produzindo para a coleta de sementes. “Dá para acelerar esse processo e obter menos gerações, por clonagem ou por biologia molecular, mas é importante ter a noção real do tempo”, observa Júlio. 

Foco no campo

Enquanto todos os outros processos do café têm por objetivo o resultado na xícara, no melhoramento o foco está na lavoura. “A resistência à ferrugem, que é devastadora, ainda é muito importante”, comenta César Elias Botelho, pesquisador da área de melhoramento de cafeeiro da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas gerais (Epamig). Outros melhoramentos perseguidos referem-se ao desenvolvimento de plantas mais baixas, que facilitem a colheita, resistentes a pragas (como os nematoides, vermes do solo, e o bicho minerador) e com sistema radicular mais eficiente na captação de água. “Além disso, buscamos por características que diminuam a necessidade do uso de agrotóxicos”, completa César. Há, ainda, desenvolvimentos de cultivares descafeinadas ou com teor menor de cafeína no fruto, além daquelas com frutos maiores, que gerem sementes de peneira maior. E, embora não com a mesma importância, os estudos também buscam por características de qualidade da bebida.

Para o futuro, que já acontece nos laboratórios, uma das linhas de pesquisa é a de cruzamentos com outra espécie de café, a Coffea liberica, cujo sistema radicular, abundante, é capaz de buscar água em camadas mais profundas do solo.  

Cultivares de café (em nomes simplificados) e suas curiosidades

Typica – foi a primeira cultivar a chegar ao país, trazida das ex-Guianas por Francisco de Melo Palheta. Ainda hoje é plantado em alguns estados do Nordeste, como Pernambuco

Bourbon – é uma mutação natural do typica e aparece no Brasil por volta de 1850. Atualmente, é padrão de café de qualidade no mundo

Sumatra – trazido pelo governo brasileiro no fim do século 19

Mundo Novo – foi desenvolvido pelo IAC após ser identificado na região de Urupês (SP), então conhecida como mundo novo, e resulta de um cruzamento espontâneo dos cafés sumatra e bourbon

Icatu – é um híbrido de arábica com canéfora, mais resistente à ferrugem

SH3 catuaí – é imune à ferrugem e tolerante à seca

Tupi – cruzamento com híbrido de timor, que tem canéfora em sua genética e é resistente à ferrugem 

Apoatã – com frutos arábica, é enxertado em robusta para ter resistência a nematoides, que não atacam a raiz dessa cultivar

TEXTO Cintia Marcucci

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Especialistas debatem agricultura regenerativa em reunião da Plataforma Global do Café

Com o intuito de discutir conteúdos técnicos e científicos sobre agricultura regenerativa, a Plataforma Global do Café (GCP) reuniu, pela segunda vez, conhecidos nomes do ramo em encontro virtual, feito em meados de janeiro, pelo YouTube (clique aqui para assistir ao webinar). Ao todo, foram 70 participantes – o encontro é exclusivo para membros da GCP.

Victor Monseff, engenheiro agrônomo e CEO da Ribersolo 3R Lab, debateu a respeito da necessidade de análises de solo que meçam não só parâmetros físico-químicos, mas também biológicos. Já o pesquisador e diretor do Centro de Solos e Recursos Ambientais do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Heitor Cantarella, explicou o uso racional de nitrogênio em café.

Esta 2ª edição do encontro contou, também, com os pesquisadores da Embrapa Guilherme Chaer e Adriano Veiga, que contribuíram com o debate sobre a importância da saúde do solo. A agricultura regenerativa integra o plano estratégico 2030 da Plataforma Global do Café no Brasil. A primeira edição do encontro foi realizada presencialmente em novembro, na Semana Internacional do Café 2023.

Para dar continuidade ao tema, os próximos encontros exclusivos para membros da GCP já têm data: em 21 de fevereiro, no Dia de Campo da Associação dos Cafeicultores de Montanha de Divinolândia (Aprod), e em 4 de abril, em oficina presencial a ser realizada em Campinas (SP).

TEXTO Redação • FOTO Divulgação

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Um contrato com o solo

Agricultura regenerativa, embora não tenha uma definição universal, é a aposta-chave para a recuperação da terra e a produção sustentável de alimentos

“O mundo terá apenas mais 60 colheitas”. A afirmação, atribuída a um funcionário de alto escalão das Nações Unidas, virou manchete em 2014. Oito anos depois, reverberou como título de livro. Alarmante, criticada por não ter base científica ou autoria confirmada, a declaração chamou ainda mais a atenção para um problema fundamental na agricultura: a degradação dos solos e a urgência em recuperá-lo.

A preocupação com o solo não é exagerada. Um estudo com 225 amostragens de solo pelo mundo publicado no periódico Environmental Research Letters em 2020  mostrou que pouco menos de um terço dos solos manejados convencionalmente têm expectativa de vida menor que 200 anos, e 16%, menor que 100 anos. E solos com medidas de conservação, 39% têm expectativa de vida superior a 10 mil anos. “A curta expectativa de vida do solo está generalizada em todo o mundo, incluindo algumas das nações mais ricas”, concluiu o estudo.

Tema recorrente na Semana Internacional do Café 2023, a agricultura regenerativa (AR) é entendida como a chave para a produção sustentável de alimentos. No Brasil cafeeiro, o interesse pelo tema é cada vez maior. Porém, a falta de definição de um conceito compartilhado dificulta a criação de leis, políticas e financiamento público em agricultura regenerativa.

A discussão sobre as delimitações do termo levanta dois pontos importantes: o primeiro é que a AR não se opõe à agricultura convencional, porque mantém alguns aspectos dela (como o uso de insumos químicos).

O segundo ponto é a utilidade de defini-la de modo abrangente, para cada propósito e contexto. É o que vem acontecendo na cafeicultura de qualidade, feita tanto por produtores individuais quanto por empresas que se abastecem do café brasileiro. O objetivo é o mesmo: recuperar e preservar a saúde do solo, equilibrar os ecossistemas, mitigar as mudanças climáticas e promover a resiliência dos sistemas agrícolas.

Murilo Bettarello, da Viaverde, consultoria especializada em sustentabilidade e agricultura regenerativa, explica que o tripé da AR é saúde do solo, insumos locais e substituição parcial de insumos químicos por insumos locais. “Tudo isso aliado a eficiências produtiva e operacional e ao bem-estar das pessoas envolvidas nesse trabalho”, define ele, que é engenheiro agrônomo e produtor de café, soja e milho na fazenda Floresta, região da Alta Mogiana (SP).

“Sustentabilidade é algo maior do que agricultura regenerativa”, pondera Pedro Ronca, gerente no Brasil da Plataforma Global do Café. Segundo ele, as empresas estão tentando formar seu próprio conceito, que inclui um menor impacto da produção, diminuir o uso de insumos ou usá-los de maneira mais racional e promover a matéria orgânica e a biodiversidade do solo. “Uma das questões fortes da agricultura regenerativa hoje, por exemplo, é a produção de bioinsumos para a cafeicultura“, adianta Ronca.

Pós de rocha e drones

Fernando Beloni, sócio-diretor da AgroBeloni, empresa agrícola com várias fazendas em Patrocínio (MG), forjou sua própria definição: “Agricultura regenerativa, para mim, é a busca pelo equilíbrio do solo e da planta, o que traz sustentabilidade a longo prazo”, sustenta.

Fernando Beloni ao lado de plantas de cobertura dispostas na entrelinha de um cafezal – Foto: Divulgação

Em suas fazendas em Alto Paranaíba, Beloni pratica sua agricultura regenerativa há mais de 15 anos. “Diferentemente das outras culturas, o café é uma planta perene, e não é preciso replantá-la todos os anos”, conta.

Ele se refere a um dos fundamentos das práticas regenerativas, que é desestimular o uso de arados no campo. “Arar a terra para o plantio gera desequilíbrio, expondo os micro-organismos à luz e ao calor, matando-os”, explica. “E isso dá lugar àqueles que são mais resistentes, como os nematóides, que são patógenos do café”, completa.

Imagem aérea da Fazenda Santa Cruz, da AgroBeloni, em que aparece a sede, o terreiro e as lavouras – Foto: Divulgação

Beloni também faz uso de plantas de cobertura, que trazem múltiplos efeitos positivos ao solo, e utiliza pós de rocha para corrigi-lo, em lugar de aditivos químicos.

“Os pós de rocha fornecem todos os elementos da tabela periódica”, diz ele. Outras práticas incluem a soltura de inimigos naturais com a ajuda de drones, a compostagem e a complexação do nitrogênio (incorporação de bactérias e matéria orgânica no fertilizante, o que faz com que o nitrogênio, vital para a formação de proteínas na planta, não fique livre no solo e seja liberado gradualmente).

Beloni está expandindo essa conduta não só às suas outras culturas. A Expocacer (maior cooperativa do Cerrado, com 701 cooperados), da qual é presidente, já tem 5,5 mil hectares de cafés certificados para agricultura regenerativa, e parte desses grãos é adquirida pela italiana illycaffè.

Certificação

Regenerar naturalmente o solo, reduzir emissões de carbono, minimizar impactos sobre a biodiversidade e alcançar o equilíbrio entre as pessoas e o ambiente. Estes são os objetivos do modelo agrícola que vem sendo testado pela illycaffé – que há décadas tem a sustentabilidade social, econômica e ambiental como seu modelo de negócio.

E essas práticas agrícolas são definidas de acordo com cada área, pois não há um modelo único que sirva para todas as regiões, nem para todos os tamanhos de fazendas. “Esse modelo garante a saúde do solo e sua regeneração, diminuindo o uso de fertilizantes químicos e aumentando a matéria orgânica, o que preserva a umidade, aumenta a microbiota e deposita o carbono no solo”, explica Aldir Teixeira, diretor da Experimental Agrícola do Brasil/illycaffè. “Nossa meta é atingir 100% de descarbonificação em 2033”, aposta Teixeira.

Cafezal no Cerrado Mineiro, de onde saem os frutos para o Brasile, da illycaffè – Foto: Divulgação

A Regenagri também já certificou cerca de 25 mil hectares de café no Brasil (totalizando onze fazendas individuais, grupos de fazendas e cooperativas). “A avaliação cobre critérios que vão desde o gerenciamento de água e prevenção de poluição até práticas que aumentam a porção de matéria orgânica no solo, gestão de fertilizantes, integração de pecuária etc.”, explica Franco Costantini, CEO da Regenagri. “Implementamos uma abordagem holística e contextualizada, em que cada critério é avaliado de acordo com o local“, define ele.

A agricultura regenerativa não proíbe a utilização de insumos químicos. “O uso de insumos químicos não pode ser totalmente descartado se isso significar queda na produtividade e rentabilidade do agricultor”, alerta Bettarello, referindo-se, particularmente, aos países menos desenvolvidos, como o Quênia ou alguns da América Central. “São países em que o cafeicultor não consegue nem manter seus filhos na escola. Isso não é sustentabilidade”, defende ele.

Para saber mais sobre as principais práticas regenerativas, compre a Revista Espresso #82. Acesse a entrevista de Philip Lymbery, sobre seu novo livro “As últimas colheitas”.

TEXTO Cristiana Couto

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“Os governos devem apoiar práticas agrícolas regenerativas para o café”

É o que acredita o inglês Philip Lymbery, autoridade mundial em meio ambiente, em entrevista exclusiva para a Espresso sobre seu novo livro

Considerado uma autoridade mundial em meio ambiente, o inglês Philip Lymbery acaba de ter sua última obra lançada em português pela nVersos Editora. Em As Últimas Colheitas – A verdade sobre a agricultura intensiva (em inglês, Sixty Harvests Left, referência à fala da ONU), Lymbery, CEO da Compassion in World Farming, aborda realidades e impactos da agricultura intensiva em diversos países.

Embora a preocupação principal de Lymbery seja a produção industrial de animais, sua visão holística discute as práticas da agricultura regenerativa, particularmente aquela que integra o cultivo e a pastagem livre dos animais. Embora não tenha visitado plantações de café, acredita que cafeicultores e consumidores podem se beneficiar das práticas regenerativas e amigáveis à natureza. “O café é uma das bebidas favoritas do mundo. Protegê-lo e, consequentemente, seus produtores é extremamente importante para o futuro”, alerta Lymbery. Confira, a seguir, a entrevista com o autor, feita por e-mail.

A Regulação da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) pode estimular a adoção de práticas de agricultura regenerativa? 

A UE é uma superpotência agroeconômica, e vejo a lei como um grande passo à frente, pois as empresas terão que confirmar que o produto foi produzido em terras não submetidas a desmatamento ou degradação florestal. Essa nova legislação pode ter um impacto significativo para indústrias globalmente importantes, como a do café.

A falta de apoio técnico e financiamento para bioinsumos são alguns problemas a serem enfrentados pelos pequenos cafeicultores, especialmente em países da América Latina. Qual é sua opinião sobre esta questão?

É importante que eles recebam apoio e incentivo para continuar com ou fazer a transição para a agricultura regenerativa e técnicas de produção amigáveis à natureza. Isso deve ser feito garantindo que subsídios governamentais sejam redirecionados para apoiar essas práticas. Da mesma forma, o financiamento privado e a comunidade de investidores precisam desempenhar seu papel, apoiando os que produzem da maneira certa para um futuro regenerativo.

Há um capítulo em seu livro que trata do desmatamento na Amazônia pela soja. Qual é a sua impressão sobre a produção de alimentos no Brasil?

A produção de alimentos no Brasil é variada. Há excelentes produtores regenerativos, mas o Brasil também foi manchado pelo aumento da agricultura industrial, conhecida pelo desmatamento, pelo uso de pesticidas químicos, fertilizantes artificiais e sistemas de confinamento de animais. Infelizmente, o Brasil é um gigante na indústria de criação intensiva de porcos e aves. Animais em fazendas industriais tornam-se uma grande fonte de poluição. Ao mesmo tempo, são alimentados com grãos produzidos de forma intensiva, o que destrói ecossistemas e mina a única coisa de que precisamos para a alimentação no futuro: o solo. Sem solo, sem comida. Fim de jogo. Precisamos de uma mudança urgente da agricultura industrial, prejudicial ao planeta.

Para saber mais, acesse a reportagem sobre agricultura regenerativa. Leia a entrevista completa na Revista Espresso #82.

TEXTO Cristiana Couto • FOTO Divulgação

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Clima favorável aumenta em 5,5% estimativa de produção brasileira em 2024

Em ano de bienalidade positiva, a primeira estimativa de produção de café em 2024 calcula 58,08 milhões de sacas do grão beneficiado. Esse número foi divulgado nesta quinta (18) pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), e prevê um aumento de 5,5% em comparação a 2023.

Nesta safra, a área total de arábicas e canéforas é de 2,25 milhões de hectares (crescimento de 0,8% em relação à safra anterior). A produtividade média nacional também cresce 3%: 30,3 sacas por hectare – sendo 26,7 scs/ha (+2%) de arábica e 44,3 scs/ha (+6,2%) de canéfora. 

Em Minas Gerais, a estimativa é 29,18 milhões de sacas (+0,6% comparado à safra anterior), justificada pelo aumento da área de produção e, principalmente, pela bienalidade positiva, além de melhores condições das lavouras. 

No Espírito Santo, o total estimado é de 15,01 milhões de sacas (+15,4%). A projeção da safra de canéfora é de 11,06 milhões de sacas (+9), e de arábica, em torno de 3,95 milhões de sacas (+38,2%). 

Projeções para os outros estados produtores:

  • São Paulo: 5,40 milhões de sacas (+7,4%)
  • Bahia: 3,61 milhões de sacas (+6,4%)
  • Rondônia: 3,19 milhões de sacas (+5,1%)
  • Paraná: 718,5 mil sacas (estabilidade em relação a 2023)
  • Rio de Janeiro: 339,8 mil sacas (+11%)
  • Goiás: 255,7 mil sacas (+26,7%)
  • Mato Grosso: 263,7 mil sacas (+1,3%)

Em relação ao mercado, o Brasil exportou 39,2 milhões de sacas de 60 kg de café em 2023, redução de 1,3% na comparação a 2022 devido à restrição dos estoques no início do ano, após as adversidades climáticas nas safras 2021 e 2022. Em 2023, o Brasil exportou para 152 países, sendo os Estados Unidos e a Alemanha os principais importadores. No ano passado, as exportações renderam US$ 8,041 bilhões. Confira mais informações sobre as exportações de 2023 aqui.

TEXTO Redação

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Na rota do grão do Cerrado

O recém-lançado roteiro por fazendas e estabelecimentos de café da região mineira mostra que o Brasil tem potencial para o turismo especializado para além de esportes e natureza   

Vivenciar experiências em torno do que comemos e bebemos é sempre prazeroso. O segmento turístico sabe disso, e não é de hoje que roteiros que envolvem degustações, refeições exclusivas e visitas a produtores ou fabricantes são um sucesso. O café é desses produtos cuja riqueza histórica, produção, gente e sabores é um belo filão. E, no Brasil, esse nicho começa a ser explorado.

O exemplo mais recente é a Rota do Café do Cerrado Mineiro, uma parceria de produtores e cooperativas com o Sebrae de Minas Gerais. “Nada supera conhecer o bioma, a história e a realidade local do que você consome, além de fazer crescer toda a cadeia turística da região”, diz Juliano Tarabal, diretor-executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, que espera aproximar o consumidor do produtor com uma das oito opções de visita que dão início ao projeto.

A proposta da Rota, que hoje em dia percorre apenas o município de Patrocínio, é incluir mais cidades e produtores, e se unir a outras opções de turismo de natureza, esportes e gastronomia da região, para atrair cada vez mais pessoas.

O Cerrado Mineiro foi a primeira região a obter, em 2013, a Denominação de Origem (D.O.) para o café. Além de valorizar o modo de fazer e de assegurar a procedência, a D.O. requer comprovação científica de que as condições geográficas do local garantem qualidades específicas a determinado produto ou serviço.

Foi apenas nos anos 1970 que o cultivo começou a ter força comercial no Cerrado. “Meu avô veio pra cá criar ovelhas e, nas imagens de 30 anos atrás, aqui não tinha vegetação, era pasto para gado de leite”, diz Alan Michel, que toca a marca de cafés Alado Coffee, na Fazenda Bela Vista. 

A Fazenda Bela Vista, uma das opções de visita, é uma pequena propriedade familiar no Chapadão do Ferro. Investe em cafés especiais (tem marca Alado Coffee) e, agora, no agriturismo. Além de oferecer uma degustação de cafés e um almoço caseiro na varanda, com vista para toda a região, a fazenda convida a conhecer a plantação de café em sistema de agrofloresta, consorciada ao pomar da família.

Perto dali, a premiada Fazenda Nunes Coffee (ela ganhou o Cup of Excellence com um dos cafés que atingiu maior preço de comercialização no mundo), literalmente abriu a porteira para que muitos outros prêmios chegassem a diversos produtores. Ela também está na Rota do Cerrado e mostra aos visitantes como é o cultivo sombreado da variedade geisha, além de promover um cupping em seu laboratório de testes.

Outra fazenda que participa da Rota é a Santa Cruz da Vargem Grande, uma das propriedades do Grupo AgroBeloni, da família  Montanari. A visita conta com uma experiência de café com música e aperitivos ao pôr do sol, em degustação harmonizada e conduzida pelo barista Maurício Maciel em um platô na Fazenda Rainha da Paz.

Na Fazenda Santa Cruz da Vargem, o visitante é convidado a plantar uma muda de árvore nativa do Cerrado, como o ipê roxo

Complementam a visita às fazendas os menus com café dos restaurantes Adega Traíras e Recanto, a experiência na torrefação Coffee Roaster Porto Feliz e o tour com degustação e miniaula sobre métodos de preparo na cafeteria Dulcerrado, que pertence à Expocacer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado). 

Serviço
www.cerradomineiro.org/rotadocafe
Contato: Poliana Gonçalves (34) 98879-5486

Outras rotas do café

Uma das primeiras rotas do café é o de fazendas centenárias produtoras no Vale do Paraíba Fluminense. Restauradas, essas fazendas, distribuídas por Vassouras, Valença e Paty do Alferes, fazem visitas guiadas e, às vezes, sarau histórico e refeições temáticas.

O turismo alcançou também os produtores de robusta na Região Matas de Rondônia. Quem estreou no negócio foi a família Bento, em Cacoal. “Atualmente, eles recebem de 300 a 400 visitas por fim de semana”, calcula a comunicadora social e especialista em cafés Renata Silva, da Embrapa Rondônia. “O turismo é um dos braços que fomentam a economia local”, garante ela.

Produtora do grão desde a década de 1970, o Planalto da Conquista fez, no fim de 2023, o primeiro teste de sua rota do café, ao mesmo tempo em que constrói o pedido de Denominação de Origem por meio da ASCAP (Associação dos Cafeicultores do Planalto da Conquista).

A ideia da rota é conectar Vitória da Conquista – porta de entrada para a turística Chapada Diamantina – ao município Barra do Choça, maior produtor de café da região. “A ideia é fortalecer a cafeicultura através do turismo”, diz a arquiteta rural Alline Trancoso, especialista nas relações entre origem e café no Planalto da Conquista e responsável pela rota, apoiada pelo Sebrae. 

Entre as opções do passeio, uma parada na fazenda, torrefação e cafeteria Reserva do Vale, em Vitória da Conquista, e na Fazenda Vidigal, da artista plástica e cafeicultora Valéria Vidigal, em Barra do Choça. “Eram visitas isoladas, agora estamos estruturando outras propriedades para receberem os visitantes”, anima-se Alline. “Estamos no caminho para a Chapada, o comprador chega pelo aeroporto e passa direto, sem conhecer o nosso café”, comenta.

No Espírito Santo, finaliza-se outra nova rota, pelas Montanhas. “O roteiro está sendo montado”, conta o produtor Henrique Sloper, da Camocim. “As denominações de origem facilitam o acesso do turista aos cafés de qualidade”, considera. “Elas já dão o caminho do turismo”. 

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TEXTO Cíntia Marcucci (rota do Cerrado) e Cristiana Couto (outras rotas do café) • FOTO Agência Ophelia

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Etiópia lança programa para revitalizar cafeicultura no país

O Governo da Etiópia, em colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), lançou um ambicioso programa de uso da terra para o cultivo do café, dotado de US$ 20,8 milhões.

O projeto faz parte da iniciativa global FOLUR (Food. Land Use. Restoration.), cujo foco é alimentação, uso da terra e restauração. Com um horizonte até 2031, o programa visa revitalizar terras de café não produtivas, gerir florestas essenciais e melhorar a qualidade de vida de aproximadamente 440 mil habitantes em quatro regiões da Etiópia.

A meta é integrar a sustentabilidade no setor cafeeiro, combatendo o desmatamento e promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis.

TEXTO Fonte: Daily Coffee News

Cafezal

ABIC lança guia para impulsionar sustentabilidade na indústria cafeeira brasileira

A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) lançou o Guia ABIC ESG: 5 passos para integrar ações sustentáveis na indústria de café, um documento que orienta as companhias de todos os portes a adotarem medidas sustentáveis. O material é gratuito e está disponível para download no site da entidade.

A sustentabilidade é, atualmente, uma preocupação central de boa parte dos consumidores. Com a pandemia e a crise climática, os clientes estão mais atentos às necessidades do planeta e a como as atitudes individuais podem afetar o mundo. Além disso, o ESG – práticas orientadas para políticas positivas relacionadas ao meio-ambiente, à responsabilidade social e à governança – está conectado a melhorias no processo de gestão e planejamento, estrutura e capacidade de investimento. Assim, a ABIC busca dar força a esse movimento, estimulando as empresas a se adaptarem a essa visão de mundo.

Principais pontos do manual

O manual fornece uma compreensão abrangente e apresenta a prática dos princípios ESG. Ele dá diretrizes claras para produtores, torrefadores, exportadores e todas as partes interessadas, solidificando o compromisso da ABIC com uma indústria do café que não apenas prospera economicamente, mas, também, promove práticas sociais e ambientalmente responsáveis.

Antes de entrar nos cinco passos, o material aponta a diferença entre “ESG” e “sustentabilidade”, reforçando a importância de todos os setores da empresa estarem de acordo com as ações a serem tomadas, estimulando e sensibilizando os colaboradores a adotarem as atitudes sustentáveis no seu dia a dia.

Os passos apontados no texto vão desde atitudes mais simples, como a troca de lâmpadas e a redução do uso de papel, até as mais complexas, como a inclusão de transparência nos processos da companhia.

Rumo à sustentabilidade

Além da elaboração do material, a ABIC auxilia as empresas com diversas iniciativas, como o Programa Cafés Sustentáveis (PCS), que certifica cafés provenientes de fazendas com medidas sustentáveis e incentiva os associados a adotarem boas práticas de produção, bem como a buscarem certificações reconhecidas, como Rainforest, Fairtrade, dentre outras. Em 2023, o PCS teve um crescimento de 24% em relação ao ano anterior, mostrando a crescente adesão da indústria à pauta.

A entidade, ainda, possui o Ecossistema ABIC, criado em parceria com a empresa Cognitivos. É um programa de logística reversa que recebe e dá destinação ambientalmente correta a cápsulas de café e multibebidas usadas de todas as marcas, e pode ser acessado quando o consumidor vai ao mercado fazer as suas compras. Em dois anos, o programa já coletou 3,5 toneladas de cápsulas pós-consumo. O objetivo é reduzir os custos de logística reversa e facilitar a participação de associadas da ABIC, principalmente as pequenas e médias empresas.

TEXTO Redação